Capitulo 6

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Juntei vários sacos de roupas, a maioria sem ser usadas que ficaram curtas. Quase todas a minha mãe que comprava e como eu não saia e vivia mais de pijama, ficaram perdidas.

Metade eu destinei a caridade e outra dei pra Lourdes levar pra filha dela, que tem quase a mesma idade que eu. Meu pai quando chegou do trabalho estava todo sorridente, é claro que a minha mãe tinha dito o que eu havia feito. Ele me emprestou seu cartão e disse que eu podia comprar o que quisesse, então eu resolvi ir fazer compras.

– Já vai? Eu ainda vou tomar banho. – a minha mãe disse quando me viu indo em direção à porta.

 – Já. – falei confusa – O Junior vai me levar.

– O que? Mas eu pensei que íamos juntas! – minha mãe falou incrédula e meu pai me olhou como se dissesse: ' leve-a! Por favor, eu não vou aguentar ela resmungando no meu pé.'

– Mãe – suspirei – eu não gosto de fazer compras com você. Vai querer que eu compre um mar de roupas caras e me vista como as filhas das suas amigas e você sabe que eu detesto gente esnobe e fresca como elas. – resmunguei – Vocês queriam que eu mudasse. Eu tô mudando, então pelo menos me deixem mudar do meu jeito. Ter meu próprio espaço. No meu tempo. – estalei os lábios e sai, indo encontrar o Junior dentro carro.

– E aí, conseguiu se livrar dela? – perguntou rindo.

– Aposto que ela vai passar à tarde no escritório fazendo um drama. – rolei os olhos, encostando a cabeça no banco.

– Tenho pena do nosso pai...

– Eu não. Faço minhas as palavras do vô Tony: queria a namorada do amigo agora aguente! – empinei o nariz.

– Falou de novo com a Hêlo? – perguntou dando a partida.

– Tenho evitado falar. – suspirei – Já vivi de lembranças dois anos. Não quero mais. Acabou. – apertei meu lábio.

– Ai quer dizer que vai investir no Igor? – ergueu a sobrancelha, desconfiado.

– Não. – sorri leve – Ele é virado pela Malu. Também não faz muito o meu tipo...

Ao chegar ao shopping comprei algumas roupas pra sair, biquínis, lingeries sensuais, uns sapatos e umas bijuterias novas. Nada muito caro, também não foi muita coisa, só o essencial. Lanchei e pra terminar a tarde fui a um salão. Fiz as unhas, depilação, retoquei a cor do cabelo deixando um mel iluminado, enfim tudo que eu tinha direito.

Não que eu estivesse um bagaço, eu sempre vinha aqui, mas dessa vez era diferente eu queria me arrumar. Senti prazer naquilo. Queria tirar cada resquício de traço de quem se acabou por alguém que não merecia por dois anos e se possível trancar esse sentimento em algum lugar dentro de mim e não me abrir nunca mais, porque ele me fazia se sentir, estupida. Burra e enganada. Daqui pra frente vou viver.

[...]

Igor, aquele convite pra hoje ainda está de pé? – perguntei andando de um lado para o outro pelo quarto, ansiosa.

– Tá sim, você vai?! – perguntou incrédulo.

– Sim, vou viver. Você mesmo disse pra eu fazer isso. – rolei os olhos.

– Então te pego as nove, ok? – falou sorridente.

– Tudo bem, às nove. – confirmei sorrindo fraco e desliguei.

 

Olhei a hora e eram oito e meia. Tomei um banho apressado e coloquei um dos vestidos que eu comprei, colado no corpo, preto, com a parte do busto em renda. Fiz uma maquiagem forte, pra noite, deixei os cabelos soltos com cachos nas pontas e calcei um salto alto, bege, pra combinar com a bolsa. Me senti diferente, nunca tinha me 'produzido' assim. Era como se essa nova eu, tivesse ganhando forma. Uma forma mais segura. Mais viva.

Logo o Igor ligou avisando que já estava do lado de fora, então joguei algumas coisas na bolsa e desci. Quando cheguei à sala dei de cara com os meus pais vindo da cozinha conversando.

– Vai pra onde toda arrumada e cheirosa desse jeito?! – meu pai perguntou cruzando os braços e erguendo a sobrancelha, parando na frente da minha mãe.

– Vou a uma festa. Com o Igor. – falei sem graça e a minha mãe deu um sorriso de orelha a orelha. Era patético, me envergonhava.

– Divirtam-se! – falou contente – Tem dinheiro suficiente?! Não se preocupe com o horário! – completou.

Meu pai e eu a olhamos incrédulos. Sem horário?! Como assim?! Ela quer que eu dê pra ele mesmo?! É isso? Antes que pudéssemos contestar o interfone tocou. Era o Igor novamente.

– Tudo bem. – murmurei ainda estarrecida.

– Juízo e esse vestido está curto, não se abaixe! – meu pai recomendou.

– Carlos Eduardo! – minha mãe o repreendeu.

Sai antes que presenciasse mais uma discursão sem logica deles. Entrei no carro e o Igor me olhou de cima abaixo, de boca aberta. Quase babando.

Caminhos tortosOnde histórias criam vida. Descubra agora