Garota assustada

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A 18 anos atrás eu atravessa essas ruas correndo descalça e segurando a mão do meu irmão, hoje. Igual aquela noite também está chovendo e as rodovias também estão cheias.

A diferença daquela noite para a de hoje é que eu não estou fugindo eu estou indo até ele.

Desde que me despedir de Clark e entrei nesse carro ativei o modo automático, eu não sei diferenciar as ruas em quem entrei ou a quantos quilômetros já dirigir, a única coisa que faço é manter o carro em uma velocidade boa o suficiente para não perder a Lamborghini de Kevin de vista, decidi vim sozinha já que não me parecia uma boa idéia ficar dentro de uma caixa de metal junto de Kevin e Alex por não sei quanto tempo.

Aperto com força o volante tentando controlar a vontade de dá meia volta e ir embora, mas para minha sorte ou azar Kevin diminui a velocidade em frente a uma casa grande.

Minhas mãos começam a suar e eu tenho que fechar os olhos fortemente para não gritar, eu estou com medo, muito medo.

A menininha de 5 anos assustada está presente em mim ainda, e eu luto contra ela para que ela não tome o controle da situação, eu estou me sentindo tão fraca e indefesa e isso me deixa frustrada e com raiva.

Abro os olhos e vejo que os portões já estão abertos e o carro de Kevin já está dentro.

Eu tenho que entrar, mas eu não consigo me mover para dirigir o carro, eu vejo Kevin descer e olhar em minha direção, mas eu não consigo me mover eu não consigo.

Inspire e expire lentamente.

O nome de Damian brilha no painel do carro, alertando que ele está me ligando.

Levanto o olhar para ver Alex vindo em minha direção com as mãos nos bolsos

Atendo a ligação de Damian e ignoro as batidas que Alex da no vidro da janela em que estou

- Luz?
A voz dele está baixa, preocupado

Ele sabe, ele sabe onde estou.

- Damian, o que eu faço?

Eu não me lembro da última vez que não soube o que fazer, não me lembro da última vez que demonstrei tanta fraqueza e sinceramente agora eu não me importo com isso, eu já enfrentei tanta coisa e agora me sinto tão, tão perdida e é como se eu estive me afogando em tantos sentimentos.

- Você faz oque você faz de melhor minha pequena Luz, você enfrente seus demônios.

Minha pequena Luz.

Essa frase estranhamente aquece meu peito

- Eu sei que você está assustada, eu te conheço o suficiente para saber disso! Mas te conheço também bem o suficiente para saber que você é capaz. E está na hora de enfrentar essa parte escura da sua vida!

Eu sei e não é como se eu não quisesse.

- Eu quero fugir Damian, fugir para longe.

Fecho os olhos com a minha confissão e as batidas de Alex na janelas continuam.

- Se você não quiser fazer isso hoje, está tudo bem você não precisa fazer hoje.

Encosto a cabeça no banco, ele sabe que não irei recuar que não irei embora.

- Qual a última vez que você me viu recuar?

Ele rir mas não é suficiente para esconder a preocupação que eu sei que ele sente agora

- Nunca, e é por isso que você pode fazer isso hoje pequena, você não precisa ser forte o tempo todo. Você é Estrela Petrova a garota mais forte que conheço e recuar hoje não te deixará mais fraca.

Não, não me deixará mais fraca mas fará eu atrasar aquilo que é inevitável, uma hora ou outra terei que enfrentar esse homem, essa dor e já que estou aqui não irei desistir.

Fecho os olhos com força, cinto até dez mentalmente e quando abro os olhos respiro fundo buscando força de cada gota de sangue existente em minhas veias.

Lembro de cada queda que levei na vida e levantei, cada golpe um mais forte que o outro que suportei todos esses anos.

Eu não sou mais uma garota assustada, eu sou a porra da mulher mais temida dentro do mundo sombrio, eu sou aquela que faz centenas de homens temer, eu sou o pesadelo dos piores homens desse mundo.

Eu sou Estrela Petrova Campbell, a morte!

- Prepare seu melhor whisky Damian, eu irei precisar quando retornar!

Coloco as mãos novamente no volante e dirijo portões a dentro.

- Você terá a porra da minha adega toda quando voltar!

Sorrio e desligo, abro a porta do carro e saio

Olho para traz vendo um Alex muito bravo e dou um sorriso ladinho para ele antes do meu rosto adquirir a máscara fria inabalável.

Com calma, dando um paço de cada vez eu chego próximo a Kevin, mantenho uma distância razoável e esperamos as portas serem abertas sinto Kevin me olhar mas eu não viro em sua direção para confirmar.

Alguns segundos depois uma mulher abre a porta e nos presenteia com um sorriso enorme e feliz, os olhos dela brilhavam tanto que eu até tentei sorrir de volta mas eu não consegui tirar a máscara de meu rosto e me limitei apenas a fazer um inclinar de cabeça.

Por cima dos ombros dela eu vejo ele.

Não mudou praticamente nada, sua barba rala continua bem feita mas agora existiam alguns poucos pelos brancos, seus cabelos que antes eram de um castanho claro agora estavam bem mais claros quase num tom de loiro escuro, ao redor de seus olhos existam algumas poucas rugas mas seus olhos verdes continuavam tão assustadores como da última vez que vi

Os olhos verdes que eu tanto odiei e fugir agora estavam fixos em mim, eu não desvio o olhar e muito menos baixo a cabeça para ele.

Meu olhar é sério, ausentes de sentimentos eu aprendi a esconder meus sentimentos muito bem e ele nunca irá saber oque me fez sentir a não ser que eu permita e nesse momento eu não tenho intensão nenhuma de fazer isso.

- Entrem meus filhos.

Meus filhos

Nunca odiei tanto essa frase como odeio agora.

Kevin entra na frente e eu preciso de um empurrão de Alex para fazer o mesmo

Meu coração erra uma batida quando Marlon, caminha em nossa direção e abraça Kevin.

E naquele momento, quando eu vi os dois juntos tão íntimos, foi naquele momento quando vir Kevin apertar ele em seus braços que eu percebi o quanto eu estava quebrada.

Foi naquele momento que eu tive a certeza que as minhas feridas não estavam cicatrizadas e foi quando pela primeira vez eu me dei conta que está ali só iria abrir novas feridas, que eu sairia daquela casa sangrando.








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