Revelações dolorosas

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A minha vida inteira eu aprendi a conviver com monstros, tive que lidar com eles e até entrei para seus mundos sombrios.

Somos igualmente monstros, mas temos diferentes propósitos. Aqueles que eu conheço destruiriam aqueles que amam em pró de conquistar o mundo, eu, bom eu destruiria o mundo em pró de salvar aqueles que amo

Egoísta? Pode ser que eu seja mas não ligo

Sou capaz de trazer o inferno para terra caso alguém machuque quem eu amo e olhando diretamente para os olhos verdes do meu irmão, um frio estranho se instala na minha espinha, somos muito parecidos mas ele tem a cor dos olhos daquele homem, os olhos são idênticos e eu inevitavelmente sinto raiva.

Encosto minha cabeça no sofá, fito o teto em nossas cabeças tentando me acalmar, ele não tem culpa de nada, mas aquele homem tem l.

Se ele tivesse seguido o papel de pai, se ele não tivesse se tornado um monstro depois da morte de nossa mãe nada disso teria acontecido, certo, ele a amava, ela era a coisa mais importante da vida dele, mas ela também era nossa mãe, nós também a amávamos e também estávamos sofrendo, mas ele não ligou, não ligou e descontou toda sua tristeza em nós. Principalmente em mim que sou a cópia fiel dela, mesmo naquela época a semelhança era assustadora, fecho os olhos com força.

- Você lembra de alguma coisa?
Pergunto quase em um sussurro

- Eu lembro de tudo, inclusive das minhas mãos sujas com seu sangue.
Posso sentir o tom melancólico de sua voz

- Ele entrou em contato com você alguma vez?
Não sei o motivo, mas senti a necessidade de saber disso.

- Não, nunca mais soube nada dele e também não procurei saber.

Não respondo nada pois sei exatamente o que ele está sentindo, tenho recursos e capacidades suficiente de achar ele se eu quisesse mas eu não sei se serei capaz de encarar ele algum dia. Não depois de ter sentido minha carne ser perfurada por uma bala, uma bala disparada pela arma do meu próprio pai.

- Naquela noite, Damian nos levou para casa dele e nos criou. No começo tudo estava bem até que ele começou a te treinar.

Respiro fundo organizando as lembranças

- Ele dizia que era só para que você soubesse se defender, que ocasionalmente você iria se debater com alguma situação que iria exigir isso de você.
Fecho os olhos com a lembrança

- Eu achei toda aquela merda estranha, mas eu tinha medo! Tinha medo que aquele homem nos encontrasse e eu me permitir ficar aliviada por saber que caso isso acontecesse você saberia se defender.

Dou um sorriso triste e ele pega minha mão com carinho, não olho para ele, eu não sei se conseguiria contar tudo para ele olhando em seus olhos, contar o que me tornei, não tenho coragem de ver a expressão de desgosto em seu rosto por isso continuo fitando o teto.

- Mas você sabe que eu sempre fui detalhista, sempre busquei ficar sabendo de tudo, nunca gostei de ser pega de surpresa e eu sabia! Porra, eu sabia que tinha algo muito podre naquele lugar e eu não podia deixar que você se sujasse, mesmo que eu não tivesse idéia do que de fato era.

Engulo em seco

- Oque você quer dizer com isso? Aonde você quer chegar?
A confusão é evidente em sua voz

- Naquele acidente, no qual você ficou em coma por um mês! O mesmo acidente que quase te matou, eu até hoje não consigo decidir se a pior parte foi te ver desacordado naquela cama ou se foi ver você desesperado sem saber se iria voltar a andar, se seria capaz de se mover.
Um nó se faz na minha garganta

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