Chapter 63.

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24 de abril de 1939.

       Florence

Meus olhos procuravam pelos meus amigos em meio àquela multidão, enquanto meus ouvidos eram preenchidos pela banda marcial em formação e minhas mãos não desgrudavam de Marcus e meus pais. Fazia algum tempo que havíamos saído de casa, mas – como Luke mesmo dizia – além de sermos sempre os atrasados, hoje estava tranquila em jogar a culpa para a enorme dificuldade de locomoção e o trânsito devido à cidade cheia.

– Ali estão eles! – meu pai apontou, pegou Marcus no colo e adentramos a multidão mais densa.

Era muito fácil perder crianças de vista nessa confusão, mesmo quando meu irmão já tinha quase onze anos e estava ficando grandinho demais para subir no colo.

– Finalmente. – relaxei os ombros – Vou até eles antes que comece.

– Divirta-se, meu bem. – minha mãe bagunçou meu cabelo – Vamos tentar conseguir um lugar perto da grade para assistir.

– Tentem nos acompanhar durante o caminho. – ajustei a boina de Marcus e lhe entreguei uma bandeirinha – Ano que vem você vem com a gente, mocinho.

– Estou ansioso. – o menino agitou a bandeira e meus pais o imitaram.

Sorri para minha família e corri até meus amigos que se aprontavam no meio da rua, atrás do pequeno carro alegórico.

– Finalmente! – colei nos braços de Harry, que me abriu um sorriso, quando Luke me repreendeu – Achei que não viria.

Lucas! – comecei a rir assim que reparei sua vestimenta – Por que está vestido de Shakespeare?! O verdadeiro William está lá na casa onde nasceu, esperando para liderar a parada.

– Porque eu quis... – o loiro se gabou, ajeitando a gola exagerada e redonda do século XVII em sua fantasia – Já que não sou velho o suficiente para fazer o papel do Shakespeare esse ano, teremos um segundo poeta aqui atrás.

– Uma versão falsificada. – Pam completou, amarrando os cadarços do sapato – Ele se esqueceu que civis desfilam de roupas normais. – depois, se levantou e me abraçou em cumprimento – Oi, amiga.

– Eu gostei, Luke. – Olivia o defendeu, aquecendo suas pernas para a longa caminhada. Me admirava ela topar participar conosco, mesmo tendo uma apresentação importante mais tarde.

Ignorei os comentários dos meus amigos e, quando notei que a banda estava pronta para começar a parada, me ajeitei ao lado de Harry. Meu amigo tinha ficado em silêncio até então, mas decidiu quebrá-lo:

– Ansiosa? – me cutucou com o cotovelo direito.

– Bem... Participar do primeiro desfile aos dezoito anos é mesmo bem especial. – a banda marcial finalmente iniciou a música e sacudi meus pés antes de começar a andar – Por que mesmo decidimos fazer isso?

– Acho que nos encorajamos por Ollie conseguir o papel de Julieta no balé de hoje, e decidimos que faríamos algo diferente no aniversário de 375 anos de Shakespeare. – meu amigo falava em alto em bom tom ao meu lado, enquanto olhava para frente e sorria para as pessoas que nos assistiam.

A cidade estava barulhenta e cheia de turistas: pessoas vindo dos quatro cantos do mundo, fãs e curiosos, para celebrar o aniversário do poeta mais famoso do planeta. Todo ano era assim e, pela primeira vez, eu e meus amigos fizemos um esforço para sermos convidados a desfilar junto dos convidados especiais, atores, guardas e a banda barulhenta e talentosa que liderava a parada.

Faziam poucos minutos que o desfile havia começado na Henley Street em direção ao Royal Shakespeare Theatre – onde nossa amiga dançaria mais tarde – e eu já estava desfrutando mais do que quando costumava assistir da grade, acenando com as bandeirinhas.

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