Capítulo 97

94 8 3
                                    

DIAS DEPOIS

Aos poucos, Valentina se acostumava com a sua nova vida e tentava ao máximo não mudar a rotina de João Miguel. Como ela não podia contratar uma babá por conta da pandemia, ela flexionava seus horários no hospital e quando tinha plantão à noite, José Miguel cuidava do filho, já que só trabalhava pela manhã. Por falar nele, estava se mostrando um ótimo amigo e companheiro para Valentina e apesar da enorme vontade que sentia de beijá-la, ele nem sequer pensava quando estava perto dela, pois queria que ela ficasse com ele quando se sentisse pronta para recomeçar o relacionamento deles e ter a certeza de que ele não era o José Miguel imaturo que era seu marido há anos atrás. Em uma noite normal de plantão, Valentina tomava um café tranquilamente em seu escritório quando o botão de emergência soou e ela correu, se deparando com uma mulher que chorava com um menino desacordado nos braços e acompanhada de um homem de terno e gravata.

− Por favor, salva o meu filho. – a mulher pediu chorando.

− Calma. – Valentina tirou o menino, que tinha provavelmente a mesma idade de João Miguel, dos braços da mulher. – O que aconteceu? – ela perguntou o deitando em uma maca que as enfermeiras já tinham arrastado para perto.

Valentina percebeu que o casal havia se encarado, mas logo a mulher se voltou para ela.

− Ele... Ele caiu da escada, foi isso. – a mulher falou e abaixou a cabeça, colocando a mão na boca.

Valentina ergueu a sobrancelha, estranhando a forma daquela mulher falar, principalmente pelo menino estar tão machucado que não parecia ser uma simples queda, mas ela não estava com tempo de investigar, então apenas assentiu.

− Levem-no para a sala de curativos, rápido! – Valentina falou para as enfermeiras que saíram empurrando a maca apressadamente. – Vocês podem ir para a sala de espera, assim que eu tiver notícias, eu aviso. Com licença. – ela não esperou resposta e seguiu pelo mesmo caminho que as enfermeiras fizeram com o menino.

Lá dentro, Valentina esperou que as enfermeiras limpassem os ferimentos do menino para examiná-lo e aparentemente ele não tinha quebrado nenhum membro, mas mesmo assim ela pediu todos os tipos de exames e estranhou ao ver que tudo estava na mais perfeita ordem, exceto por algumas manchas roxas nos braços e nas pernas da criança e um inchaço bastante notável no nariz. O ferimento do nariz tinha mesmo característica de uma queda de escada, mas as manchas no corpo não lhe davam total certeza do que havia acontecido, por isso pediu um exame de sangue e enquanto era coletado, foi à sala de espera dar notícias aos pais, os chamando para o seu consultório.

− Bom, nós realizamos alguns exames no... – Valentina leu o nome do menino e dos responsáveis, Paula e Marcos, no prontuário após chamar os pais para o consultório dela. – Enrico e não houve nenhum dano nos ossos e nem nos órgãos dele. O que me chamou atenção foi algumas manchas roxas nos membros inferiores e superiores, mas pela cor, é bastante notável que elas já existem há dias. Vocês têm certeza de que ele não sofreu nenhuma pancada nesses últimos dias?

− Não, eu passo o dia inteiro com ele e tomo muito cuidado para ele não se machucar. – Paula falou nervosa.

Valentina assentiu desconfiada. Era essa a desvantagem de ser pediatra, porque as crianças não sabiam dizer o que sentiam, dependendo assim dos responsáveis que muitas vezes escondiam o que tinha acontecido para que não descobrissem suas negligências e acabavam influenciando no diagnóstico. Mas aquele caso parecia ser muito mais do que uma única negligência e por isso Valentina precisaria investigar.

− Sei. Em todo caso, nós já realizamos um exame de sangue para investigarmos mais a fundo. Já adiantando, eu gostaria de saber se na família tem algum caso de doença genética no sangue.

Adicta A TiOnde histórias criam vida. Descubra agora