A NERD

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Era mais um daqueles dias tediosos em que eu me encontrava embaixo da amendoeira com um hambúrguer cheio de catchup e maionese, 500 ml de coca cola e um saco de batatas chips, meus fones de ouvido e  mais três livros que tinha pego na biblioteca, no intervalo entre as aulas almoçando...sozinha.
O Ensino Médio era uma verdadeira merda! Estava ali há um ano, nenhuma amizade, vários apelidos e uma vontade imensa de sair correndo. Estava cansada de ser a "gorduchinha", "saco de areia" "quatro olhos", "sorriso com grade", "nerd" e outros tantos adjetivos que  eu nem sabia. Até que ele apareceu e os meus dias tediosos se tornaram claros.

- Oi? Anne não é? - Aqueles olhos escuros me mediram
- I-isso! -  Arranquei os fones, pisquei balançando a cabeça e passando a mão engordurada à frente do rosto - "Talvez tenha exagerado na comida e estava tendo uma visão?" "O que esse Deus grego estilo bad boy quer comigo??" - C-como sabe meu nome?
- Todo mundo sabe, gatinha! Você estuda demais! - Ele arqueou as sobrancelhas
- Gatinha? Onde? - Eu não gostava muito de gatos e também não era uma "gatinha" no sentido figurado, então..."Era sonho! Preciso acordar!" - Estalei os dedos na frente do rosto.
- Você é engraçada - Ele riu um pouco e baixo com a mão na boca
- Ah! O mais novo adjetivo! Nada mal para esse... - Coloquei meus fones novamente e voltei ao meu hambúrguer.
- Ei! - Ele retirou meus fones - Não podemos conversar? Ando te observando há algum tempo...
- Porquê?? - Arregalei os olhos e olhei para o céu. "Preciso aguentar mais dois anos e meio nesse lugar, Deus! Me ajuda aí!"
- Você é interessante para mim, misteriosa...

Eu era uma boba que acreditava em contos de fadas... vocês já conseguem imaginar o resto? Ainda não? É clichê, mas vou contar mesmo assim!

Júnior me ganhou em 10 minutos de conversa fiada! No final do dia estava sorrindo feito uma hiena, apaixonadíssima pelo careca rebelde dos olhos escuros, no final da semana trocávamos juras de amor, no final do mês éramos namorados e no final do ano... eu fui sua.
Ele me levou ao baile de formatura, a dele, quero dizer, pois era seu último ano e de quatro pneus arriados não titubeei quando ele me levou ao quarto de motel e me pediu "A" prova de amor.
É, pessoal! Fui ingênua, boba, burra mesmo, porque do dia seguinte em diante, nunca mais o vi! Bom, eu avisei que era clichê, não me culpem se não entenderam quando disse lá em cima!
Humilhada e com ainda mais apelidos, agora não tão amistosos quanto os antigos, tive uma conversa séria com meus pais e implorei para sair daquele colégio. Minha mãe, defensora e amiga não só me trocou de escola, como mudamos de país!

Vai ter volta!Onde histórias criam vida. Descubra agora