Capítulo 78

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À NOITE

Valentina já estava no hospital há horas e não havia parado de trabalhar um minuto, sempre atendendo na emergência e de olho nos pacientes internados. Quando enfim ela achou que teria um descanso e ia à lanchonete se sentar um pouco, uma voz soou no alto falante.

− Doutora Valentina Villalba, por favor, comparecer à emergência.

Valentina revirou os olhos, suspirando e dando meia volta. Ela amava seu trabalho, mas aquele dia já passava de agitado. Enquanto a mulher atendia seu paciente, longe dali, José Miguel parou de trabalhar ouvindo o que o alto falante disse, já que se dava para ouvir em todo o hospital. Não era possível que existissem duas pessoas com o mesmo nome, a mesma profissão e justamente naquele hospital, seria coincidência demais. Ele nem pensou muito e saiu correndo, mas um segurança o parou.

− Ei, aonde pensa que vai? – o segurança perguntou segurando o ombro de José Miguel.

José Miguel se lembrou de que Rogério o havia proibido de sair daquele andar do hospital e naquele momento tudo fez sentido. Estava claro que ele fez aquilo para impedir um encontro seu com Valentina. Mas o que ela estava fazendo ali? Se ela foi chamada à emergência era porque trabalhava lá, então ela estaria morando no México novamente? No meio de vários pensamentos sobre a mulher, ele pensou numa desculpa rápida para o segurança.

− Tomar um café. – José Miguel falou rápido e se desvencilhou do segurança, saindo antes dele contestar.

José Miguel correu até o elevador e apertou o botão várias vezes, mas nada de sair do lugar, então ele esmurrou a porta e desceu correndo pela escada, só parando na emergência do hospital, onde várias pessoas estavam internadas e vários médicos andavam de um lado para o outro, exceto uma mulher de longo cabelo castanho escrevia algo de costas para a porta, fazendo José Miguel caminhar até ela e virá-la pelo braço.

− Desculpe. – José Miguel falou sem graça ao ver que a moça que agarrou não era Valentina, a soltando.

José Miguel correu de volta e parou na recepção, onde duas mulheres trabalhavam sem parar, uma atendendo uma paciente e a outra digitando no computador.

− Por favor, a Valentina. – José Miguel falou ofegante e apressado. – A doutora Valentina Villalba, onde está? – ele voltou a perguntar quando viu o olhar confuso da recepcionista.

− Bom, ela foi em direção à lanchonete, mas eu não sei se... – a recepcionista falava, mas José Miguel a interrompeu.

− Ótimo, obrigado. – José Miguel fez sinal de legal com a mão e voltou a correr.

José Miguel chegou à lanchonete que também estava lotada de pessoas, a maioria sentada em dupla nas mesas enquanto comiam e conversavam. Mas o que lhe chamou a atenção foi a mulher que estava em pé, à procura de uma mesa livre. Era Valentina com toda certeza porque ele a viu de frente. Ela estava diferente, mas ainda mais linda. O que mais tinha mudado era seu cabelo que antes era longo, tanto que ele adorava puxar nas horas de prazer, mas no momento estava bem mais curto, um pouco abaixo dos ombros. Seu corpo estava ainda mais esbelto e cheio de curvas, a gravidez deixou sua cintura larga e suas pernas e seios maiores e o rosto não conseguia ver por conta da máscara que o cobria, mas ele podia apostar que era o mesmo rostinho afilado de antes. O homem perdeu o chão ao vê-la e quando deu por si, já caminhava até ela.

− Valentina.

Valentina levantou a cabeça e segurou firme a bandeja com a comida que estava em suas mãos para não derrubar. Por que José Miguel sempre aparecia do nada, quando ela nem estava pronta para vê-lo? Como ele estava bonito, mais forte, cabelo penteado e o rosto, ela não conseguiu ver pela máscara, mas mesmo assim dava para ver os seus olhos penetrantes que sempre a hipnotizavam. Ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos e repetindo que tinha de se concentrar. Era José Miguel, seu ex marido que sumiu por anos e tanto fez João Miguel, a pessoa mais importante da sua vida, sofrer com sua ausência. O homem que a amava de verdade estava a esperando em casa, cuidando de um filho que nem era dele, mas era amado como se fosse e era a ele que tinha que amar e o amava.

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