Capítulo 7 - Oliver

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Estava em meu escritório, tratando de negócios com um dos funcionários da minha agência, quando a babá dos meus filhos, Sofia, bateu a porta e entrou.

Com uma das mãos, acenei para que ela se sentasse na poltrona em frente à minha mesa:

― Tudo bem Bruno, na próxima semana eu terei que ir a São Paulo, um cliente quer que eu o atenda pessoalmente, poderei resolver este assunto enquanto estiver por lá. –Dizia.

Com o canto do olho, observei que Sofia analisava meu escritório, prestando atenção a cada detalhe. Seus longos cabelos castanhos estavam amarrados em um rabo de cavalo, que balançava delicadamente de um lado para o outro quando ela virava a cabeça. Sua pele era branca como a neve e talvez por ter ficado exposta muito tempo ao sol, suas bochechas estavam coradas.

― Tudo bem, terei que desligar agora, mas voltarei a lhe telefonar assim que possível, está bem? –Disse, notando a impaciência de Sofia.

Depois de desligar meu celular, o coloquei sobre a mesa, voltando meu olhar para ela:

― Em que posso ajudá-la, senhorita Montenegro? –Por algum motivo, ela parecia ter ficado surpresa por eu ter lembrado seu sobrenome– É algo relacionado ao trabalho? –Juntei minhas mãos sobre a mesa, tentando descobrir o que ela tinha para me dizer.

― Na verdade, é sobre o seu filho. –Ela disse me olhando. Seus olhos tinham a cor de avelã.

― Estevan fez alguma coisa? –Disse sério. Era inadmissível que um filho meu tratasse um empregado com falta de respeito.

― Não, seu filho é um ótimo garoto. O fato, é que ele ficou bastante decepcionado, porque o senhor não apareceu no jogo dele hoje. –Ela explicou.

― Acabei tendo umas pendências do trabalho que não poderia deixar para depois, por isso não fui ao jogo. –Respondi, sabendo onde ela queria chegar com tudo aquilo- Era só isso o que tinha para falar? Se puder me dar licença, ainda tenho muito trabalho a fazer...

― Não, não era só isso o que eu tinha para dizer –Sofia alterou a voz para mim e eu a olhei completamente incrédulo, não esperava que ela fosse reagir assim, até porque, momentos atrás eu a havia tratado muito bem- O senhor faz ideia do quanto era importante para o seu filho você estar neste jogo? Poxa, o senhor já viu todos aqueles troféus que ele tem no quarto? O senhor deveria priorizar seus filhos ao invés do trabalho! –Ela se levantou da poltrona, e eu lhe lancei um olhar penetrante, as coisas que ela estava me dizendo... quem ela pensava que era?

― Quem você pensa que é para me dizer como eu devo ou não criar meus filhos? –Me levantei de minha poltrona, me apoiando sobre a mesa, àquela altura, já estava completamente fora de mim.

― O senhor tem razão, eu não sou ninguém e sei que não tenho nenhum direito de opinar em relação a isso. –Nos encaramos. Mesmo que parecesse estar intimidada por mim, ela não tirava seus olhos dos meus- O que sei, é que o senhor tem dois filhos maravilhosos, que mereciam um pouco mais da sua atenção.

― Esta demitida –Disse, deslizando uma das minhas mãos por meus cabelos, voltando a me sentar em minha poltrona.

Seu rosto se tornou um misto de incredulidade ao ouvir aquelas palavras. Não poderia permitir que uma pessoa que pensa que sabe como criar meus filhos me desacatasse, eu era o pai delas e sabia muito bem como criá-las:

― Passe amanhã em um escritório do RH para acertar suas contas. –A ignorei completamente, voltando a trabalhar em meu computador. Ela me olhou por mais alguns instantes, talvez esperando que eu fosse mudar de ideia, mas logo se retirou da sala.

Quando a porta se fechou, soquei minha mesa com força, aquela garota havia me tirado completamente do sério. As coisas que ela havia me dito haviam me ferido profundamente, quem era ela para me julgar? Só Deus sabia o quanto eu trabalhava para poder dar uma vida confortável aos meus filhos, tudo o que eu fazia era para eles.

Ainda tentava controlar minha respiração, quando Estevan entrou em meu escritório:

― O que você fez com a Sofia? –Ele me encarava.

― Não aconteceu nada, ela só não irá mais trabalhar conosco.

― Como você pode ser tão malvado? –Ele me encarou com os olhos marejados- Ela só estava querendo me ajudar, não percebe isso? –Ele alterou a voz.

― Não fale assim comigo Estevan, eu sou seu pai! –Esbravejei.

― A Sofia foi a melhor coisa que já nos aconteceu depois de muito tempo, em uma semana ela conseguiu dar mais atenção para mim e a Elena, do que o senhor em toda uma vida!

― Estevan, não vou admitir que continue a falar assim comigo! –Disse furioso.

― Quer saber, não culpo a mamãe por ter te largado, não faço ideia do que ela passou ao seu lado! –Ele balançou a cabeça me olhando com desprezo e saiu correndo da sala.

― Estevan, volte aqui! –Tentei ir atrás dele, mas ele entrou em seu quarto trancando a porta.

― Se você soubesse meu filho... –Sussurrei, o ouvindo chorar por detrás da porta.

Depois da minha discussão com Estevan, achei melhor passar o dia em meu quarto. Não queria brigar com meu filho, muito menos contar a ele o real motivo de sua mãe e eu termos nos separado.

Até Sofia me abrir os olhos, não havia parado para pensar no quanto estava sendo um pai ausente. Antes de tudo isso acontecer, as coisas pareciam estar indo bem, meus filhos nunca haviam reclamado do fato de eu estar sempre viajando ou será que eu nunca lhes dei a oportunidade que precisavam para que dissessem o que estavam sentindo?

A forma como Sofia me enfrentou, ninguém nunca havia falado comigo daquele jeito antes, nem mesmo meus pais. Ela era tão jovem, mas ao mesmo tempo tão segura de si.

Suas palavras insistiam em vagar por minha mente. Fantasmas do passado voltaram a me assombrar e eu senti como se mais uma vez tivesse feito tudo errado outra vez.

Na manhã seguinte, fui para a minha agência o mais cedo que pude. Não me sentia bem ficando em casa. E enquanto tentava ocupar minha mente com o trabalho, não havia conseguido tirar Sofia da minha cabeça.

Havia passado a noite toda pensando nela e em como havia sido injusto quando a demiti. Ela só estava querendo ajudar Estevan, estava tentando abrir meus olhos, mas meu orgulho não deixou que eu a ouvisse.

Larguei tudo que estava fazendo e saí de minha sala:

― Luíza, cancele todas as minhas reuniões, terei que sair –Disse à minha secretária.

― Aconteceu alguma coisa senhor, Oliver? –Ela me olhou atentamente.

― Tenho que corrigir um erro. –Disse, saindo às pressas.

Quando entrei nocarro, dei uma conferida rápida no relógio que estava em meu pulso. Secorresse, conseguiria chegar a faculdade antes de a última aula acabar.

A Babá dos meus FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora