ᴘɪɴᴋʙᴇʀʀʏ

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Ela reprime um sorriso.

— então se passarmos mais um tempo juntos hoje, você não vai me matar?

— só se for em legítima defesa

Ela ri e pega a sua bolsa. Pendura no ombro e se levanta.

— Isso é um alívio. Vamos à Pinkberry terminar o namoro durante a sobremesa.

Detesto sorvete, detesto iogurte.
Detesto especialmente iogurte que finge ser sorvete.

Mas é claro que pego meu laptop e minhas chaves e a sigo até o inferno aonde ela quer me levar.

— Como você pode morar em Los Angeles desde os 14 anos sem nunca ter colocado os pés no Pinkberry — Ela parece quase ofendida. Afasta-se de mim para olhar mais uma vez as opções de toppings — você já ouviu falar em Starbucks pelo menos?

Rio e aponto para a bala de ursinho. O atendente coloca uma colherada no meu pote.

— Eu praticamente moro na Starbucks, sou escritor. É um rito de passagem

Ela está na minha frente na fila, esperando nossa vez de pagar, mas olha meu pote com nojo.

— Aí, meu deus — diz ela. — Você não pode vir a Pinkberry e comer só os toppings — Ela me olha como se eu tivesse matado um filhote de cachorro — Você é humano por acaso?

Reviro os olhos e cutuco seu ombro para fazê-la se virar.

— Para de me censurar ou vou largar você aqui antes que a gente encontre uma mesa.

Pego uma nota de vinte na carteira e pago a sobremesa. Abrimos caminho pela loja lotada, mas não há mesa vaga. Ela vai direto a porta, então eu a sigo até a calçada e andamos até encontrar um banco vago. Ela senta de pernas cruzadas e coloca o pote no colo. É a primeira vez que dou uma olhada em seu pote percebo que ela não colocou topping nenhum.

Olho para o meu pote: não tem nada além de toppings

— Eu sei — diz ela rindo — Jack Spray não come gordura...

— E a mulher magrela não atira — completo.

Ela sorri e coloca uma colherada na boca. Tira a colher e lambe o Frozen yogurt do seu lábio inferior.
Eu não estava esperando por esse dia, ficar sentado de frente para essa garota vendo-a lamber yogurt dos lábios e tendo de engolir em seco só para ter certeza que ainda estou respirando.

— Então quer dizer que você é escritor?

A pergunta dela me dá base de que preciso para me fazer acordar. Concordo com a cabeça

— Assim espero. Nunca fiz nada profissionalmente, então ainda não sei se posso me denominar escritor.

Ela se remexe até ficar de frente para mim e apoia o cotovelo no encosto do banco.

— Não é preciso ter um salário para validificar que você é um escritor

— Validificar não é uma palavra de verdade — respondo

— Está vendo? Eu nem sabia disso, então você obviamente é um escritor. Com ou sem salário, considero você um escritor. Arthur, o Escritor é assim que vou me referir a você em diante.

Rio.

— E como devo me referir a você?

Ela passa alguns segundo mordendo a ponta da colher, estreitando os olhos, pensativa.

— Boa pergunta, agora meio que estou em transição.

— Carol, a Transitória — proponho.

Ela sorri

— Pode ser.

Suas costas se encostam no banco quando ela se vira para frente. Ela des-cruza as pernas, permitindo que seus pés encontrem o chão.

— Então, que tipo de coisa você gosta de escrever? Ficção? Roteiros?

— Espero que tudo. Não quero restringir nada ainda, só tenho 18 anos quero tentar de tudo, mas minha paixão é sem dúvida, as ficções. E poesia.

Um suspiro baixo escapa de sua boca antes que ela coma outra colherada. Não sei de que jeito, mas parece que minha resposta a deixou triste.

— E você Carol, a Transitória? Qual é seu objetivo?

Ela me olha de soslaio

— Estamos falando de objetivos de vida ou qual é a nossa paixão?

— Não faz muita diferença — ela ri sem entusiasmo

— Há uma diferença enorme. Minha paixão é atuar, mas este não é meu objetivo na vida.

— Por que não?

Seus olhos se estreitam na minha direção antes que ela baixe o olhar novamente para o pote. Começa a mexer o frozen yogurt com a colher. Desta vez, ela suspira com o corpo todo, como se estivesse se esfarelando no chão.

— Sabe, Arthur Agradeço por você estar sendo legal desde que nos tornamos um casal, mas pode parar de fingir. Meu pai não está aqui para testemunhar.

Eu estava prestes a comer outra colherada, mas minha mão fica paralisada antes que a colher chegue à boca.

— O que isso quer dizer? — pergunto, a direção que essa conversa acabou seguindo me deixa desconcertado.

Ela enfia a colher no iogurte antes de se curvar e jogá-lo em uma lixeira a seu lado. Puxa uma perna para cima e passa os braços em volta, olhando mais uma vez para mim.

— Você realmente não conhece minha história ou só está fingindo que não sabe?

Não sei bem a que história ela está se referindo, então balanço de leve a cabeça.

— Agora estou muito confuso.

Ela suspira. De novo. Acho que nunca fiz uma garota suspirar tanto assim em tão pouco tempo. E não são o tipo de suspiro que faz um cara se sentir bem com suas habilidades. São o tipo de suspiro que o faz se perguntar o que ele está fazendo de errado.

Ela cutuca com o polegar uma lasca de madeira no encosto do banco. Concentra-se na madeira como se estivesse falando com ela, não comigo.

— Tive muita sorte aos 14 anos. Consegui um papel em uma série brega e adolescente, uma mistura de Sherlock Holmes com Nancy Drew chamada Loud. Fui a protagonista da série durante um ano e meio e estava indo muito bem. Mas então aconteceu isto. —  Ela indica o próprio rosto. — Meu contrato foi cancelado.
Fui substituída e desde então não atuo. Então é isso que quero dizer quando afirmo que objetivos e paixões são coisas separadas. Atuar é minha paixão, mas, como meu pai disse, não tenho mais as ferramentas necessárias para alcançar meu objetivo de vida. Então acho que vou procurar um novo, a não ser que aconteça um milagre em NY...

The Date~Volsher Adaptation~Onde histórias criam vida. Descubra agora