Capitulo 4

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Luiz Otávio Velasco narrando

Já estava indo dormir quando vi o celular vibrar. Era uma mensagem, da Helô.

Fiquei surpreso, afinal desde a minha volta dos Estados Unidos e a ida dela pra Austrália não tivemos muito contato e nos falar era coisa rara.

‘Você é um idiota. Por sua causa eu fiz a coisa mais dolorosa que já fiz na vida! Você não tem noção de como eu queria socar a sua cara agora! Seu FDP!’ – eu ri quando terminei de ler e respondi perguntando o porquê da sua revolta e ela me respondeu com uma ligação, mas já até imaginava a razão dela ter vontade de me socar. Por causa da Ju. Porque simplesmente quando eu voltei não quis mais tocar no assunto todas as vezes que ela tentou. Sabia que mais dia ou menos dia ela iria querer botar a raiva e a frustração pra fora. A Heloisa não era do tipo que se conformava em ficar calada.

Eu não gostava de tocar no assunto, porque doía, aliás, ainda dói. Tive que aprender a conviver sem ela, com a saudade e a falta de noticias. Era ridículo dizer, mas eu ainda a amo. Ainda me lembro de cada traço do seu rosto molhado pelas lagrimas daquele dia, do seu cheiro.

Não tentei mais contato com ela porque sabia que os loucos dos pais dela haviam deixado incomunicável, assim como os meus e fazer outra revolta só iria piorar. Quando mais demonstrasse que eu ainda a procurava aqui os meus pais iriam falar para os dela e eles apertariam o cerco lá. A única solução foi guardar ela pra mim e tentar seguir em frente, deixa–la viver também.

Você é um idiota! – falou assim que atendi – Eu odeio você! – resmungou.

– Eu também estava com saudades! – falei irônico – Qual a acusação dessa vez? – suspirei.

– Por que não a procurou?! Você teve tanta condição, mais do que ela até! – disse indignada.

– Helô, são três da manhã ai. Porque tá acordada me dizendo essas coisas?! Remoendo um assunto que eu já te falei mil vezes que não gosto de falar? – perguntei tentando manter a paciência.

– Eu vi a Júlia. – murmurou e automaticamente eu tranquei a respiração.

– O que ela está fazendo por ai? – perguntei confuso e tonto pela surpresa.

– Falei por Skype. Ela tá linda e ainda esperava por você. – suspirou, quando ouvi suas palavras um nó enorme foi subindo pela minha garganta, travando todo o meu corpo. Não pode ser! Ela devia ter desistido de nós! – Disse que te amava... Acredita que desde aquele tempo ela não tinha acesso a internet sozinha e nem telefone? Os pais dela são doentes!

– Ah, bom saber que ela tá bem... – disse sem ter algo pra falar.

– Ela não tá bem! – falou malevolente – Eu contei pra ela que você tava namorando. Que não tocava mais no assunto. Não ia enganá-la, coitada.

 – Você fez bem. – suspirei pesado para não me sufocar com o nó – Não era justo ela continuar presa a mim. Eu já tô seguindo a minha vida... – menti, queria vê-la também, ir atrás dela, mas se deram liberdade agora a ela, não seria justo tornar a vida dela um inferno de novo.

– Eu me pergunto como você conseguiu se tornar insensível desse jeito. Igualzinho à mãe dela! igual a sua e a prepotente suja da sua namorada! – me acusou.

– Helô, não fala assim da Camille, você não a conhece! – a defendi aborrecido – Eu não vou tornar as nossas vidas um inferno novamente por uma coisa que talvez não fosse durar muito! Eu já to seguindo a minha vida ela vai ter que começar a seguir a dela. Foi tudo bom, lindo, perfeito! Eu sofri feito um cachorro em ter que abandoná-la chorando naquele dia, mas revirar tudo e virar nossas vidas do avesso por um amor de dois anos atrás não dá! – falei em um tom amargo e irritadiço, porque eu estava falando tudo ao contrario do que eu estava sentindo e estava sendo como abrir uma ferida mal cicatrizada novamente – Eu cresci, agora eu tenho a Camille, tenho que tentar uma faculdade, não posso perder o meu tempo com ‘namoradinha’ do passado.

– Bom, você que sabe! Fica com elas então. – disse decepcionada e desligou.

Me joguei na cama e tampei o rosto com o travesseiro para abafar a vontade de gritar, esbravejar e chorar. Isso tinha que passar, são dois anos nisso! Dois anos nesse sofrimento sem fim. Dois anos sorrindo falso pra gente que eu não quero ver, vendo ela em outros rostos, imaginando o seu sorriso. Isso já está virando doença! E eu preciso esquece-la.

Caminhos tortosOnde histórias criam vida. Descubra agora