ALGUM TEMPO DEPOIS
Valentina se adaptava aos poucos com a nova realidade da sua vida. No momento ela estudava sem parar e cuidava de João Miguel com a ajuda de Celina, uma jovem babá que ficava com ele enquanto a mãe estudava. Sobre o tratamento da talassemia, nada de novo ainda tinha aparecido, mas Valentina tinha fé de que em breve as coisas melhorariam. Ela se arrumava junto com o filho para mais uma consulta semanal. Sua preocupação era que João Miguel ainda nem sequer se arrastava no chão quando na verdade já deveria estar começando a tentar dar seus primeiros passinhos. Mesmo ela sabendo que aquilo poderia acontecer, seu coração não deixava de se apertar ao pensar no agravamento da doença.
− João, vem para a tia passar perfume. – Celina entrou no quarto e foi à cama de Valentina, onde João Miguel brincava e era observado pela mãe que arrumava o cabelo em frente ao espelho. – Está tudo bem, Valentina? – ela perguntou ao ouvir a mulher suspirar.
− Eu estou com medo do que o médico tem para me dizer hoje. – Valentina mordeu o lábio inferior.
− Fique tranquila, eles são capacitados para cuidar do seu bebê, nada de ruim vai acontecer.
− Eu sei, mas é que eu vim para cá com outra perspectiva, sabe? – Valentina se sentou na cama, do outro lado de João Miguel. – Eu pensei que aqui teríamos um tratamento diferente e mais rápido, mas na verdade está tudo igual. Certo que esse não foi o único motivo que me fez ir embora do meu país, mas é que às vezes eu me sinto tão sozinha nesse lugar. – ela encarou Celina. – Me desculpe, Cel, eu não estou desdenhando da sua companhia, eu realmente sou grata pela sua ajuda e amizade, mas eu falo mais de alguém que entenderia exatamente o que estou sentindo, coisa que eu acredito que só o pai dele entenderia.
Celina era brasileira e foi tentar a vida nos Estados Unidos, mas acabou sendo enganada pela dona da pensão que ela pretendia morar. Depois de ter feito a transferência do dinheiro de alguns meses de aluguel, a mulher desapareceu no mundo, a deixando sem lugar para viver. Foi quando Valentina a conheceu no novo cursinho que estudava e ao saber da história da moça, viu a oportunidade perfeita de ajudar uma pessoa e conseguir uma babá para João Miguel, a chamou para morar com ela na enorme cobertura da família e desde então construíram uma bela amizade.
− Eu entendi o que você quis dizer, não se preocupe. – Celina apertou a mão de Valentina. – Ele nunca mais ligou mesmo?
Como nas noites em que João Miguel passava em claro lhes sobrava muito tempo, Valentina e Celina se puseram a contar tudo sobre a vida uma da outra e a mulher aproveitou para desabafar sobre José Miguel.
− Não, e na verdade eu nem espero mais. Acho que aconteceu o que a minha Nana disse, o meu plano deu errado e ao invés de fazê-lo lutar contra as drogas, ele se afundou mais ainda nelas longe da gente. – Valentina desviou o olhar.
− Mas você já tentou procurá-lo, saber dos seus pais ou de alguma amiga?
− Sim, eles disseram que José Miguel desapareceu do mapa assim que subi naquele avião, nem mesmo apareceu mais na nossa casinha do morro. – Valentina forçou um sorriso para João Miguel que lhe entregou um boneco de plástico.
− Eu sei que nada se compara a tê-lo aqui, mas você sabe que pode sempre contar comigo. Você e o João são a minha família aqui e eu farei de tudo por vocês.
− Obrigada, amiga. – Valentina sorriu de leve e abraçou Celina. – Agora vamos, senão a gente se atrasa. – ela se levantou e estendeu os braços para João Miguel. – Vamos, filho?
João Miguel deu um gritinho animado e se jogou nos braços de Valentina que riu junto com Celina.
− Esse menino adora um passeio, é impressionante. – Celina falou rindo enquanto carregava a bolsinha com os pertences de João Miguel.
− Convivência com você. – Valentina riu quando Celina mostrou a língua a ela.
Celina trancou o apartamento e saiu junto com Valentina em direção ao estacionamento, onde instalaram João Miguel no carro e foram para o hospital cantando músicas infantis que o menino gostava. Cerca de trinta minutos depois, eles chegaram e foram imediatamente atendidos.
− Realmente, Valentina, a anemia ainda é bastante considerável. – o doutor Bruce falou, examinando os olhos de João Miguel que estava sem camisa e sentado na maca. – Mas é normal, mesmo sem a talassemia, uma pessoa demora mais ou menos três meses para se curar de uma anemia completamente, imaginem um bebê talassêmico. No momento o que podemos fazer é continuar com as vitaminas e transfusões. Podem vesti-lo. – ele falou, retirando as luvas e lavando as mãos.
− O que me preocupa é ele não estar nem sequer tentando andar ainda. – Valentina suspirou segurando a mão de João Miguel enquanto Celina vestia sua camisa.
− Mas aí nós temos que checar o que realmente está acontecendo porque algumas crianças têm medo de se arriscarem mesmo ou pode estar acontecendo algum endurecimento dos ossos como era previsto. Vocês já tentaram fazê-lo andar?
− Sim, nós já fizemos de tudo, mas parece que as perninhas dele não se sustentam sozinhas.
− E se a gente tentasse agora?
Celina e Valentina assentiram e a mãe de João Miguel o colocou no chão, trocando de lugar com Celina que ficou em pé atrás do menino, segurando suas mãos, e Valentina se ajoelhou há poucos metros de distância.
− Vem, filho, vem para a mamãe. – Valentina tentava disfarçar sua preocupação com um sorriso para João Miguel.
Celina soltou João Miguel aos poucos e quando o menino tentou dar alguns passos para Valentina, ele se sentiu fraco, mas foi agarrado pela mãe antes de cair.
− Pronto, meu amor. – Valentina abraçou João Miguel com força, se levantando e beijando seu rosto enquanto segurava o choro.
Bruce e Celina se encararam com pena. Cada vez que João Miguel se mostrava pior da doença, Valentina tentava se manter forte mesmo que estivesse visivelmente abalada.
− Sentem-se. – Bruce pediu se sentando por trás da mesa e vendo Valentina e Celina fazerem o mesmo em frente a ele.
− Você viu como é? – Valentina perguntou com a voz embargada.
− Sim, mas nós não podemos tirar conclusões precipitadas porque isso pode estar acontecendo por diversos fatores. Eu vou pedir um exame para vermos como está a calcificação dos ossos dele. – Bruce falou escrevendo e entregou o papel a Valentina. – Quando tiver o resultado, vocês vêm para o retorno.
− Se for algum problema, o que podemos fazer? – Valentina perguntou hesitante.
− Não vamos apressar as coisas, Valentina. Eu prefiro primeiro esperar o resultado dos exames. – Bruce suspirou.
Valentina assentiu, agradecendo e apertando a mão de Bruce. Ela só desejava que aquele pesadelo acabasse e João Miguel ficasse completamente curado.
~ * ~
O plano de Rogério foi revelado, ele não quer que Valentina saiba que José Miguel está se tratando.
E o bebê só piora. O que será que vai acontecer? :(
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Adicta A Ti
FanfictionValentina Villalba era uma moça muito bonita, inteligente e boa. Filha única de família tradicional, ela foi prometida em casamento ao filho de um casal de amigos dos seus pais, Alonso Peñalvert, que vinha a ser seu melhor amigo e o homem a quem ela...