44. Vai ter volta

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Dois dias depois estávamos relaxando no quintal da casa de Hendry, enquanto meu amigo molhava com a mangueira uma Mia muito sorridente e feliz quando a campainha tocou.

- Ronie, amor! Atende por gentileza!
- Essa hora? Quem pode ser? Nem almoçamos!
- Pode ser sua mãe, ela adora fazer isso!
- Não começa, Hendry!
- Ok! Calei! - Hendry fingiu passar o fecho na boca e assim que Ronie se dirigiu pelo corredor do jardim virou para nós e falou sem som: "Mas é verdade!"

Ainda estávamos rindo quando Mia se levantou e correu pelo corredor gritando...Gritando!!!!

- Ninah! Ninah! Ninah!

Eu e Rafael nos levantamos de um pulo. Em dois dias, depois do episódio na praia ela não falou mais nada, só apontou para o quiosque quando voltamos na tarde de ontem. Fomos em direção ao corredor para ver a cena mais linda desse mundo todinho.
Ninah pegando sua irmã no colo e enchendo de beijos enquanto a pequena apertava seu pescoço. Procurei a mão de Rafael e percebi nesse momento que os quatro adultos daquela casa pareciam crianças de tanto que choravam.

- Laços, amor... Você tem razão.

Ninah era a mesma fisicamente de quando  saiu de casa, mas muitas coisas haviam mudado. Ela estava mais amadurecida, serena e sorria muito mais. Ficou o tempo todo com Mia em seu colo até porque a irmã não desgrudou dela nem para almoçar...o que aliás, Ninah fez com maestria ao levar colheradas à sua boquinha pequena. Sentindo que estávamos um pouco sem ação, ela falou:

- Fazem oito meses que estou aqui, sabe...me apaixonei por um lugar e comecei a trabalhar por lá.
- Que bom, fi...Ninah! - Rafael se corrigiu sem graça e Ninah deu a primeira gargalhada acompanhada de Mia que também riu de boca cheia sem saber do quê.
- Tudo bem me chamar de filha! É isso que sou, certo?
- Certo...filha...quer contar que lugar é esse?
- Claro!- Ela se levantou, deu Mia para Hendry pedindo que lavasse sua boquinha e se sentou - Vou contar para vocês!

Ninah começou contando que o primeiro lugar em que ela parou foi ali na Califórnia antes de viajar o mundo e que teve uma conversa séria e cheia de raiva com Hendry - "Aquele filho da puta nunca me disse nada!!!" - Depois de conhecer tudo que ela queria e passar por inúmeras coisas que ela avisou que contaria aos poucos colocava a cabeça no lugar para retornar mais uma vez para a Califórnia e trabalhar na ong que Hendry tinha sugerido tempos antes.

- Ali eu comecei a te entender...mãe! E também a você, pai Rafa! É porque não pense que vou deixar de chamar pai Susano de pai, ok?

Eu e Rafael rimos em meio às lágrimas que caiam copiosamente de nossas faces ao ouvirmos aquelas duas pequenas palavras: Mãe e Pai.

- Eu fui uma menininha muito mimadinha! Você deveria me dar uns tabefes de vez em quando - Ela apontou para mim - ...eu mesma às vezes não queria ficar perto de mim!
- Você mudou tanto, Ninah! - Rafael falou pegando sua mão sem medo.
- Sim, era preciso, pai Rafa! Aquela ong me ensinou tanto em oito meses que é difícil explicar.
- Ninah...- Chamei devagar - ... você pode me chamar mais uma vez...
- De mãe? Sim, mãe!
- Não é a melhor palavra do mundo, Rafa?
- Sim, é!
- Então se preparem, porque estou com inúmeros projetos em mente e vocês vão precisar me ajudar! Vão ouvir muito essas palavras, tanto de mim quanto da minha bebê. Mas que irmã linda eu tenho, hein? Parece até alguém que eu conheço!
- Isso quer dizer que...
- Vai ter volta!!!

                       FIM

Vai ter volta!Onde histórias criam vida. Descubra agora