17. Necessitada

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Fui até o ateliê com todas as sacolas balançando, morta de raiva por me preocupar com aquele homem indigesto e ele estar me sacaneando. "Deus!! Eu não acredito que caí nessa!!". Enquanto seguia meu caminho pensava em como ele era bom ator, porque sua palidez e a cara de dor me fizeram acreditar. "Insuportável!!!". Cheguei ao ateliê e me sentei à mesa de corte bufando enquanto abria as sacolas com meu almoço.

- Já passou na esquina? - Aislin perguntou já rindo.
- O quê? - Estava com tanta raiva quem nem entendi a piada que eu mesma tinha criado.
- Ihh, papai! E perdeu feio!
- Vai a merda, As! - Xinguei dando a primeira garfada e parecia pedra
- Caralho da moda, hein, Bily!!!! Não lembrar nem da própria piada...Fiiiiuuu - Ela assobiou e foi aí que lembrei

Costumávamos perguntar a Lyz ou Ninah quando estavam mal humoradas se já tinham passado na esquina para verificar o "bicho" que tinha dado. Sorri um pouco, mas não consegui fugir dos olhos curiosos da minha amiga. Contei tudo a ela...até do arrepio!

- Vai me deixar dizer o que eu acho ou vai revirar os olhos? - Revirei os olhos com sua pergunta
- É...já sabe o que penso! - Ela estalou os dedos no meu rosto.
- Não é isso...ele é super gostoso, lindo e tal, mas eu o acho insuportável!!! É só tesão de quem não transa há algum tempo.
- Pode ser... - Olhei feio para minha amiga
- Qual foi, As?? - Afastei meu prato porque perdia a fome - Vai ser clara??
- Você empurrou seu prato de comida??? - Ela arregalou os olhos - Ahhh, papaizinho!!!!!
- Aislin, você sabe da minha vida! Conhece a minha história! Por favor!!! - Abaixei a cabeça nos braços
- Ok, Bily...parei! - Fingiu passar o fecho na boca e depois a abrir - Mas todo mundo já percebeu! Só acho!!
- Caralho! Hoje não está dando aqui!!! - Embolei tudo na sacola e me levantei - Indo!
- Também te amo! - Ergui o dedo do meio para ela e retornei a minha sala.

Para a minha felicidade, Rafael não estava lá ainda. Gabe e Marta estavam chegando para provarmos os novos modelos e eu tinha alguns minutinhos para conversar e marcar um aleatório com meu *PPA Digão. "É isso que preciso! É isso!"

- Oi, Di!
-"Bela Bily...personal hoje?"
- Não, Digão! Já te avisei que quando te chamo de "Di", é aleatório! - Ele gargalhou ao celular
- "Você me chamou dos dois, Bela Bily!! Como saber??" - "Até meu PPA, está me irritando hoje??" Pensei e conclui logo.
- Hoje à noite! Vou até você! Às 20 horas. - Vi com o canto do olho Rafael entrar e ouvir a conversa.
-"Esperando prontamente!"

Desliguei e não queria encarar Rafael. Continuei fingindo olhar alguns papéis na mesa enquanto ele terminava suas medidas intermináveis e logo Gabe e Marta chegaram afoitas e falando ao mesmo tempo, nervosas com o desfile que aconteceria apenas com as meninas do projeto. Era o primeiro e eu estava nervosíssima, mas não poderia deixar transparecer. Isso acabaria com minhas meninas. Soltei uma respiração profunda e isso não passou batido por Rafael. Ele interveio mais uma vez com as meninas. Não sabia se agradecia mentalmente ou se ficava atenta a uma sacanagem em potencial.

- Meninas, podem me dar uma opinião aqui? - Ele chamou Gabe e Marta
- Claro!!! - Gabe foi a primeira a dizer eufórica
- Sim, em que podemos ajudar? - Marta mais comedida se aproximou

Ele ficou alguns minutos conversando algumas coisas que percebi serem táticas para me dar espaço. "É!" Agradeci mentalmente! Nunca a ele, isso já seria demais.

                             ***

O dia do desfile chegou e mesmo tendo ensaiado muito e experimentado diversas vezes todos os modelos da coleção criada especialmente para o projeto, eu não conseguia relaxar. Me tranquei no banheiro para gritar, me tranquei no ateliê para andar de um lado a outro verificando mentalmente se algo estava faltando e por fim me tranquei em minha sala para chorar. Nem todo o sexo durante a semana com Digão conseguiu me acalmar, porquê uma certa pessoa que não queria sempre estava na minha cabeça. Um turbilhão de emoções passavam por mim e nem em mil anos conseguiria explicar tudo!
Estava sentada no sofá de cabeça baixa, deixando as lágrimas rolarem solta, para voltar plena para minhas meninas quando senti mãos quentes em meus ombros e uma voz de trovão atrás de mim:

Vai ter volta!Onde histórias criam vida. Descubra agora