Chapter 70.

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[Aviso de gatilho: violência]


08 de agosto de 1940.

       Harry

Minha cabeça estava longe. Muito, muito longe.

O cotovelo encostado na bancada gelada só servia de apoio para o rosto cansado repousado em minha mão. Os dias vinham sendo cada vez mais tediosos. Em vez de me acalmar, eles só deixavam mais espaço para pensar e aumentar o pânico crescente em meu peito.

Aquele não foi diferente. Era mais uma noite de segunda-feira nublada e abafada, a loja mantinha o movimento constante, porém baixo, e eu já estava cansado. Outro dia exausto. Não das tarefas que o senhor Peter havia me designado, e sim de outro dia sem saber como iria dormir e se iria acordar e viver o mesmo do dia anterior.

Um jornal ocupava minha mão livre, reforçando como a guerra havia avançado e Hitler já tinha suas mãos na França, tão pouco relutante antes de entregar Paris nas mãos do ditador. A notícia da vez era mais pessimista que as últimas lidas no mês passado, desde o primeiro ataque da Luftwaffe à Londres. Alguns pareciam ter a certeza de que a Inglaterra também não aguentaria os ataques e se ajoelharia em rendição à Alemanha. Outros, mais esperançosos, colocavam sua fé no constante sucesso da RAF contra o inimigo, embora os bombardeios parecessem longe de acabar.

Eu não sabia de nada.

E, sinceramente, nem sei se queria saber.

— Rapaz, vou para casa um pouco antes do horário. — A voz experiente de Peter veio dos fundos da loja, tirando os pensamentos restantes de buracos quase profundos demais. O mais velho pegou o jornal delicadamente de minha mão e dobrou embaixo do braço — Já te disse, Harry, para não ficar obcecado por essas notícias sensacionalistas. Não te farão bem.

— Eu sei... — abaixei a cabeça em derrota. Em um gesto de compaixão, ele apoiou a palma grande em meu ombro — Acho que estou procurando algum sinal de esperança.

— Pare de depositar sua esperança nas costas desses homens orgulhosos. Viva o hoje. Esteja presente. Está bem? — assenti silenciosamente — Ótimo. Se em vinte minutos não surgir mais nenhum cliente, pode fechar a loja e ir para casa. Não se esqueça de avisar as meninas lá no ateliê.

— Tudo bem.

— Ah! E, por favor, pode colocar aqueles sacos de farinha na dispensa dos fundos antes de fechar? — Peter disse quase na saída da loja.

— Pode deixar. — ofereci-lhe um meio sorriso — Boa noite, senhor Peter.

— Boa noite, rapazinho. Sejam discretos ao irem para casa. — seu corpo alto saiu em direção ao seu carro parado ao lado da calçada.

Logo que ele saiu, resolvi levar a farinha para os fundos e ficar livre da tarefa o quanto antes. Arrastando o terceiro saco em direção ao armário, ouvi cochichos vindos do ateliê onde Pam e Florence passaram a tarde toda.

Ele disse isso? — era a voz de Pam, levemente chocada.

Uhum. — Florence. Conhecia aquele murmúrio de longe.

Não era, de forma alguma, minha intenção ficar e bisbilhotar a conversa das meninas, mas nas duas tentativas de me afastar, meus pés ficaram grudados ao chão.

Sem mais nem menos? Ele disse isso e subiu as escadas? — Pam de novo.

Não foi sem mais nem menos. Houve um contexto, te falei sobre isso. Tivemos um momento esquisito antes do blackout interromper e depois ambos ficamos sem sono. O que acha que ele quis dizer?

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⏰ Última atualização: Sep 07 ⏰

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