Capitulo 7 - Parte 2

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O Igor me deixou cedo em casa, eu pedi desculpas pelo vexame mil vezes. Estava morta de vergonha por ter bebido daquele jeito. Passei metade do dia trancafiada no quarto com dor de cabeça e as lembranças da noite passada. Queria vomitar, dormir e chorar ao mesmo tempo.


– E ai?! Como foi com ele? A Heloísa falou que você dormiu lá ontem! – minha mãe falou entrando no meu quarto, completamente eufórica, parecendo ter doze anos, mas me assustando porque ela deveria estar me dando uma bronca. – E ai... transaram? – perguntou sentando na minha cama, deixando a bolsa jogada no canto.

– Não. – a olhei indignada – Eu bebi, vomitei e dormi. – gesticulei, sem conseguir expressar a minha indignação e perplexidade. Estava com nojo.

– Você não devia ter bebido. – revirou os olhos, suspirando impaciente – Ele foi gentil com você? Estão se dando bem? Nossa, seria incrível vocês dois juntos, unindo os Brizzon e os Carvalho! – disse encantada, como se tivesse vendo um letreiro daqueles de Nova Iorque.

– Pelo amor de Deus mãe! – resmunguei irritada.

Era incrível como ela parece não ter escrúpulos!


– Porra, você só pensa em você! Mas que inferno! Eu saio uma noite e você já queria que eu tivesse dado pro Igor, por puro ego seu! – esbravejei sentindo um nó rasgando a minha garganta. Eu queria chorar, queria expulsa-la do meu quarto, fazê-la sumir junto como seu egoísmo e a sua prepotência. – E eu?! Onde eu fico nisso tudo?! Ein?! Quer dizer que o que eu sinto não conta?! Não né! – ri sarcástica – Se contasse eu e o Luís Otávio estaríamos juntos!  – despejei, jogando toda a minha frustração nela, sentindo meu rosto queimar e uma lágrima teimosa cair, a enxuguei rapidamente e fui em direção a porta. Tremendo nervosa.

– Julia, não dramatiza! Pelo amor de Deus! Fica insistindo naquele moleque! – resmungou malevolente.

– Sai! – pedi segurando a porta – Eu quero ficar sozinha! Não quero mais ver você. – falei me impondo, com raiva.

– Você é uma coisa! Vou ter que mandar o seu pai vir falar com você. – disse empinando o nariz e saindo contrariada.


Tranquei a porta e desabei na cama. A minha vontade era de quebrar o que visse pela frente, mas não tinha forças, aquilo sobre o Lu ainda estava remoendo, revirando dentro de mim misturada a vergonha que eu sentia pela noite de anterior e a raiva da minha mãe.

Era como se eu fosse explodir e era quando eu me sentia assim que me arrependia de não ter uma amiga. O único que eu ainda contava era o Júnior, mas se eu falasse isso ele surtaria e acabaríamos em uma discussão em família. Me segurava pra não sucumbir mais ainda ao choro alto e o meu celular tocou. Era o Igor. Tentei limpar a minha garganta e parecer o mais normal possível e o atendi.


– E ai jujubas, tá melhor? – perguntou animado.

 – Não. – murmurei rabugenta – e você? – perguntei ouvindo-o sorrir fraco.

– Tudo bem – riu – vamo dá uma volta? A tarde tá linda.

– Não. – falei com dengo.

– Ah, para de frescura, vai. Chego em dez minutos.

– É sério. Não vai dar.

– Se você não sair eu vou ficar ai, você escolhe. – afirmou antes de desligar. Era uma guerra perdida.



[...]


Dez minutos cronometrados depois ele chegou. Eu havia colocado apenas um vestido leve e calçado uma rasteira, deixando o cabelo preso em um coque e pegando um óculos de sol mesmo caprichando na base antes de ele chegar.  Em seguida rumamos a uma sorveteria no centro.


Tava chorando? – perguntou me analisando assim que tirei os óculos. Nada escapava desses olhos azuis atentos do Igor.

Só uns problemas com a minha mãe. Nada demais. – falei demonstrando querer não levar o assunto adiante.

– Tá começa ai, quem é Lu. – iniciou colocando uma colher de sorvete na boca e eu suspirei entediada.

– Você não vai querer saber. – murmurei tentando fugir desse assunto também e tentando lembrar me de onde ele ficou sabendo, mas como a minha mãe tinha uma boca de caçapa devia ter sido ela.

– Fala logo, ele era o que seu? Namorado? Porque prometeu a virgindade a ele? – perguntou curioso, arqueando as sobrancelhas, se divertindo com a minha cara espantada.

– Como sabe disso? – perguntei envergonhada em um tom mais baixo, com medo de que alguém escutasse.

– Você me disse oras, ontem. – completou.

– Ah, meu Deus! – cobri as mãos com o rosto, por tamanha vergonha – Eu nunca mais vou beber nessa vida! Não bastava ter vomitado, precisava eu falar merda. – me condenei o fazendo rir.

– Relaxa, tô de boa. – disse tirando as mãos do meu rosto – Mas, mudando o foco por que brigou com a sua mãe? Ela não gostou de você ter dormido lá em casa?

– Pelo contrario. Ela queria mais. Ela viaja. Eu tenho uma mãe paranoica. – resmunguei – Acredita que ela me perguntou se transamos e já estava nos vendo como namorados? Melhor, como noivos!

– Se eu não quisesse a Malu, casaria com você. – brincou dando risada.

– Não diz isso nem de brincadeira a minha mãe fixaria nisso. – o alertei tomando um pouco do meu sorvete – mas mudando o foco, de novo, e você e a Malu? Ficaram ou não ficaram?

– Já disse que esqueça isso e eu ainda estou curioso. – falou insistente, apertando os lábios – Até onde eu sei você nunca namorou.  – avaliou.

– Até onde você sabe. – dei um riso cansado, me rendendo, pois eu sabia que ele não iria me dar sossego – O Lu, foi o meu primeiro e até então único namorado, mas não deu certo. Perdemos o contato. – me limitei a dizer.

Caminhos tortosOnde histórias criam vida. Descubra agora