Capítulo 92

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Valentina entrou em casa, conversando animadamente com João Miguel que vinha pulando na frente. Apesar dos problemas que o menino enfrentava, ele era bastante feliz e quando não estava se sentindo fraco por causa das transfusões, brincava normal como qualquer criança. A mulher colocou a mochila do filho e sua bolsa em cima do sofá e já ia chamá-lo para tomar um banho quando a porta se abriu em um estrondo. Para Ronaldo, não foi difícil de entrar no prédio enquanto os porteiros trocavam de turno, foi só pegar a chave reserva escondido e subir pela escada que quase ninguém usava até o apartamento que Alonso sempre morou quando era solteiro.

− Feliz em me ver, Valentina? – Ronaldo abriu o mesmo sorriso de sempre.

− Quem é esse homem, mamãe? – João Miguel perguntou com medo da aparência sombria de Ronaldo.

Valentina não respondeu, apenas segurou no ombro de João Miguel e o colocou atrás de si. Era claro que ela se lembrava bem de Ronaldo, apesar de nunca ter convivido muito com ele, já que ele sempre vivia por aí com mulheres e usando drogas, não era a toa que era o melhor amigo de José Miguel na sua época de juventude. Mas o que ela sabia também era que o homem não gostava muito dela desde que ela deixou Alonso pelo pai do seu filho.

− O que você está fazendo aqui, Ronaldo? – Valentina perguntou tentando não parecer amedrontada.

− Eu vim terminar o que comecei. – Ronaldo puxou uma arma de dentro da calça e apontou para Valentina.

Valentina se assustou ainda mais, se ajeitando em frente à João Miguel de modo que nada o atingisse e também que ele não visse o que estava acontecendo. Ela calculou a distância de onde estava para o sofá onde deixou as bolsas para tentar ligar para alguém, mas teve medo de sair e ele atirar no filho dela.

− Ronaldo, pelo amor de Deus, não faz nada que possa se arrepender depois. – Valentina falou com a voz trêmula.

− Valentina, eu matei o meu melhor amigo. Você acha mesmo que vou me arrepender de matar uma vagabunda feito você?

Valentina fechou os olhos com força, se controlando para não gritar e Ronaldo engatilhou a arma. A única coisa que a mulher pensava era em não deixar que o tiro atingisse João Miguel. O homem se preparou para atirar e Alonso entrou rápido.

− Ronaldo, não! – Alonso se colocou na frente de Valentina.

Tudo aconteceu em milésimos de segundos. No momento em que Alonso se atravessou no meio, Ronaldo apertou o gatilho e o tiro atingiu diretamente o peito de Alonso. Todos arregalaram os olhos e Ronaldo só voltou a si depois do grito de Valentina, fazendo com que ele jogasse a arma no chão, atônito por ter atirado no próprio irmão.

− Eu matei o meu irmão. – Ronaldo repetia freneticamente, andando de um lado para o outro.

Ronaldo não sabia o que fazer, era para Alonso estar chorando a morte de Valentina e não o contrário, maldita hora que ele se meteu na frente daquela bala. Ronaldo passou anos fugindo da polícia, mas naquele momento, ele achou que merecia muito mais do que passar o resto da vida na prisão, por isso sem que ninguém esperasse, ele correu e se jogou da janela da sala. Valentina nem mesmo se mexeu de onde estava, que Deus a perdoasse, mas a única vida que ela queria salvar naquele momento era a do marido.

− Amor, fica comigo, por favor. – Valentina chorava cada vez mais, tentando estancar o sangue do peito de Alonso com a mão, mas de nada adiantava.

Naquele momento, Valentina desejou profundamente não ser médica para não saber o que estava acontecendo com Alonso que já desfalecia nos seus braços, perdendo muito sangue.

− Eu te amo. – Alonso falou fraco e desmaiou.

Valentina se desesperou ainda mais e várias pessoas já estavam dentro do apartamento ao ouvirem o barulho do tiro e os gritos da mulher. A ambulância chegou e os enfermeiros pediram para que ela se afastasse para realizar os primeiros socorros e ela foi até João Miguel que olhava a tudo, assustado. Com toda a movimentação, José Miguel, que tinha combinado com Alonso de ficar lá embaixo para impedir Ronaldo de subir ou fugir caso já estivesse lá em cima quando eles chegassem, ouviu comentários de pessoas que passavam que uma pessoa estava ferida no apartamento da doutora Valentina e ele subiu apressadamente, desejando que a pessoa ferida não fosse a mulher ou o seu filho. Ao entrar, ele encontrou várias pessoas no apartamento e se assustou ao ver Alonso estirado no chão já com uma máscara de oxigênio. De repente, seu olhar encontrou o de Valentina, ainda agarrada ao filho, e correu até lá. Ao vê-lo, ela chorou mais e o abraçou com força.

− Ele está mal. – Valentina soluçou.

José Miguel não tinha noção do quanto Valentina amava Alonso até vê-la naquele estado depois que ele sofreu aquele tiro, mas não era hora de ter ciúmes, ela só tinha a ele para se apoiar.

− Ele vai sair dessa, Valentina. – José Miguel falou baixo e beijou o pescoço de Valentina depois de abaixar a máscara e colocá-la de volta rapidamente.

Os enfermeiros terminaram os primeiros socorros em Alonso e levantaram a maca, ficando apenas um para falar com os familiares.

− Doutora, nós vamos levá-lo ao hospital. – o enfermeiro avisou, tirando as luvas e passando o álcool em gel que guardava no bolso do jaleco nas mãos.

− Eu vou acompanhar. – Valentina se soltou de José Miguel e enxugou as lágrimas.

Valentina olhou para João Miguel e José Miguel já sabia o que ela ia dizer, por isso se adiantou.

− Eu vou cuidar dele, não se preocupe. Vou ver se a Sandra pode ficar com ele lá em casa e vou para o hospital.

Valentina assentiu agradecida e se abaixou para falar com João Miguel.

− Meu amor, a mamãe vai ter que ir com o tio Alonso, mas você vai ficar com o papai, hum? – Valentina tentou sorrir.

João Miguel assentiu e abraçou Valentina com força. Ele estava triste por ver a mãe chorando e pelo tio Alonso estar morrendo.

− Mamãe, eu não quero que o tio Alonso morra. – João Miguel falou com a voz embargada.

− Não, ele não vai morrer. – Valentina soltou João Miguel e acariciou o rosto dele. – A mamãe vai trazer o tio Alonso de volta. – ela engoliu o seco pensando que aquilo só seria possível se ocorresse um milagre muito grande.

João Miguel assentiu novamente e segurou a mão de José Miguel, vendo Valentina se levantar, fungando.

− Conversa com ele. – Valentina sussurrou para José Miguel que assentiu. – Até mais, meu amor, eu prometo que vai ficar tudo bem. – ela abaixou a máscara para beijar o cabelo de João Miguel e afagou o ombro de José Miguel, colocando a máscara novamente e saindo rápido do apartamento.

José Miguel juntou apenas algumas coisas para João Miguel e foi para o apartamento dele. Ele queria estar o mais rápido possível ao lado de Valentina, pois temia de verdade que o pior acontecesse e ela tivesse que segurar a barra sozinha.

                                                            ~ * ~

Olha aí porque eu disse que vocês iam gostar do Alonso, ele se jogou na frente para salvar a Valentina e o João :(

E a única pessoa que está aí para apoiar a Valentina é o José Miguel <3

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