NO OUTRO DIA
José Miguel se acordou ainda largado no chão. Ele bufou, apertando os olhos e sentindo uma dor de cabeça lhe atingir com força. O homem demorou apenas segundos para se lembrar de tudo que tinha acontecido até ali, soltando um suspiro ao pensar que naquele momento Valentina e João Miguel já estavam longe. Ele se levantou cambaleando e foi ao banheiro, encarando seu reflexo deplorável no espelho até resolver tomar um banho para tentar melhorar a cara e enfim buscar ajuda. Depois que conseguiu parecer no mínimo apresentável, ele saiu de casa e foi direto ao hospital Cruz Roja. Não era que não tivesse orgulho, mas não tinha outra pessoa para lhe ajudar senão Rogério Villalba, apesar da raiva e mágoa que seu sogro também sentia dele, ele sabia que a ajuda não lhe seria negada.
− Com licença. Será que eu poderia falar com o doutor Rogério Villalba? – José Miguel parou em frente ao balcão da recepção do hospital.
Como a recepcionista já sabia que José Miguel de certa forma era da família, ia pedir para ele aguardar até ela se comunicar com Rogério, mas o homem vinha saindo do consultório e se surpreendeu ao ver o ex genro.
− José Miguel, confesso que não esperava vê-lo nem tão cedo. – Rogério falou de sobrancelha erguida.
− Eu sei que sou a última cara que o senhor gostaria de ver, mas preciso muito da sua ajuda. Podemos conversar? – José Miguel perguntou sem graça.
Rogério fez sinal para José Miguel esperá-lo um pouco e pediu para a recepcionista segurar os pacientes enquanto ele conversava com o rapaz, logo o chamando para o consultório. O senhor não gostava dele por tudo que ele fez à Valentina, mas era seu dever como cidadão ajudar a quem e quando pudesse. Durante o caminho até sua sala, José Miguel se lembrava da primeira vez que foi ali implorar por um emprego, somente interessado em seduzir Valentina.
− Quando você me procurou da primeira vez, eu te ajudei de todo o coração, mas eu tenho que confessar que se eu soubesse o que você causaria na vida da minha única filha, eu jamais teria feito nada. – Rogério falou como se lesse os pensamentos de José Miguel.
− A minha intenção nunca foi machucá-la, mas eu também não soube lidar com o meu vício e é por isso que eu vim aqui. – José Miguel abaixou a cabeça. – Eu prometi a sua filha que seria digno dela e da criança linda que ela me deu, mas eu preciso de ajuda. – ele encarou Rogério, determinado.
Rogério segurou um sorriso. Já era um bom começo José Miguel querer ser ajudado.
− E por onde você quer começar? – Rogério caminhou para trás da mesa dele e começou a mexer em um bloco de receitas médicas.
− Bom, a Valentina deve ter contado que sou usuário de drogas. – José Miguel falou sem graça e Rogério assentiu. – Acho que seria um bom começo me tratar desse vício.
− Eu concordo. – Rogério assentiu. – Vou procurar uma das melhores clínicas de reabilitação do país para você, mas antes quero impor algumas condições.
− Quais?
− Sente-se. – Rogério apontou a cadeira em frente à dele e se sentou, vendo José Miguel fazer o mesmo. – Primeiro quero que você me garanta que será forte para seguir com esse tratamento até o fim. É difícil, você vai passar por crises de abstinência piores do que já teve, mas será para um bem maior.
José Miguel assentiu. Ele tinha noção das dificuldades que enfrentaria, mas estava disposto a lutar pela cura.
− E a segunda?
− A segunda é que eu quero exigir que você se afaste da Valentina e do meu neto até você se curar completamente, não a procure jamais até sair daquela clínica. – Rogério enfatizou olhando nos olhos de José Miguel.
José Miguel se levantou de supetão e virou as costas, passando a mão no cabelo. As coisas estavam se complicando novamente.
− Mas ela disse que eu poderia visitá-los quando quisesse. – José Miguel falou com a voz falha.
− Sim, eu sei. – Rogério se levantou e parou atrás de José Miguel. – Mas você sabe que dependendo da situação, você pode passar anos trancado naquela clínica e ela não pode parar a vida dela mais uma vez por você. Minha filha te ama e é por isso que eu ainda estou aqui tentando ajudar, mas eu não quero que você interrompa os sonhos dela nunca mais, está me entendendo? Você só vai voltar para somar e não atrapalhar novamente.
José Miguel continuou calado. Ele até concordava com Rogério em partes, mas não sabia se conseguiria ficar longe de Valentina e João Miguel por tanto tempo. De qualquer forma, teria que pagar para ver.
− Trato feito. – José Miguel se virou e apertou a mão de Rogério. – Valentina não irá saber de mim até decidir voltar para o México.
− Ótimo. Acredite ou não, rapaz, é para o bem dela e o seu também. – Rogério deu tapinhas nas costas de José Miguel que assentiu. – Eu vou organizar tudo na clínica e em breve entro em contato com você.
− Estarei esperando. Obrigado. – José Miguel saiu.
José Miguel saiu do hospital, pensando se tinha realmente tomado a decisão correta. Valentina ficaria arrasada quando ele não a procurasse com o passar dos dias, mas sabia que quando ela soubesse o motivo, ela não só o entenderia e apoiaria como teria orgulho de descobrir que ele foi sim capaz de renunciar às próprias vontades em favor da família.
~ * ~
E essa condição do Rogério, concordam ou não???
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FanficValentina Villalba era uma moça muito bonita, inteligente e boa. Filha única de família tradicional, ela foi prometida em casamento ao filho de um casal de amigos dos seus pais, Alonso Peñalvert, que vinha a ser seu melhor amigo e o homem a quem ela...