Capitulo 28 - Parte 2

544 56 12
                                    

– Ei, Ju... – ele falou abrindo a porta e dando um beijo na minha bochecha.

– Que surpresa boa! – o abracei, apertando-o, mas sem ser correspondida. Mesmo assim eu o olhei confusa e beijei seu rosto, não sendo correspondida novamente – você tá estranho. – comentei franzindo o nariz, sem graça.

– É, tô estranho? Engraçado, eu tinha achado estranho quando a Louise me contou que você tava com o Luiz Otávio agora. – disse sarcástico, me encarando e eu senti o chão faltar abaixo dos meus pés em questão de segundos – O Júnior me contou tudo. Era isso que você estava se referindo quando perguntou se eu te perdoaria? – ele perguntou em um tom irritadiço, encostando-se na mesinha do computador.

– Igor, eu. – prendi a respiração – Nós estamos namorando. – falei em um tom reprimido o encarando, recebendo um olhar decepcionado e zangado seu.

– Legal. Sabe, eu espero do fundo do meu coração que você não se arrependa, Julia, por que dessa vez eu não vou estar aqui pra te cuidar de novo.

– Igor, não... – pedi por instinto, angustiada de pensar na possibilidade – Eu só decidi dar mais uma chance pra nós. Não contei nada por que eu não sabia como por que eu tinha certeza que ninguém ia me apoiar. – argumentei já querendo chorar e ele riu.

– Uma chance pra vocês? – deu risada – Uma chance pra que? Pra ir pro fundo do poço novamente?! Você acha que vale a pena tentar de novo com ele? – questionou irritado – Olha bem a sua volta Júlia, e contabiliza as coisas que já estão acontecendo: você está afastada dos teus amigos, principalmente da Fernanda que é a sua única e melhor amiga. Na casa do Gabriel você se quer pisa mais. Perdeu a confiança do teu irmão mentindo e futuramente vai travar uma guerra com a tua mãe. – enumerou gesticulando, sem desviar o olhar de mim, me fazendo enxergar coisas que eu me recusava a querer perceber. Eu queria por tudo não chorar, ser forte, mas era impossível impedir que algumas lágrimas caíssem – Fora que você corre o risco de voltar à estaca zero novamente: sem ele e sem ninguém, por que eu sei que por mais que você não cogite essa possibilidade ele tem uma ex. Uma ex que ele pensou em não deixar de cara pra ficar contigo, uma ex com a qual ele decidiu reconstruir a vida depois de você. Quem tem mais chances, você; que passou menos tempo ou ela; que passou quatro anos com ele? – questionou antes de virar as costas pra sair.

– Quando você decidiu investir na Malu novamente eu te apoiei! – disparei sem pensar, em uma tentativa desesperada de fazê-lo entender o meu lado. Mas ele recuou dando um riso incrédulo – E eu também passei dois anos contigo, quem teria mais chances com você, eu ou a Maria Luiza? – questionei irônica, esboçando uma falsa confiança, pois ter conseguido chamar a sua não queria dizer que meu argumento teria sido bom.

– Ridículo esse teu argumento. – retrucou – Quando eu decidi ficar com a Malu eu consultei você, chamei pra conversar. E isso não se compara. A Malu sempre esteve por perto, por mais que ela não me quisesse àquele tempo ela foi sincera comigo. Já o Luiz, o que ele fez? Sumiu no mundo e foi curtir a vida dele sem nem te 'liberar' do que vocês tinham.

– Ele não teve como! – aleguei o defendendo como uma criança mimada.

– Não teve como? – riu – Presta atenção em uma coisa Ju, homem quando quer uma coisa não tem mal tempo, não tem temporal, não tem família, não tem nada que o faça desistir. E tanto eu como você sabemos que ele teve oportunidades sim. Quando ele se foi à mãe da Heloisa ainda morava aqui e ela gostava tanto de vocês que o levou pra se despedir, ela jamais negaria a ele te dizer algo. Você mandou sms do celular da D. Guilhermina pra ele e pra Heloisa, se ele tivesse pedido a ela pra te mandar algum recado ele teria movido céus e terras, ou melhor, ele sabia o numero da sua avó de cor, até hoje é o mesmo! – disse indignado e eu sentia cada argumento seu como uma tapa, e por que por mais que doesse ele estava falando a verdade. Ele sabia o numero decorado, pois ligava diversas vezes pra lá quando eu ia passar o final de semana – Ele era novo Ju – maleou o tom, me olhando angustiado – mudou de lugar, conheceu gente nova, desprendeu de você rápido e por mais que eu te ame muito, e saiba que você uma menina incrível pra se namorar, eu sinto que ele só tá querendo brincar contigo.

– Por que você acha isso? – perguntei dessa vez me rendendo ao choro, o encarando – por que vocês não podem uma única vez achar que isso vai dar certo? Ter um mínimo de esperança assim como eu?

– Por que é o que parece Ju! – esclareceu irritado – Ele só quer te dominar, fazer com você o que sempre à mãe dele fez com ele! Ele tá te afastando de tudo. E querer te afastar de mim, que sou teu ex, eu entendo, ciúmes é natural, por que a Malu morre de ciúmes de você. Mas te afastar da Fernanda pra que? O Junior me contou que até com ele e a Roberta você não sai mais. Ele é teu irmão, porra! Ciúmes do teu irmão. – resmungou impaciente.

– Não compara o meu afastamento com o teu, a Fernanda é tua amiga também. – funguei, tentando enxugar o rosto – E você deixou a gente de lado logo nos primeiros meses do namoro de vocês. – argumentei insistente, chateada.

– Não diz isso que você tá sendo injusta – reclamou estalando os lábios – eu via vocês todos os dias na escola e por mais que eu sumisse toda vez que você precisava de mim pra desabafar ou qualquer outra coisa eu ia correndo te ajudar! Mas nada do que eu diga vai te fazer mudar de opinião, não é?! Então, vai em frente. Boa sorte! – disse me dando as costas e saindo, estrondando a porta com uma batida antes de sair.

Definitivamente eu me senti completamente desamparada, era sufocante saber que eu não o tinha mais. Que mais alguém estava indo embora da minha vida. Era como se uma avalanche emocional que abatesse sobre mim e antes que eu pensasse em alguma coisa a minha mãe adentrou o meu quarto, com uma carranca e um olhar furioso voltado pra mim.

– Como você teve coragem de fazer isso comigo de novo? – perguntou em um tom extremamente irritado e eu senti que a qualquer momento ela fosse pular no meu pescoço.

– Eu não quero falar sobre isso agora. Tô saindo. – respondi sem olhá-la, rapidamente a minha bolsa e rumando para as escadas, sendo seguida por ela. Então eu apertei o passo, mas ela começou a me gritar.

– Júlia! Volte aqui! Eu não te dei ordem de sair! EU TO FALANDO COM VOCÊ, GAROTA!

Foi a ultima coisa que eu ouvi depois de atravessar a porta e trancá-la, para atrasá-la. Eu peguei um taxi que passava na rua e segui para o apartamento do Luiz, ignorando todas as ligações tanto dela quanto do meu pai por todo o trajeto, desligando o aparelho assim que entrei no elevador.

Ao chegar ao apartamento eu apertei a campainha insistente por alguns minutos, me esvaindo em choro, queria por tudo, me livrar daquela sensação horrível que me sucumbia. Logo o Luiz abriu a porta, apenas com uma toalha na cintura, com o cabelo molhado, assustando-se o me ver, pois assim que o vi, simplesmente me agarrei a ele.

– O que aconteceu? – perguntou surpreso, retribuindo o abraço, fechando a porta – Júlia, fizeram alguma coisa com você?! – insistiu nervoso – como chegou aqui?

– Eu briguei com o Igor e ao que parece a minha mãe descobriu sobre a gente. Eu só não quero ter que falar com ela agora! Eu queria passar a noite aqui contigo... – expliquei atordoada entre alguns soluços, sem soltar-se dele que acariciava meus cabelos.

– Não precisa chorar. – disse beijando meu cabelo, pegando a minha bolsa do ombro e jogando no sofá – Fica tranquila, respira e vamos lá pro quarto pra eu me trocar e a gente conversar direito.

Eu assenti e o segui até o quarto, onde eu tirei os sapatos e fui ao banheiro lavar o rosto e dar um jeito no meu cabelo bagunçado, enquanto ele se vestia.

Minhas mãos estavam um pouco tremulas e o meu reflexo no espelho mostrava uma pele completamente pálida, mas de qualquer modo eu me sentia segura. Não inteira por que eu deixei um pedaço de mim com o Igor depois daquela briga. Eu queria muito conversar com ele direito, mas no momento eu queria esquecer o que acontecia lá fora, pensar um pouco, raciocinar direito, resolver as coisas da melhor forma possível. Sem mais lacerações.


Caminhos tortosOnde histórias criam vida. Descubra agora