Capítulo 37

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UM MÊS DEPOIS

Valentina e José Miguel já haviam voltado para a casa deles no morro Mazatán. Felizmente nem a mulher e nem o bebê corriam mais risco de vida e com o marido sempre presente, ela até podia ter um pouco mais de liberdade, pois ele a ajudava quando era necessário. O único problema era que como dito antes, mas nunca mais conversado, José Miguel estava à frente do negócio de Alberto mesmo sabendo que a esposa era completamente contra. Já era hora do almoço, Valentina observava as panelas no fogão enquanto passava as camisetinhas de João Miguel e esperava o marido chegar em casa. Ele sempre lhe dizia que saía à procura de emprego enquanto ela cuidava da casa apenas até seu filho nascer, pois não abriria mão do seu sonho de ser médica. Ela nunca imaginou que estaria ali tão cedo, quase para ser mãe e cuidando de uma casa, mas foi o destino reservado para ela que aceitava de bom grado tudo o que lhe foi dado. Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da porta de casa se abrindo em um estrondo com José Miguel passando por ela e jogando o capacete e a chave da moto de qualquer jeito em cima da mesa.

− Amor, o que foi?! – Valentina desligou o ferro e se aproximou assustada.

− Eu não aguento mais esse inferno.

Valentina percebeu que os olhos de José Miguel estavam vermelhos e que ele chorava, mas não falou nada, pois ele continuou, vendo ela se sentar no sofá. Sua barriga estava muito pesada, ela não aguentava muito tempo em pé.

− Por que o Alberto teve que morrer e me deixar sozinho? Por quê?

José Miguel se jogou no chão em frente ao sofá onde Valentina estava sentada e a abraçou, soluçando. A mulher apenas retribuiu o abraço e esperou que ele se acalmasse. Ela sabia como Alberto era como um irmão para o marido e que a perda dele o abalou muito.

− Quer me contar o que aconteceu? – Valentina perguntou baixo depois que José Miguel se acalmou, acariciando o cabelo dele.

José Miguel sabia que se contasse a verdade a Valentina, ela poderia não perdoá-lo, mas ela precisava saber o motivo pelo qual ele poderia ser assassinado qualquer dia.

− Eu sei que você não quer que eu continue com isso, mas o Alberto só tinha a mim de confiança, eu não posso simplesmente largar tudo sem resolver o que está pendente antes. – José Miguel se levantou do colo de Valentina, mas não a encarou. – Acontece que o Ronaldo fez uma compra de cinco mil pesos no morro ao lado e desapareceu, agora estão cobrando de mim. Eu não tenho esse dinheiro, amor, eu não tenho. – ele colocou as mãos no rosto.

− José Miguel, às vezes eu finjo não saber das coisas para que não haja conflitos entre nós, mas acredite, eu sei de tudo. – Valentina suspirou, desviando o olhar. – Mas calma, nós vamos resolver isso. – ela respirou fundo. – Por que esses caras não cobram da família do Ronaldo? Seria o mais lógico.

− Porque há uma regra, tanto lá quanto aqui ou em qualquer outro morro, se algum funcionário comprar na conta de todo o grupo, nós somos os responsáveis para pagar.

− Que regra mais estranha. – Valentina revirou os olhos. – Mas mesmo assim eu acredito que o Alonso possa ajudar. Ele disse que quer estar a par de tudo que tenha a ver com o irmão dele.

− Verdade? – José Miguel encarou Valentina, com os olhos cheios de lágrimas.

− Sim, mas deixa que eu resolvo isso amanhã. Hoje eu estou vendo que você não está sóbrio. Vem comigo. – Valentina se levantou e estendeu a mão para José Miguel.

José Miguel segurou a mão de Valentina e se levantou, a acompanhando para o quarto. Ela sabia que aqueles olhos vermelhos dele não eram apenas de chorar e era muito triste de admitir, se José Miguel não saísse logo daquele meio, ele se envolveria nas drogas mais ainda. Antes de entrar no quarto, ela passou no fogão e o desligou, logo levando o marido ao banheiro e o ajudando a tomar um banho. Depois que o vestiu somente com uma cueca, ele caiu na cama e ela quis sair, mas ele agarrou sua mão.

− Não vai, fica aqui comigo. – José Miguel falou sonolento.

Valentina se deitou por trás de José Miguel sem soltá-lo e com a outra mão, acariciava o cabelo dele enquanto o observava dormir. Ela o amava tanto e não desistiria tão fácil de livrá-lo de vez das drogas, por ele e pela família que eles construíram juntos. Horas depois, ela sentiu fome e se levantou devagar, indo para a cozinha e se servindo, começando a comer perdida em pensamentos. Em algum tempo, José Miguel apareceu com o rosto inchado e também começou a se servir em silêncio.

− Tem suco na geladeira. – Valentina informou.

José Miguel assentiu e foi até a geladeira, servindo um copo de suco para si e se sentando para comer ainda em silêncio.

− Está tudo bem? – Valentina tentou quebrar o silêncio mais uma vez.

José Miguel terminou de mastigar para responder.

− Sim. Desculpa por... – José Miguel falava sem graça, mas Valentina o interrompeu.

− José Miguel, eu prometi que vou ajudar e vou, mas assim que tudo for resolvido, eu quero você longe disso. Meu filho não vai ser criado no meio das coisas erradas.

José Miguel assentiu de cabeça abaixada e assim se passou o jantar, em silêncio. Ele queria muito largar àquela vida, mas não era forte o bastante para conseguir. Ele não era um viciado e tinha consciência disso, o único problema era que sempre que acontecia algo ruim, ele só encontrava alívio nas drogas. Quando terminaram de comer, Valentina se levantou e pegou o próprio prato, mas José Miguel a impediu de pegar o dele.

− Deixa que eu lavo. Pode ir descansar. – José Miguel falou.

− Obrigada. – Valentina falou simples e foi para o quarto.

José Miguel lavou a pouca louça que tinha e arrumou a cozinha, pensando em pedir desculpas a Valentina mais uma vez, pois percebeu que ela havia ficado chateada e com toda razão, ele precisava ser um bom exemplo para João Miguel. Depois de terminar tudo, ele foi ao quarto, mas a mulher já dormia, o que o fez suspirar, ir ao banheiro apenas para escovar os dentes e se deitar, encarando a mulher, hesitando em se aproximar, mas terminou a abraçando com cuidado e ela se mexeu e resmungou um pouco, mas se aconchegou a ele ainda dormindo.

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José Miguel em mais uma crise e lá vai Valentina recorrer ao Alonso de novo :s

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