Capitulo 3

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[...]

– Ju, teu computador tá apitando! – o Júnior disse batendo na porta do banheiro enquanto eu tomava banho.

Sai depressa e troquei de roupa, sem se quer me preocupar em pentear os cabelos. Quando olhei era ela on e eu quase explodi de ansiedade. Iniciamos uma chamada de vídeo e meu coração queria sair pela boca. Ela estava tão bonita, mais do que já era há dois anos, e estava fazendo intercambio na Austrália. Seus cabelos estavam muito mais longos e sua pele mais bronzeada, o que destacava seus olhos claros e seu cabelo quase dourado.

– Nossa que saudade! Eu pensei que nunca mais ia ter noticias suas, tão pouco te ver de novo! – disse sorrindo – Está tão linda! E mais magrinha também! – comentou contente.

– É, eu também pensei que nunca mais íamos nos ver. – sorri – Daquele tempo pra cá vim ter acesso à internet e ter um note agora... Meus pais tomaram tudo. Vim ter outro celular agora também. – falei sem jeito.

– Jura?! Sua mãe é uma louca Júlia, já faz dois anos e você ainda estava de castigo! – falou incrédula.

– Já acostumei com as sandices dela. – rolei os olhos – Mas e você? Tentei falar com você um bom tempo depois. Trocaram o seu celular também? – apertei o lábio.

– Sim, o meu tio interviu pela minha mãe. – bufou – Trocaram apenas o numero e apagaram a agenda. Fiz um escanda-lo, mas não adiantou muita coisa. – sorriu fraco – O Luiz Otávio, também ficou sem nada, mas só foi por uns dois meses. Depois a mãe dele o mandou pra um intercambio na Flórida... – enquanto ela falava nós se formavam na minha garganta, era tão injusto e grotesco o que eles fizeram, era quase insano – E você? Tá namorando? – eu ri.

– Eu não fiquei com mais ninguém não, naquele tempo já não tinha muitas amigas também...

– E você ainda o espera Ju? – perguntou receosa, desfazendo o sorriso que ela mantinha no rosto, fazendo meu coração afundar com a sua expressão.

– Eu ainda o amo. Não podia esquecê-lo... – confessei desviando o olhar pras minhas mãos.

– Isso é tão... lindo! Queria que alguém esperasse assim por mim... – disse lamentosamente. Deixando-me com poucas palavras.

– Uhum, e você, tem noticias dele? – perguntei, pois já não estava aguentando mais e esperando pelo pior – Não o encontrei nenhuma rede social, nem uma foto se quer... – falei em um tom desanimado, forçando um sorriso para desfaçar a voz embargada por conta do medo que já vinha tomando de conta de mim.

– Er, nós não temos mais tanto contato Ju... – falou sem graça e eu pude ver nos olhos dela que tinha mais coisa naquela história, me fazendo ter que segurar as lágrimas – Desde que ele foi pra Flórida, não temos mais a amizade de antes e ele não quis mais tocar no assunto.

– Ele nem lembra mais de mim não é? – perguntei já com a voz claramente embargada e com as lágrimas ameaçando a cair, mas sempre mordendo o lábio impiedosamente para transferir minha atenção a dor e não chorar.

– Eu não quero te enganar, nem te dar falsas esperanças. – suspirou – Mas, da ultima vez que o vi foi há três meses, ele ainda estava namorando. E o seu relacionamento não é de agora, ele e a Camille já estão juntos há um tempo.

Era tudo que eu mais tinha medo de ouvir e Deus como ele conseguiu tão rápido?! Em quanto eu estava aqui, perdendo a minha vontade de viver, a minha vida. Esperando feito uma idiota, brigando com Deus e o mundo achando um dia poder encontra-lo ele já havia me esquecido. Como se tudo tivesse passado de um sonho ruim ou uma brincadeira.

Tentei ao máximo controlar as lagrimas. Chegava a doer e falar não seria uma tarefa fácil naquele estado. Eu sentia uma dor tão grande que era como se o meu peito tivesse prestes a explodir e algumas artérias tivessem travado e parado de deixar o sangue circular.

– Eu já esperava, era um ''namoro'' de quando a gente era praticamente criança. Talvez ele nem lembre mais de mim... – falei tentando sorrir, mas o tom da minha voz estava me entregando e o seu olhar piedoso acabava comigo. Eu fui tão... Idiota!

– Ele lembra sim Ju! Mas você sabe que o Tavinho é reservado, fechado... – tentou explicar.

– Ei Helô. Ele não tem culpa não, eu que esperei demais... – comentei dando um sorriso torto, pra disfarçar que não estava doendo e que eu não iria morrer.

– Sinto muito, eu tenho algumas fotos aqui. Quer ver? – perguntou tentando mudar o assunto.

– Não precisa. Eu tenho sair, minha mãe tem um jantar agora. Sabe como ela é, né. – sorri fraco. Era evidente que estava mentindo. Eu só queria ficar sozinha pra começar a chorar desesperadamente.

– Tudo bem. Espero não perdermos mais o contato. Senti sua falta...

Dei o meu numero apressadamente a ela e sai. Não pretendia nunca mais entrar naquele Skype. Queria morrer. Sentia um misto de raiva, revolta e dor. Aquele sentimento guardado, a falta de noticias aquele tempo todo havia me deixado totalmente fechada. Perdi dois anos dentro de casa, lamentando, suspirando. Ouvindo a minha mãe remoer essa história e me privar de ter uma vida normal em quanto ele estava bem, namorando, vivendo, me esquecendo. Se fodendo pra mim.

Imbecil, idiota! Era isso que eu era. Repeti pra mim mesma. Esperando por alguém que se quer lembrava que eu ainda existia. Fiquei ali na frente do computador durante uma hora chorando, remoendo a minha dor e a minha revolta até o Junior bater, me chamando pra sair com ele e definitivamente eu não queria ficar sozinha. Não hoje, não agora. Era humilhante demais chorar esse tempo todo por alguém que se quer sabia de sua existência.

Caminhos tortosOnde histórias criam vida. Descubra agora