Capítulo 43

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José Miguel foi diretamente ao escritório que antes era de Alberto, mas passou a ser seu depois que assumiu o comando do tráfico. Como estava sozinho e sem nenhuma encomenda ou dinheiro no local, ele não trancou a porta, afinal só iria guardar alguns papéis no lugar certo e voltar para casa. Depois de fazer o que tinha que ser feito, ele já ia saindo, mas foi parado por uma pessoa que atravessou seu caminho e entrou no escritório, trancando a porta e ficando com a chave.

− O que está fazendo aqui? – José Miguel perguntou de olhos arregalados.

− Feliz em me ver, José Miguel? Posso apostar que minha cara foi a que você mais quis ver nos últimos tempos. – Ronaldo deu um risinho irônico.

− Cara, você está sendo procurado por toda a cidade há tempos. Sabia que você matou o Alberto, nosso melhor amigo?

− Eu não queria matá-lo, mas depois soube que isso te mandou para a cadeia, até que a culpa saiu de mim.

− Como você pode falar assim? – José Miguel negou com a cabeça, enojado.

− Eu só falei o que sinto, José Miguel. – Ronaldo deu de ombros. – Um dia eu prometi que iria fazer da sua vida um inferno e estou cumprindo.

− E se você não veio se entregar, o que veio fazer aqui, seu ódio é tão grande que você corre o risco de ser pego só para tripudiar de mim? – José Miguel abriu os braços.

− Pois é. – Ronaldo assentiu rindo, mas logo ficou sério. – Eu também vim dizer que é só o começo e que eu não vou desistir até ver você completamente sozinho, sem sua mulher e seu filho.

− Do que você está falando?! Eu não vou deixar você fazer mal a eles! – José Miguel falou vermelho e segurou Ronaldo pelo colarinho.

− Calma, cara, eu não estou dizendo que vou fazer algo com eles. – Ronaldo se soltou de José Miguel, ofegante, e se afastou para longe, ajeitando a roupa. – O que eu quero dizer é que vou devolver ao meu irmão a família que é dele. – ele voltou a sorrir.

− Agora eu tive a certeza de que você está realmente maluco. – José Miguel deu um risinho incrédulo e levantou a cabeça, passando a mão nos lábios. – Valentina é minha mulher, nós somos casados no papel e em breve seremos perante a igreja também, além de termos um filho lindo juntos. Nada do que você disser ou fizer irá mudar isso. – ele enfatizou, apontando para si próprio.

− Você pode até ter razão, mas e as suas atitudes, José Miguel? – Ronaldo perguntou e José Miguel franziu o cenho, confuso. – Porque eu conheço a Valentina desde que nasci, ela sempre foi uma mulher elegante, não sei como foi trocar o meu irmão que é da mesma classe que ela por um homem como você, um pobre viciado em drogas. – ele encarou o outro com desprezo. – Mas eu tenho certeza de que logo ela vai se cansar dessa vidinha medíocre, a única que você pode dar a ela, e vai voltar correndo para o meu irmão e pedir para que ele assuma essa criança porque ele não merece um pai tão baixo nível quanto você.

José Miguel ficou calado. Ele era seguro em relação ao amor de Valentina por ele, mas de certa forma Ronaldo tinha razão. O que garantia que não chegaria o momento em que ela o abandonaria por alguém melhor do que ele? Ele não tinha nada para oferecê-la, aliás, tinha coisas bem inferiores ao que ela já nasceu possuindo, mas de uma coisa ele sabia, poderia nunca dar certo com Valentina, mas João Miguel era seu filho e isso nem ela e nem ninguém tinha direito de tirar dele.

− Você é louco.

− Com o tempo você vai ver se eu sou louco mesmo, José Miguel. Depois você me fala. – Ronaldo riu maldoso e abriu a porta, saindo.

José Miguel se apoiou na mesa, respirando fundo, e passando a mão no cabelo. Ele não era nenhum exemplo de homem, Valentina poderia mesmo deixá-lo a qualquer momento e não querer que João Miguel crescesse perto de um pai que não tinha construído nada na vida. Ele guardou o rádio de comunicação no bolso e saiu do escritório, trancando a porta em um estrondo. Mas ao invés de ir para casa como prometeu a Valentina, ele foi ao morro vizinho e subiu diretamente para falar com Jonas, pois como era o novo chefe do tráfico do morro Mazatán, virou parceiro do outro.

− Eu preciso de cocaína. Depois eu pago.

Jonas assentiu e abriu uma gaveta, mostrando todos os tipos de substâncias ilícitas que tinha ali. José Miguel pegou inúmeros saquinhos de pó, tanto que perdeu a conta, e saiu de lá sem agradecer, indo ao bar mais próximo e comprando um litro de cachaça. Depois foi a um beco qualquer por ali e começou a se drogar e beber sem pensar em mais nada. Ele já estava fraco para lutar contra o vício e após as palavras de Ronaldo que ainda martelavam em sua cabeça, tudo piorou. Só estando muito louco para conseguir suportar o rumo que sua vida tomaria em breve.

                                                                             ~ * ~

Deu MUITO ruim :(

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