Capítulo 1 - Sofia

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Já havia tomado duas garrafinhas de água mineral e ainda assim, o suor insistia em correr incansavelmente por meu rosto. Já estava a mais de duas horas percorrendo as ruas do Rio de Janeiro em busca de emprego e sob o calor de 40º graus, cheguei a perder as contas de quantos currículos deixei. O sol estava escaldante e me arrependi por não ter passado protetor solar na minha pele quando sai de casa pela manhã, provavelmente mais tarde, se tornaria impossível me distinguir de um camarão.

Mais tarde, enquanto voltava para casa, frustrada por não ter conseguido nada, meu olhar divagou para a rua ao lado e me peguei observando algumas pessoas que estavam sentadas em uma sorveteria, se refrescando com Sundaes deliciosos. Sim, eu poderia ter parado para tomar um, mas enquanto não conseguisse emprego, eu não poderia me render a esse luxo.

Estava desempregada a quase um mês e apesar de não ganhar muito como vendedora em uma loja de roupas, eu conseguia me manter e também pagar minha faculdade de Psicologia, mas se não conseguisse um emprego até a próxima mensalidade chegar, eu seria forçada a trancá-la e de maneira alguma eu queria ver as coisas chegarem a esse ponto.

Eu havia me mudado para o Rio de Janeiro exatamente no começo do ano. Havia conseguido ganhar uma bolsa de estudos de 50% na PUC e não poderia perder a oportunidade que havia recebido de ingressar em uma ótima faculdade. Admito que a princípio não foi fácil deixar minha família em Goiânia e ter que me mudar para tão longe, mas acho que me adaptei bem.

Assim que cheguei, aluguei uma casinha simples, bem distante do centro da cidade, tão distante que para chegar até a faculdade, precisava pegar três ônibus diferentes. O problema é que o aluguel já estava atrasado a um mês e a qualquer momento, o dono da casa poderia me colocar no olho da rua.

Cheguei em casa por volta das cinco horas da tarde, depois de ter pego dois ônibus diferentes. A casa em que morava era bem simples, era murada, com um portão de grades que levava a uma pequena varanda na frente, com alguns vasos de flores que já estavam ali quando me mudei, possuía uma sala, cozinha, um banheiro, um quarto e um jardim no fundo, era toda mobiliada e apesar de os móveis já estarem um pouco velhos e de vez em quando eu tomar alguns choques acidentais na geladeira que já estava toda enferrujada ou ficar presa nas enormes crateras que havia no estofado do sofá, eu gostava de estar ali.

No fim da tarde, tinha o costume de me sentar na varanda da frente e ficar olhando as estrelas no céu, o que só era possível ali, já que no centro, a vista era impossibilitada pelos grandes prédios.

Depois de destrancar a porta, deixei minha bolsa sobre a estante, bem ao lado da televisão e me joguei no sofá. Minha cabeça latejava e minhas pernas doíam tanto que parecia que eu havia acabado de correr uma maratona.

Cuidadosamente tirei minhas botas e mexi os dedos dos meus pés para me certificar de que eles ainda estavam inteiros. Estendi minha mão e apanhei minha bolsa, procurando por um dorflex, com um pouco de água que ainda restava na garrafa mineral, tomei um comprimido.

Apanhei meu celular e notei que haviam oito chamadas perdidas, era Vanessa, minha melhor amiga. Toquei na tela ligando para ela:

― Finalmente Sofia, pensei que tivesse sido assaltada! Liguei para você o dia todo! Onde estava? -Disse preocupada.

― Oi Vanessa, me desculpe, passei o dia inteiro fora procurando emprego, só cheguei em casa agora. –Ao falar, apresentei estar mais exausta do que o normal.

― Alguma boa notícia?

― Na verdade não, deixei um currículo em todos os lugares pelos quais passei, mas não acho que nenhuma das empresas que visitei vai me telefonar. Estou tão preocupada, não quero ter que trancar a faculdade. -Respondi sentindo toda a minha esperança se esvair.

― Sofia, já lhe disse que se quiser meu pai pode te ajudar. –O pai de Vanessa era banqueiro e sua mãe era advogada, eles tinham boas condições de vida e apesar do grande abismo social que havia entre nós, isso nunca foi um empecilho na nossa amizade.

― Sério Vanessa, agradeço demais o que você está me oferecendo, mas não posso aceitar, sou muito orgulhosa para desistir tão fácil assim, amanhã mesmo vou aproveitar que não temos aula na faculdade e vou sair bem cedo para procurar emprego.

― Queria tanto poder te ajudar... -Ela parecia se sentir impotente do outro lado da linha.

― Eu sei, mas não se preocupe, sei que vou conseguir encontrar algo.

― Você já visitou algumas daquelas agências que te ajudam a encontrar emprego? Geralmente surgem vagas como de assistente pessoal, babá.... Essas coisas. Sei que você queria algo melhor, mas quem sabe. -Uma pontinha de esperança pareceu ressurgir dentro de mim.

― Amiga, na situação em que estou, qualquer coisa que aparecer vai ser muito bem-vinda.

Pensei no conselho de Vanessa e depois de algumas buscas na internet, encontrei uma dessas agências no centro da cidade, teria de enfrentar outra maratona e um transporte público lotado, provavelmente pela noite meus pés me matariam, mas agora eu estava mais confiante do que nunca, era como se sentisse que dessa vez minha caminhada não seria em vão.

Enquanto pesquisava no notebook, deitada em minha cama, acabei sendo vencida pelo cansaço e adormeci antes que percebesse.

A Babá dos meus FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora