Capítulo 44

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À NOITE

Valentina passou o dia cuidando do filho e preocupada com José Miguel. A saída que ele disse que seria rápida durou o dia inteiro e mesmo sabendo que ele não atenderia, ela ligou para o celular dele que chamava até cair várias vezes e logo começou a dar desligado. Por mais que lhe doesse admitir, ela não conseguia mais lidar com o vício do marido sozinha. Depois de dar o jantar de João Miguel, ela o fez dormir e foi para a sala esperar a boa vontade do pai dele chegar. No momento em que pisou no lugar, a porta se abriu e José Miguel entrou, cambaleando.

− Onde você estava? – Valentina perguntou angustiada.

José Miguel simplesmente caminhou até Valentina e a beijou com violência. A mulher estranhou, pois ele costumava ser muito carinhoso com ela, mas ele lhe beijava e apertava seus braços com tanta força que chegava a machucá-la, fazendo ela perceber também o forte cheiro de bebida que vinha dele.

− Me solta, José Miguel, você está bêbado, eu não quero assim. – Valentina tentava se esquivar dos beijos de José Miguel.

Mas José Miguel era mais forte que Valentina e continuou a beijando mesmo ela dizendo que não queria. Ele a arrastou até o sofá e a empurrou, se deitando por cima dela.

− Me solta! O que deu em você?! Eu não quero! – Valentina gritava, tentando empurrar José Miguel de cima dela.

Com toda a gritaria, João Miguel se acordou chorando e isso fez José Miguel voltar a si. Aproveitando que ele mal se sustentava em pé e estava distraído, Valentina o empurrou e se levantou, ajeitando a própria roupa.

− Não se aproxime de mim! – Valentina enfatizou e foi ao quarto de João Miguel.

José Miguel passou a mão no cabelo, se dando conta do que fez. Valentina nunca o perdoaria e nem ele achava que merecia perdão, pois não sabia o que tinha dado nele, só queria provar à mulher que ela seria dele para sempre, mas fez tudo errado e aconteceu o contrário, ele tinha certeza de que havia era a perdido de vez. Ele foi atrás de Valentina no quarto de João Miguel e seu coração se quebrou ao vê-la abraçar o filho protetoramente enquanto chorava e o encarava, magoada.

− Valentina... – José Miguel tentou falar, mas Valentina o interrompeu.

− Vai embora. Eu não quero você perto da gente.

− Você não pode fazer isso. Eu também moro aqui.

− E quase nunca está quando precisamos. Agora eu não faço questão nenhuma da sua presença.

− Me perdoa. – José Miguel começou a chorar.

− Sai daqui. Me deixa sozinha com o meu bebê, por favor. – Valentina fechou os olhos enquanto sentia grossas lágrimas descerem pelo seu rosto.

José Miguel sabia que não conseguiria mais nada além de machucar mais Valentina se tentasse falar naquele momento, então simplesmente virou as costas e saiu do quarto. Somente quando escutou a pancada na porta da sala, Valentina se entregou ao choro de verdade. Ela viu que João Miguel já estava calmo, o colocou no berço com cuidado depois de dar um beijinho em sua testa e se sentou no chão lá mesmo, chorando dolorosamente. Para ela, estava impossível suportar aquela situação, ela tentou por meses em nome do amor que sentia por José Miguel e pela sua família, mas o que havia acabado de acontecer ali foi a gota d'água para ela ver que jamais conseguiria ser feliz se o homem não aceitasse que era um viciado em drogas e procurasse tratamento. Ela não queria que o filho crescesse em um ambiente como aquele, vendo o pai tendo crises horríveis e tomando-o como exemplo. Por sorte ele ainda era muito pequeno e não o viu tentando abusar da mãe, logo José Miguel, o homem mais carinhoso do mundo que jurou protegê-los, no momento só representava uma ameaça para os dois. Já mais calma, Valentina se levantou e começou a ajeitar as coisinhas do filho em uma mala, não levaria muita coisa, afinal ele tinha tudo na casa de Rogério e Cecília. Depois de pronta, ela deixou a mala em um canto e já ia saindo para o próprio quarto, mas voltou, pegando o bebê e o levando junto com ela, pois não queria correr o risco de José Miguel voltar e se aproximar dele. Seu coração doía, mas ela não o queria perto do filho naquele momento, sabia que não poderia impedir para sempre, afinal era o pai dele, mas cuidaria para que ele só chegasse perto daquela criança quando estivesse sóbrio. Ela colocou João Miguel na cama com alguns travesseiros ao redor e também arrumou uma mala para ela. Quando estava tudo pronto, ela pegou um bebê conforto de cima do guarda roupa e ajeitou o filho de maneira confortável dentro dele, enganchando com uma mão e segurando as malas com esforço com a outra. Ao sair de casa, ela encontrou José Miguel entrando e ele arregalou os olhos ao perceber o que ela faria.

− Para onde você vai?!

− Para a casa dos meus pais. Eu não aguento mais viver assim, José Miguel. – Valentina suspirou.

− Você não pode fazer isso, essa é a nossa casa que nós tanto idealizamos. Eu prometo que não vou mais fazer... – José Miguel falava e Valentina o interrompeu.

− Eu já estou cansada das suas promessas. Você nem sequer aceita se tratar sendo que essa é a única maneira que eu poderia te ajudar. O que mais você quer que eu faça, que eu fique esperando você me bater? Porque foi isso que ia acontecendo aqui hoje, você cometeu violência contra mim.

− Também não é assim, Valentina. Eu jamais seria capaz de fazer mal a você.

− Essa versão sua que está aqui na minha frente, o meu José Miguel, o homem que eu amo, sóbrio, não mesmo. O problema é quando você se transforma e deixa o vício tomar conta de você.

− Valentina, não vai, por favor. – José Miguel se aproximou, tomando a frente da porta.

− Me deixa ir, José Miguel, é o melhor para nós dois e principalmente para o nosso filho. Ele não merece crescer dessa forma. – Valentina abaixou a cabeça, desviando de José Miguel.

− E você vai me deixar vê-lo?

− Claro, você é o pai dele, mas por favor, só me apareça sóbrio porque do contrário, vai ser com muita dor no coração que eu vou impedir qualquer aproximação. – Valentina enfatizou. – Agora eu vou, até logo.

Valentina ia saindo quando José Miguel a puxou pelo braço e uniu seus lábios enquanto ambos choravam. Não tinha jeito, ainda não era o fim, mas José Miguel precisaria lutar muito para que não se tornasse.

− Não venha atrás de mim. Por favor, não torne as coisas mais difíceis. – Valentina enfatizou com a voz embargada e saiu rápido.

José Miguel nem sequer teve coragem de ir atrás de Valentina, mais uma vez estava sem família e por sua culpa, ele perdeu sua mulher e seu filho que eram tudo que ele tinha de mais precioso na vida. Ele ia saindo para buscar mais drogas, mas parou. Foi por causa delas que as coisas se complicaram, ele ia tentar se segurar ao máximo para provar à esposa que conseguia se controlar sozinho. Então ele foi à cozinha, encheu um copo de água, tomou mais um dos calmantes que Valentina lhe deu e foi para o quarto, se jogando na cama sem dar tempo nem de pensar em sentir o cheiro da mulher nos lençóis antes de adormecer. Com Valentina, ela desceu o morro com cuidado, afinal carregava as malas e João Miguel, além das lágrimas estarem embaçando sua visão. Ela colocou o bebê conforto no banco da frente do seu carro conversível e jogou as malas no banco de trás, logo afivelando o cinto do seu filho e entrando no banco do motorista, olhando mais uma vez para o morro e suspirando.

− Nós vamos ficar bem, meu filho.

Valentina enxugou as lágrimas e ligou o carro, apertando o botão para fechar o teto do carro pela segurança e para o sol não pegar João Miguel. Ela dirigia calmamente para a casa dos seus pais se concentrando ao máximo no trânsito, afinal levava seu filho e tinha que ter responsabilidade com ele.

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Primeiramente não me matem. Será que esse casamento ainda tem jeito? :(

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