Capitulo 2

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[...]

– Gostou do presente?! – meu pai perguntou sorridente e beijou minha testa enquanto eu estava sentada na bancada, comendo brigadeiro.

– Quando a esmola é muita o santo desconfia né?! – falei entretida com o doce. Sem dar muita importância para a sua presença. Eu sabia que isso o chateava, mas era a única defesa que eu tinha e por dentro eu queria ‘castigá-lo’.

– Pequena – suspirou – já faz dois anos, está mais do que na hora de você voltar à vida normal. – comentou acariciando meus cabelos – Sair com os amigos, encontrar um garoto que mantenha você virgem até o casamento...

– Sei... – apertei meu lábio, rindo incrédula da sua ultima sugestão.

– Estou falando sério! – resmungou me repreendendo – Faz tanto tempo que não a vejo sorrir... Quero que se divirta. Que seja uma garota como qualquer outra da sua idade...

– Vocês tiraram essa vontade de mim! – falei relutante – Não vai ser um notebook que vai me fazer viver como antes, nem o bando de filhas das amigas da Eva. Você melhor do que ninguém sabe que nunca fui parecida com ela, muito menos com o que ela queria que eu fosse. É ridículo tentar me fazer mudar novamente. – expliquei e segui de volta para o quarto. Sem deixa-lo responder e começar uma guerra novamente, onde ele iria pela milionésima vez tentar me explicar o porque de ter me separado do Lu e sinceramente eu já tinha tudo decorado de tanto ouvir.

Me tranquei no quarto e fiquei observando o presente em cima da mesinha. Desejei com todas as forças encontra-lo através dele. Queria ao menos saber se ele está bem, se seu rosto mudou muito, se está morando aqui perto... Mesmo correndo o risco de saber que está com outra, que desistiu de nós, que me esqueceu. Por que no fundo eu esperava que não.

 Pensar nessas possibilidades doía, machucava ao ponto de me faltar o ar, mas essa agonia e incerteza faziam dos meus dias vazios e cheios de duvidas. Depois de alguns minutos lembrando nitidamente dos seus traços. Imaginando tocar seu rosto novamente, tomei coragem e liguei o mesmo.

Após conectar a internet, entrei em várias redes sociais, abri contas e comecei a procurar. Passei a tarde e a noite varrendo todos os perfis junto com o Júnior. Mas chegamos à conclusão que talvez ele não tivesse nenhuma conta.

Foi decepcionante, eu sei, mas eu tinha que respirar fundo e tentar não pensar muito pra não desistir, nem se decepcionar mais.

[...]

 – Júlia, se arrume e desça! Nós vamos jantar fora! – minha mãe disse com a cabeça entre a porta.

– Aonde? – perguntei sem animo.

– Casa dos Carvalho. Anda logo! – disse apressada e saiu.

O Júnior bufou entediado, mas para pelo menos não seria tão mal. Luciano Carvalho é um dos sócios do meu pai e pai do Igor. Nós já estudamos juntos e é uma das poucas pessoas com que eu falo, além da minha família, é claro. É como um ‘amigo’, não muito intimo, mas é e apesar do seu jeito sorrateiro e metido a sedutor, o único que fiz nesses dois anos. A minha mãe jura que já ficamos, e isso é o que me incomoda de vez em quando.

[...]

Ao chegarmos a Heloisa, mãe do Igor, pediu que eu subisse e o chamasse. Ela é uma mulher completamente simples e simpática, ou seja, o contrario da minha mãe e isso faz com que eu me sinta bastante a vontade quando venho aqui.

No quarto, o Igor ainda estava apenas de calça, o que era de se esperar. Ele nunca é pontual.

O Igor era loiro, olhos azuis e corpo magro, mas levemente esculpido por academia. Tem um sorriso bonito e atraente, parece um príncipe, só que sem os mesmos modos.

– E aí, como tem sido as investidas na Malu? – perguntei entrando enquanto ele terminava de arrumar o cabelo em frente ao espelho.

Malu era uma garota da mesma turma que a nossa da escola, conhecida, olhos verdes, cabelos lisos e pretos. Dona de uma boca carnuda que geralmente estava pintada de vermelho. Era muito bonita e tinha muito caras aos seus pés, inclusive o Igor que não é de ficar mais de uma vez com uma só.

– Ah, cara eu sou louco por ela, mas não vou esperar a vida toda né! – deu um riso, me encarando pelo espelho – Em quanto ela não me quer eu me divirto com as outras! – falou presunçoso – Tô bonito?! – se virou, erguendo a sobrancelhas.

– Nossa, um gato! Até perdi o ar. – falei irônica. Ele era gato sim, mas era convencido demais. Até pra mim. Acho que isso contribui para nossa amizade, creio que sou a única que não baba em cima dele.

– Eu sei que eu te seduzo! – disse convicto e eu rolei os olhos – Sabe que tua mãe é doida pra ser minha sogra... – comentou e eu suspirei entediada.

Caminhos tortosOnde histórias criam vida. Descubra agora