Chapter 64.

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16 de julho de 1939.

        Luke

"Sempre fui muito seguro de mim. Sempre tive tudo que quis, proporcionado pela família perfeita e estável e, principalmente, sempre dei tudo de mim para quem eu amo. Mas nunca, em toda minha vida, me senti tão amedrontado e inseguro como agora.

O ambiente a minha volta é um completo breu. Conforme caminho sem enxergar a superfície sob meus pés, observo minhas mãos trêmulas, balançando no paradoxo de estarem geladas enquanto transpiram. Algo em minha consciência traz a sensação de que eu deveria encontrar meus amigos aqui, mas o único que habita esse vazio sou eu.

Nada ao meu redor indica pistas de onde posso estar. Quando grito por alguém, o som não se propaga, e cada passo me leva para o mesmo local de partida: lugar nenhum. Meu coração começa a acelerar desmedidamente quando percebo a possibilidade de não encontrar uma saída. Odeio estar sozinho, sempre odiei. E ficar preso nesse espaço infinito e sem vida me causa o pior desespero que já senti.

– Olá? – grito pela milésima vez. Eu sei o que eu disse, mas não ouço nada.

Queria muito que alguém estivesse aqui.

Meus passos começam a cansar de seguir sem rumo, e quando estou prestes a desistir de forçar minhas pernas a ficarem em pé, sinto meu pisar mais leve. Algo mudou: é como se pudesse levemente flutuar entre um passo e outro. Isso me incentiva a tentar um pouco mais. Sempre fui tão teimoso que seria um erro desistir de tentar agora.

Sinto um vulto passando pelas maçãs do meu rosto e viro meu corpo para enxergar o que está atrás de mim. Sem surpresas, é exatamente igual ao que via à minha frente. Porém, quando volto a minha posição, um espelho surge tão de repente que, por pouco, não choco de frente com meu próprio reflexo.

– Deus, eu estou péssimo. – digo em sobressalto, quando percebo que, dessa vez, consegui ouvir minha própria voz.

Depois de acalmar os olhos arregalados, aproximo meu rosto do espelho e começo a reparar nas marcas que minha pele carrega. Observo detalhadamente as olheiras mais escuras e os olhos avermelhados, tocando em seguida as bochechas fundas e as pequenas cascas que se formaram em meus lábios ressecados.

– Isso não parece nada saudável. – ajeito minha postura e comento, preocupado.

– Ruim, não é? – salto para trás quando meu reflexo para de seguir meus movimentos e cria vida própria, ecoando minha voz pelo vazio.

– O que- – mal consigo me expressar quando sou interrompido.

– É horrível ficar sozinho. – ainda tento processar a informação de que meu reflexo estava falando comigo. Aquele era para ser eu, mas não era. Tinha um olhar perverso, esquisito, sua voz possuía um eco grave e tinha um sorriso de péssimo tom no canto dos lábios. – E não é irônico como, mesmo no meio de um vazio infinito, você ainda só está preocupado com o próprio reflexo?

Endireito minha postura novamente e comprimo o cenho, ficando um pouco mais confiante para me aproximar novamente do espelho. Encosto em suas molduras douradas e fico pasmo como o objeto está suspenso no ar, sem nenhum tipo de apoio.

– Como isso é possível? – desta vez, resolvo fazer perguntas, visto que, aparentemente, aqui só posso me comunicar comigo mesmo.

– Vê todas essas marcas horríveis? Seu rosto não é mais como antes, não é? – meu reflexo sorri para mim, mexendo em suas têmporas – Isso é o que acontece quando você perde tudo.

Fire Head ☞ H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora