39. Verdade

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Tudo escureceu a minha volta e a partir daí todas as memórias voltaram com força. Me senti gritando várias vezes  NÃO! Quando comecei a ouvir a voz de Rafael longe me dizendo para acordar logo que já estava preocupado.

- NÃÃÃÃOOOO!!!! - Pulei no sofá e senti uma dor aguda na barriga.
- Calma, Baixinha! Estou aqui! Todos estamos.
- Me diz seu nome! Me diz seu nome inteiro Rafael! - "Eu ainda não conseguia acreditar, eu precisava saber!"
- Mas você já sabe, meu amor!
- Me fala pôrra!!!!!
- Ok, está bem! Rafael Susano Navarone Onur - E então Bruna e Humberto em uníssono finalizaram com a palavra que não queria ouvir
- "Júnior!!!!"
- Ele nunca gostou! - Bruna gargalhou e seu noivo acompanhou
- Podes crer, né não, Onur Júnior!
- Parem, pelo amor de Deus!!!!!! - Me vi berrando e encarei vários olhos assustados.
- Ô drama! Meu Deus! - Ninah resmungou e paralisei.
- Me deixem sozinha com o Rafael, por favor! - Pedi a todos e senti Rafael se retesar.

Após todos saírem, Rafael se levantou e começou a andar de um lado para o outro nervoso. Senti mais uma pontada aguda em minha barriga e assobiei de dor. Rafael me encarou e correu até o sofá onde ainda estava sentada.

- O que foi baixinha? Está tudo bem e...
- Está tudo bem Rafael... - Não segurei mais as lágrimas - Você sabe! Você sempre soube... Você...
- Eu desconfiava, mas a verdade de tudo não tenho meio de provar! Eu queria te contar, baixinha, eu juro que queria, mas...
- Você me enganou esse tempo todo! Como você pôde??? Porquê mais uma vez... - Ele me cortou
- Quando cheguei nesta família eu nem sequer desconfiava, mas as coincidências foram muitas...eu fui um moleque naquele tempo, baixinha! Eu não me orgulho! Mas não tinha como saber que a nerd da minha adolescência era sua irmã e mãe de Ninah...
- O- o quê? - "Então ele pensa que..."
- Me perdoe, por favor!!! Eu fui um idiota! Eu não sabia que ela havia ficado grávida! Eu nem sequer sabia seu sobrenome, nem quem eram seu familiares ou onde morava...
- Rafael...- Ele não me deixou falar e continuou atropelando as palavras
- Amabily, jamais gostaria que fosse eu a trazer a tragédia para essa família tão feliz! Mas nem mesmo agora sei de fato o que aconteceu e...
- RAFAEL!!!! - Gritei para que ele parasse - Chame Humberto!
- O quê?? Mas, porquê? Eu estou aqui te dizendo que...
- Chame o Humberto, pôrra!!!!!!

Ele saiu apressado para chamar o amigo e enquanto ele não voltava me contorcia de dor no sofá e parecia sufocar ainda mais com aquilo tudo. Como eu não percebi? Eu sabia que tinha que levar a sério minhas paranóias, mas todos me diziam que não!

- Estou aqui, Amabily! - Humberto chegou junto com um Rafael lívido.
- Você tem boa memória não? - Me levantei do sofá e fui até ele - Me diga: qual foi a música que você e um amigo dançaram na formatura que se tornou um sucesso na escola?
- Essa é fácil! "Hey ya"! Dançamos muito, lembra, cara? - Ele cutucou Rafael que parecia começar a entender onde eu queria chegar. - Mas porquê? A Anne comentava isso com você e...
- Ela era muito pequena para lembrar, Beto... - A ficha de Rafael finalmente caiu - ...E eu achando que estava escondendo algo sério...
- É...Júnior...eu te amei...Pôrra! Como o Hendry sempre acerta? - Lembrei mais uma vez do meu amigo e suas palavras.
- Mano! Eu sabia que era ela!!! Eu falei e... - Humberto também se ligou
- Nos deixe sozinhos, cara! - Rafael pediu e Humberto saiu para o jardim.
- Amabily...como??
- Precisava refazer minha vida! Troquei legalmente de nome e a mentira toda se formou. - Me afastei de Rafael e senti mais uma pontada.
- Então... Você é a mãe de Ninah!
- E você o paaaaiiiiii pooooorraaaa! - Me curvei de dor e vi minha calça lavar de sangue em segundos
- Baixinha!!!!! - Rafael me enlaçou pela cintura e gritou por nossas irmãs -  Brunaaa, Lyzzzzzz!!! Chamem uma ambulância agora!!!!

E mais uma vez tudo escureceu...

                             ***

Abri meus olhos e aquela luz fluorescente me cegou. Queria falar mas minha garganta estava seca. Balbuciei.

- meu...
- Puta que pariu, ela está acordando! - Ouvi a voz de Rafael
- bebê...
- Pegue água, Lyz! - Ouvi mais uma vez
- Carinha...
- Estou aqui, irmã!

Rafael me levantou com cuidado para que Lyz pudesse me dar a água com um canudinho. Ele tinha olheiras e minha irmã não estava diferente.

- Há quanto...
- Não se esforce, baixinha! Está tudo bem!
- Tempo...
- Três dias, irmã! E ninguém arredou o pé daquela sala de espera...até mesmo Ninah!
- Meu bebê... - Rafael olhou para Lyz e esperei pelo pior.
- Está tudo bem! Ele ainda está aí guardadinho, só precisamos monitorá-lo e por isso ainda está aqui.
- P-por-quê?
- Porque, segundo os médicos, foi um choque e você se negou a tê-lo, irmã! Essa sua mania de ser a fodona, né? - Lyz tentou gracejar.
- Acredite, baixinha...está tudo bem com nosso bebê.
- Nosso...

Olhei para Rafael enquanto ele me olhava fixamente, talvez lembrando o mesmo que eu e algumas lágrimas caíram

- Me perdoe, Anne! Me perdoe para que Amabily possa me amar como eu a amo tanto! Acho que estávamos escritos na folhinha de Deus para ficarmos juntos! Você me perdoa?

Chorei mais. Muito mais! Chorei por tudo que vivi, por toda mentira que contei, pelo tanto que fui dura comigo mesma. Mas como não perdoar esse homem? Como não amá-lo? Como não pensar em passar o resto da minha vida com ele?

- Eu...caso...com você!

Enquanto Lyz, mesmo emocionada, fazia aquela dancinha característica. Rafael me abraçava e repetia o quanto me amava. Ficamos assim por um tempo, até que D. Evandra, com toda sua efusividade entrou no quarto!

- Vamos acabar com esse namorico aí, pessoinhas! Tem uma pá de gente lá fora preocupada e querendo entrar!
- Minha...vida!
- Você quietinha! Só vai sorrir e balançar a cabeça para não estragar o suborno!
- Suborno?? - Lyz perguntou já rindo.
- Shiu! Carinha de mamãe! Ninguém mais precisa saber!

Minha mãe veio até a cama, me acariciou, beijou minha testa e visivelmente emocionada, me mandou ficar em silêncio enquanto chamava um por um, quem estava lá fora.
Rafael e Lyz saíram para dar vez a Susano e Vô Antônio, seguidos de Aislin e Vince, Murilo e Hendry, Humberto e Bruna, Ane e Lorelay.

- Cadê...
- Esteve aqui até saber que você acordou e estava tudo bem. - Rafael me falou após todos terem saído. Ninah foi a única que não apareceu.
- Filha...
- Nossa filha! - Ele sorriu - Teremos trabalho, baixinha...mas vamos conseguir.
- Ela... - arranhei a garganta - ...sabe?
- Ainda não. Isso é trabalho nosso! Mas agora vamos focar em sair daqui!
- Rafael...
- Estou aqui, meu amor!
- Eu...sempre...te amei.

Vai ter volta!Onde histórias criam vida. Descubra agora