Capítulo 20 - Sofia

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Já haviam se passado uma semana desde a última conversa que tive com Oliver, e minha rotina ainda era a mesma, eu ia para a faculdade, depois ia para a casa dos Beaumont, cuidava das crianças e depois voltava para casa, um ciclo sem fim, exceto pelo fato de eu e Oliver nos tratarmos como dois estranhos.

Cada vez que nos víamos, era como se dois estranhos estivessem se vendo pela primeira vez e aquilo estava sendo agonizante para mim.

Ter que dar um fim a tudo aquilo foi difícil para mim, apesar de eu saber que era a coisa certa a se fazer. Mas bem no meu interior, ainda existia uma certa dúvida em relação a minha decisão. Apesar de minha mente dizer que não queria mais estar com Oliver Beaumont, meu corpo provava o contrário, e eu sabia qual dos dois estava sendo verdadeiro.

Percebi que ele voltou a passar mais tempo fora de casa, as crianças reclamavam que ele chegava tarde e nem passava mais tanto tempo com elas, mas eu sabia que o motivo de tudo aquilo era eu, afinal, se ele ficasse em casa, ou com seus filhos, mais cedo, ou mais tarde nós dois iriamos acabar nos encontrando e eu tenho certeza de que ele não iria querer passar por isso.

Me doeu também notar que ele estava se tornando o mesmo homem sério e arredio que havia conhecido quando vim trabalhar em sua casa, um homem totalmente diferente do Oliver brincalhão e carinhoso que havia conhecido à alguns dias:

― Sofia, será que depois você pode me ensinar a fazer tranças no meu cabelo? –Elena perguntou, me arrancando dos meus pensamentos, enquanto voltava com ela e o irmão das suas atividades da tarde.

― Claro que te ensino!

Já não bastava a situação ruim que vinha enfrentando com Oliver, a faculdade também havia resolvido se rebelar contra mim, eu estava me afundando em um mar de trabalhos e novos conteúdos que não pareciam ter fim, o que resultava em noites mal dormidas e uma péssima alimentação.

Quando o motorista estacionou o carro, percebi que a BMW preta de Oliver também já se encontrava estacionada na garagem da casa.

Desci com Estevan e com Elena e fui com eles para a cozinha, onde dona Ana preparou um sanduíche para os dois:

― Quer que eu prepare um para você também, Sofia? –Dona Ana perguntou- Você parece tão abatida.

― Não precisa, obrigada, eu só estou cansada. –Disse olhando de relance para ela.

― O que está acontecendo com você? –Ela me pressionou, tomando cuidado para as crianças não ouvirem nossa conversa- Você está tão triste de uns dias para cá e eu notei que você e o senhor Oliver não tem conversado muito, vocês dois tiveram alguma discussão?

Senti minha respiração se descontrolar. Estava tão na cara assim o que estava acontecendo?

― Há... Não... Por que nós dois brigaríamos? –Gaguejei.

― Eu não sei, me diga você. –Dona Ana me olhou séria e eu juro que não consegui decifrar ao que ela se referia. Por sorte, antes que ela pudesse dar continuação aquele assunto, Elena nos interrompeu:

― Sofia, será que você pode me ensinar a fazer tranças agora? –Ela levantou seus olhinhos para mim.

― Claro! Vamos até seu quarto. –Disse pegando em sua mão- Estevan, daqui a pouco te ajudo com o seu dever, está bem? –Disse a ele, que vinha mexendo em seu celular com mais frequência do que o normal.

― Está bem. –Ele disse sem tirar os olhos do aparelho.

Vi que dona Ana ainda me olhou por alguns segundos, mas logo depois voltou aos seus afazeres e eu rezei para que ela tivesse esquecido aquele assunto de uma vez por todas.

Enquanto caminhávamos em direção ao seu quarto, Elena ia dando pequenos pulinhos, enquanto cantarolava uma música que eu não conhecia:

― Sofia, será que eu posso ir ao banheiro primeiro? Eu estou apertada! –Ela disse, mudando sua expressão de repente e eu apenas sorri.

― Vai lá, vou te esperar no seu quarto. –Disse, caminhando até seu quarto, enquanto ela retornava um pouco atrás para ir até o banheiro.

Enquanto a esperava, notei que no fim do corredor, a porta do escritório de Oliver estava entreaberta. Com mais alguns passos à frente, consegui ouvi-lo conversar com alguém ao telefone:

― Olá, Estella, já faz um bom tempo desde a última vez que nos vimos... Claro, como eu poderia me esquecer?... Tudo bem, eu vou tentar leva-la, acho que vocês duas iriam se dar muito bem... Seria incrível nós três juntos... Não se preocupe, estarei ai Sábado à noite. Não perderia este encontro por nada...

Estella? Três pessoas juntas? Encontro no Sábado à noite? Minha cabeça começou a rodar com todas aquelas informações e eu tive uma vontade enorme de chorar. Eu sabia que Oliver era um homem livre e que não existia nada entre nós, muito menos que ele me devia alguma explicação, mas ouvi-lo marcando um encontro com não só uma, mas com duas mulheres foi tão ruim quanto levar um soco no estômago:

― Sofia, podemos ir agora? –Elena me cutucou e eu tentei me recompor daquela situação o mais rápido possível.

― Claro Elena, vamos lá! -Disse, forçando um sorriso.

Enquanto trançava seus longos cabelos loiros, percebi que tentar não pensar no que havia acabado de ouvir não estava funcionando e depois que ajudei Estevan a terminar a sua tarefa, inventei para dona Ana que não estava me sentindo muito bem. Pela minha cara acho que ela acreditou e sem questionar, apenas me liberou.

Fui para casa e quando cheguei lá, a única coisa que consegui fazer foi chorar:

― Você tem certeza de que ouviu isso, Sofia? –Vanessa perguntou injuriada do outro lado da linha, depois de eu lhe contar o que havia ouvido Oliver falar ao celular.

― Sim, Vanessa! Eu sei o que eu ouvi! -Lágrimas rolavam sem parar por meu rosto- Uma vez ele me disse que o que sentia por mim era diferente, que era algo novo para ele e agora, menos de uma semana depois ele vai me demostrar esse sentimento saindo com duas mulheres ao mesmo tempo?

― Era disso que eu tinha medo, Sofia, que você sofresse esse tipo de decepção. Eu sinto tanto amiga. –Vanessa tentava me consolar.

― Eu não deveria ter ido para a cama com ele, talvez assim, eu não tivesse me apegado tanto a ele e agora não estaria chorando como uma idiota.

― Não fica assim, Sofi. Esse cara não merece suas lágrimas, você tem que reerguer, entende?

― Eu não vou conseguir me reerguer nunca se continuar naquela casa. –Disse convicta da minha decisão.

― O que você está querendo dizer com isso?

― Amanhã mesmo vou pedir demissão da casa de Oliver Beaumont.

A Babá dos meus FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora