Capítulo 99

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SEMANAS DEPOIS

Valentina e José Miguel seguiam suas vidas ainda como amigos e nem haviam voltado ao assunto de ficarem juntos como casal, pareciam mais como na época em que Alonso estava vivo e ocupando seu espaço de marido. Naquele dia, a mulher estava de folga e depois de deixar João Miguel na escola, ela voltou para casa e começou a fazer uma pequena faxina no local, pois com a pandemia, era complicado contratar alguém de fora principalmente pelo menino ser do grupo de risco e não poder nem pensar em pegar a tal doença do vírus, então ela mesma tinha que dar conta de tudo. Ao contrário dela, José Miguel precisava trabalhar todo dia, mas depois de terminar todo o serviço, ele ficou pensativo em sua cadeira. Há tempos ele tinha largado o tráfico e o vício em drogas, tanto que nem morava mais no morro Mazatán por vários motivos, além de ir e vir com o filho todos os dias e ser mais fácil estar na cidade, ele também tinha que fugir de qualquer recaída que viesse a acontecer mesmo depois de anos e ele sabia que essa situação continuava no morro, só não sabia quem continuava tomando conta de tudo. Mas aquele lugar, apesar das desgraças que viveu lá, era importante para ele, pois conhecia quase todos de infância e eles lhe ajudaram a sobreviver sem os pais. Ele tinha certeza de que quem usava droga ali era como ele, por não ter oportunidades na vida, terminava mergulhando em coisas erradas, mas e se todos tivessem outra chance como ele teve, o morro se tornaria um lugar pacífico onde só vivia gente de bem? Ele tinha uma ideia em mente, mas precisava da ajuda da pessoa mais importante que o tirou daquela vida e tinha certeza de que ela entraria naquilo com ele com todo prazer, por isso pegou o celular e discou.

INÍCIO DA LIGAÇÃO

− Oi, José Miguel. – Valentina atendeu e colocou o celular apoiado no ombro enquanto limpava a estante da sala.

− Valentina, tudo bem com você?

− Sim, e aí? – Valentina perguntou estranhando a pergunta.

− Eu queria conversar com você sobre um assunto. Podemos almoçar juntos hoje?

Valentina estranhou mais ainda. O máximo que ela via José Miguel era à noite por causa de João Miguel.

− Claro, mas você pode me adiantar o assunto? É algo grave? – Valentina se preocupou.

− Não, na verdade é sobre um projeto que estive pensando e acho você a pessoa perfeita para me ajudar.

− Ah, tudo bem, já sei que vou amar. – Valentina e José Miguel riram. – Então nos vemos em uma hora no restaurante de sempre? – ela olhou o relógio da parede e viu que se aproximava do meio dia, a hora que o homem era dispensado no trabalho.

− Perfeito. Obrigado.

− Até já.

FIM DA LIGAÇÃO

Valentina terminou de limpar a sala, afinal era o último cômodo que faltava, e foi tomar um banho para se vestir com uma roupa bem casual por ser durante o dia em um restaurante simples, o mesmo que ela contou sobre sua gravidez e que passou a frequentar com José Miguel quando estavam juntos. Na hora marcada, Valentina adrentava no restaurante e encontrou o homem já a esperando em uma mesa afastada enquanto tomava uma água.

− Oi. Espero não ter demorado. – Valentina fez o cumprimento com o cotovelo com José Miguel, o mais "novo normal" na época em que não podiam se tocar com frequência.

− Imagina, eu que me adiantei. – José Miguel se levantou para puxar a cadeira para Valentina.

− Obrigada. – Valentina falou depois de acomodada e de ver José Miguel voltando a se sentar à sua frente. – E aí, qual é esse projeto? Estou curiosa. – ela riu.

Antes que José Miguel respondesse, um garçom se aproximou para anotar os pedidos e ele sabia exatamente o que Valentina pediria. Ele ainda conhecia seus gostos tão bem.

− Bom, é que eu andei pensando e você sabe que o tráfico no morro Mazatán ainda é muito presente, não é? – José Miguel perguntou após o garçom sair e Valentina assentiu, prestando atenção nele. – Então, por experiência própria, isso acontece por falta de oportunidades. Você viu de perto a realidade deles, são pessoas muito pobres, que muitas vezes não sabem ler e por isso não conseguem um emprego decente e terminam caindo no mundo das drogas. O que eu pensei é que poderia existir um programa de inclusão dessas pessoas na sociedade, de estudos, de cursos profissionalizantes e até acompanhamento psicológico, o que você acha? – ele encarou a mulher, animado.

Valentina sorriu ao ver a empolgação de José Miguel em ajudar. Ele mesmo viveu na pele todo o descaso que o resto do mundo tinha com as áreas mais pobres, por isso era tão importante para ele fazer o possível para ajudar.

− Eu acho perfeito, José Miguel, com certeza você pode contar comigo para ajudar. – Valentina e José Miguel abriram um grande sorriso um para o outro. – Só temos um problema, essa pandemia, nós não podemos fazer aglomerações. – ela fez careta, coçando a cabeça.

− Verdade, eu não tinha pensado nisso. – José Miguel suspirou, desviando o olhar.

− A menos que... – Valentina parou de falar e ficou pensativa.

− O quê? – José Miguel encarou Valentina.

− José Miguel, isso não é muito correto, mas como é por uma boa causa... – Valentina respirou fundo. – Chegaram umas vacinas para os funcionários do hospital, eu acho que sobraram algumas, posso pedir para o meu pai e a gente faz nas pessoas que se interessarem em participar do projeto e fazemos tudo em horários diferentes para não ter muita aglomeração.

Nesse momento o garçom chegou para servir o almoço de Valentina e José Miguel e após eles agradecerem, ele se retirou novamente.

− Perfeito. – José Miguel sorriu. – Mas você acha que o seu pai vai liberar?

− Tenho certeza que sim, principalmente quando souber o que iremos fazer.

− Então eu aguardo sua resposta.

− Claro, vou ligar para ele assim que terminarmos aqui. – Valentina começou a comer.

José Miguel assentiu e ambos terminaram de comer planejando o funcionamento do projeto. Após uma pequena discussão para ver quem pagaria a conta, o homem venceu e ele acompanhou Valentina até lá fora para ela pegar o carro e ir buscar João Miguel quando ela se lembrou de uma coisa importante.

− José Miguel, você já pensou em onde podem ocorrer as reuniões?

− Eu vou tentar arrumar a casa de alguém.

− Por que nós não fazemos na nossa casa? – Valentina percebeu o que falou e tentou consertar. – Digo, na sua casa. Você ainda a tem, não? – ela engoliu o seco, desviando o olhar e coçando o pescoço.

− Sim, eu jamais iria me desfazer da nossa casa. – José Miguel enfatizou e virou o rosto de Valentina para ele. – Não precisa ficar assim, aquela casa nunca deixou de ser sua, é um lugar muito importante para nós dois porque foi lá que construímos a nossa família. – ele falou e ela sorriu sem graça, abaixando a cabeça. – Bom, eu acho que pode dar certo, basta a gente fazer uma limpeza e ligar a energia novamente. – José Miguel mudou de assunto ao perceber o desconforto de Valentina e riu.

− Eu posso ajudar na limpeza. – Valentina sorriu aliviada pela conversa ter voltado à normalidade.

José Miguel assentiu e Valentina logo se despediu dele, indo buscar João Miguel na escola e partindo para casa, resolvendo apenas o assunto das vacinas com Rogério e passando o resto do dia à disposição do filho.

                                                                      ~ * ~

Esse projeto será top <3

Aguardem muitoooo o capítulo de amanhã <3

E assim estamos bem perto do final :( <3

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