Capitulo 19

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Julia narrando

[...]

– Eu sinto muito por ontem... – meu irmão falou referindo-se a cena romântica do Luiz Otávio e a sua namorada no restaurante, sentando-se a ponta da minha cama. Eu suspirei entediada, desviando a atenção do livro que eu estava lendo para olhá-lo; lembrando-me do encontro.

Eles chegaram um tempo depois de nós. Acho que não notaram a presença da nossa família, nem a nossa a deles, pois os meus pais estavam de costas e saímos pela segunda entrada.

A minha mãe adorou a Robertinha, foi uma das poucas vezes que a vi leve; sem armas ou pretensões. Não pareia minha mãe. Tirando o acontecido, a noite foi agradável.

– Já era de se esperar. – dei os ombros tentando camuflar a minha decepção e a minha raiva por ter visto os dois trocando beijos a cada duas palavras.

– Ao menos agora vocês tem um fim. – ponderou apertando o lábio inferior e eu dei um riso amargo.

– Sim. Um fim que ele se negou a por antes e que agora eu estou decretando. – afirmei, mais pra eu do que pra ele – mas eu não quero conversar sobre isso. Esse assunto pra mim acabou.

– Tudo bem. – concordou suspirando e respeitando o meu espaço não tocando mais no assunto – eu vou sair com a Roberta, qualquer coisa me liga. Boa noite. – disse beijando minha testa antes de sair, me deixando com uma vontade imensa de me agarrar a ele e chorar, despejar toda a dor e decepção eu sentia em forma de lágrimas sob o seu ombro e o seu abraço.

Mas eu não queria que ele me visse chorar por aquilo mais uma vez, era vergonhoso e degradante demais pra mim. Talvez uma das razões pela qual eu o amasse tanto, além de ser o meu único irmão, era que Junior sempre respeitava o que eu sentia, deixava com que eu ficasse livre para sentir as minhas angustias e me socorria quando era preciso.

Ele sabia que eu não queria que ele, nem ninguém, me visse ruim e me deixou sozinha pra ficar sem armadura e curar os meus 'ferimentos'. Por que era assim que me sentia; ferida, massacrada, esgotada. Mesmo que ele não soubesse eu agradeci mentalmente por aquilo e fiquei ali parada um tempo com os olhos fechados, lutando contra mim mesma e a vontade de sucumbir a um choro causado por um nó que havia se instalado em minha garganta desde ontem e se apertava cada vez mais, por que foi doloroso demais ver o grude dos dois durante aqueles quarenta minutos que permanecemos ali. Me senti uma idiota lembrando da nossa conversa no apartamento dele, do seu teatro quando nos vimos.

Me xingava internamente por ter ficado confusa e mexida com a sua volta. E o que me deixa com mais raiva ainda era o fato dele ter me mandado sms dizendo que não ia desistir de nós horas antes. No momento eu só queria esquecê-lo e que ele se esquecesse de mim.

[...]

No dia seguinte eu levantei cedo pra ir à aula, como de costume, a manhã era fria e eu tinha prova. O que fez com que meu dia parecesse mais ruim. A Fernanda chegou um pouco atrasada e apenas passou correndo pela porta da minha sala, acenando e mandando um beijo, sendo esse o único motivo sincero que me fez rir toda a manhã.

Na parte da tarde acabei indo com a Eva ver uns tecidos para um vestido que ela queria fazer pra ir a uma inauguração no fim de semana. Ela estava entretida a maior parte do tempo trocando mensagens no celular, o que a deixou mais agradável pelo fato de não estar falando ou reclamando muito.

Na saída nós acabamos encontrando a Sofia no estacionamento, o que me fez lembrar do jantar novamente, dessa vez me deixando intrigada por não entender o que ela fazia lá com eles. Deduzi logo que ela devia ser amiga ou parente da tal da Camillie. E isso me deixou um pouco desconfortável e até mesmo um pouco chateada em relação a ela, mesmo sem querer. Era infantil e ridículo, eu sei.

Caminhos tortosOnde histórias criam vida. Descubra agora