Capítulo 98

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NO OUTRO DIA

Valentina se acordou cedo e como sempre deixou João Miguel na escola e foi direto para o hospital. Chegando lá, ela fez lhe passarem o plantão o mais rápido possível e o primeiro paciente que visitou foi Enrico, mas ao abrir a porta do quarto em que o menino estava, se assustou ao ver Marcos falando bem próximo ao rosto dele que mantinha uma expressão amedrontada.

− Tudo bem por aqui? – Valentina entrou falando e largou sua bolsa em uma poltrona, se aproximando de Enrico.

Marcos disfarçou e se afastou de Enrico, coçando o olho, enquanto o menino pareceu aliviado ao ver Valentina.

− Titia! – Enrico abraçou Valentina pela barriga.

Mesmo que Valentina não pudesse se envolver emocionalmente com seus pacientes e manter contato próximo, era inevitável ficar longe de Enrico que parecia ser um menino carente que precisava de ajuda.

− Quem deixou o senhor entrar aqui? – Valentina perguntou séria a Marcos.

− Na verdade, como eu não vi ninguém aqui na frente, eu achei que poderia entrar para ver como o menino está. A mãe dele foi em casa tomar um banho e me deixou responsável por ele.

− Mas eu proibi a entrada de qualquer pessoa nesse quarto que não fosse a médica de plantão e a enfermeira que eu mesma deixei responsável pelo Enrico caso ele precisasse.

− Você está certa, me desculpe. Nos vemos depois, Enrico. – Marcos acenou e saiu.

Somente então Valentina soltou Enrico e se sentou ao lado dele que não a encarou.

− Conta para a titia, o que ele disse? – Valentina levantou o rosto de Enrico com carinho.

− Ele disse que se eu contar o que ele faz comigo, ele vai matar a minha mamãe. – Enrico falou com a voz embargada, voltando a abaixar a cabeça.

Valentina sentiu seu coração disparar e se levantou. Todas as suas suspeitas se confirmaram naquele momento, mas mesmo assim era mais chocante ouvir da boca de uma criança que ela era ameaçada, principalmente por uma pessoa tão próxima.

− O que ele faz? – Valentina perguntou e Enrico ficou calado, fazendo com que ela suspirasse e voltasse a se aproximar. – Meu amor, você pode confiar em mim, eu vou te ajudar.

Enrico passou mais alguns minutos em silêncio. Ele não entendia muita coisa e nem porque sua mamãe, que antes era tão feliz, só vivia chorando e não dizia nada quando aquele homem malvado lhe batia. A única coisa que ele sabia era que a tia Valentina era boa e o defenderia, era só dar uma injeção para derrotar o homem malvado.

− É que ele bate em mim, titia, até quando eu não faço nada. Sabe essas manchinhas aqui? – Enrico apontou as manchas dos próprios braços e pernas. – É ele que faz, ele aperta o meu braço com força e me bate com o chinelo e o cinto.

− E a sua mãe, o que ela faz? – Valentina perguntou com a voz falha, mas respirou fundo.

− Ela fala que ele está estressado do trabalho, mas eu ouço ele gritando com ela. Quando meu papai morreu, minha mamãe disse que ele seria meu outro papai, mas ele vive dizendo que me detesta.

Valentina simplesmente abraçou Enrico novamente. Ela nunca suportou ver crianças sofrendo, não era a toa que era pediatra, mas depois que se tornou mãe, as maldades contra inocentes ficaram mais difíceis ainda de aguentar, principalmente quando essas covardias eram praticadas por familiares que deveriam proteger suas crianças. A mulher pensava em João Miguel, por sorte o menino só recebeu amor desde que nasceu, até mesmo Alonso o amou desde que descobriu que ele foi gerado e era por seu filho e todas as crianças do mundo que ela deveria fazer justiça sempre que pudesse e ela já tinha todos os elementos possíveis para que isso acontecesse.

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