Capítulo 74

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Valentina respirou fundo antes de abrir a porta com dificuldade por estar segurando a bandeja da comida de José Miguel. Sempre que ia vê-lo, sentia borboletas no estômago, mas negava a si mesma que ainda existia sentimento, ela estava casada com Alonso e o mínimo que deveria fazer era respeitá-lo. A mulher também agradecia aos céus que não precisava conviver com ele sempre, apesar de saber que ele nunca mais perderia o contato com João Miguel, pelo menos as visitas demorariam a acontecer, já que ela morava em outro país e pelo visto ele ainda não estava totalmente recuperado do maldito vício que os separou. Ela o encontrou sentado na cama e com a cabeça abaixada, mas assim que ouviu o barulho da porta, ele a encarou.

− Benita mandou seu lanche. – Valentina entregou a bandeja a José Miguel. – Se sente melhor?

− Sim, obrigado. – José Miguel começou a comer.

Valentina e José Miguel ficaram em silêncio por um bom tempo, até o homem se sentir mais forte e dono de si, fazendo a vergonha tomar conta dele em ter aparecido ali drogado e bêbado mais uma vez.

− E o meu filho? – José Miguel perguntou limpando a boca.

− Está lá embaixo com a boca toda suja de chocolate e ansioso para te ver. – Valentina riu e José Miguel a acompanhou.

− Me desculpa por ter chegado daquele jeito,Valentina. Eu sei que você nunca quis e nem eu queria que meu filho me visse assim pela primeira vez. – José Miguel falou sério.

− Por que você fez isso? Você não estava quase se curando? – Valentina suspirou se sentando ao lado de José Miguel.

− Porque de alguma forma, eu ainda tinha esperanças de que você fizesse o mesmo de anos atrás, desistisse dele para ficar comigo e como isso não aconteceu, eu me frustrei. – José Miguel abaixou a cabeça novamente.

Valentina suspirou se levantando. Ela não era mais acostumada com a forma que José Miguel era direto com as coisas.

− Você sabe que o Alonso não é mais o único motivo que nos separa. – Valentina falou de costas.

− É que eu achei que depois que você soubesse que o que aconteceu não foi culpa minha, você fosse... – José Miguel falava, abaixando a cabeça, mas foi interrompido por Valentina.

− Isso não foi culpa sua, mas não podemos esquecer que o motivo da nossa separação foi o seu comodismo em continuar sendo um viciado e hoje mesmo percebemos que eu estando por perto, mais te prejudico do que te ajudo. – Valentina suspirou.

− Não é assim, Valentina. Eu... – José Miguel se levantou, mas Valentina o interrompeu novamente.

− Mas também isso não importa mais, eu me casei com outra pessoa e estou bem assim. – Valentina se virou para José Miguel, mexendo as mãos nervosamente. – A partir de hoje, a gente só deve conversar pelo nosso filho, então eu agradeço se por favor, você me procurar somente quando quiser saber algo dele.

José Miguel suspirou se levantando. Ele sabia que tinha perdido Valentina a partir do momento que ela disse "sim" na igreja e apesar de doer aquela decisão, respeitaria sua vontade, pois já havia a feito sofrer demais.

− Está bem, se você quer assim. – José Miguel deu de ombros. – E me fala, e o andamento da doença, teve alguma mudança? – ele voltou a se sentar.

Valentina também suspirou. Finalmente José Miguel tinha entendido, pois ela não sabia se aguentaria muito tempo se ele continuasse insistindo e a última coisa que queria na vida era trair Alonso novamente.

− Continuamos na mesma, transfusões toda semana, muita febre e dor no corpo nesse período. – Valentina falou, voltando a se sentar ao lado de José Miguel. – Quando ele estava começando a andar, a talassemia prejudicou um pouco no progresso porque um dos sintomas é o endurecimento dos ossos, então preferimos fazer a cirurgia de retirada de baço logo porque uma hora ele precisaria fazer isso para acabar a origem das células doentes, mas foi um procedimento simples e a recuperação foi ótima, apesar da pouca imunidade que ele tem.

José Miguel ouvia tudo atento. Ele não acreditava que Valentina e João Miguel passavam por aquilo sem sua ajuda como ele tinha prometido fazer desde a gravidez da mulher.

− Imagino que foi difícil passar por tudo isso longe de casa e sem ajuda.

− Bom, sem ajuda nem tanto porque logo encontramos uma babá, a Celina, ela veio do Brasil e se tornou uma grande amiga, o João a adora, mas sim, nessas horas faz falta o carinho de uma família. – Valentina abaixou a cabeça, sorrindo de leve.

− E há algo que eu possa fazer para ajudar? – José Miguel ergueu a sobrancelha.

Valentina nunca disse que a cura de João Miguel seria definitiva se ele tivesse um irmão dos mesmos pais nem quando era casada com José Miguel, jamais conseguiria dizer depois de separados. Ela arrumaria outra forma de curá-lo, tinha certeza.

− Não, obrigada, mas o que tem para fazer está sendo feito. Tomara que eu termine logo a minha especialização em genética pediátrica para encontrar um novo tratamento para a cura dele e de outras crianças.

− Eu tenho certeza que você logo conseguirá. Fiquei feliz que você realizou seu sonho de ser médica. – José Miguel sorriu.

− Obrigada. – Valentina desviou o olhar. – E o que mais você quer saber do seu filho? Pode perguntar.

− Do que ele gosta de brincar, de comer, como é a personalidade dele... Eu quero saber tudo. – José Miguel sorriu ansioso.

− Bom, ele ama brincar de correr no parque, andar de bicicleta, desenhar, assistir televisão e muitas outras coisas, eu sempre inventei de tudo para incentivá-lo a aprender. – Valentina sorriu. – Sobre a alimentação, pelo problema que ele tem, eu priorizo a comida à base de ferro, mas claro que ele come alguma besteirinha doce uma vez na semana, afinal todos fomos crianças um dia. – ela riu e José Miguel assentiu também rindo. – E por fim, ele tem muito mais de você do que de mim na aparência e no jeito de ser. – ela sorriu e olhou rapidamente para o homem.

José Miguel sorriu feliz por João Miguel parecer muito mais com ele do que com Valentina, pois percebeu que além da aparência física e no elo eterno entre eles, Valentina tinha outra razão para nunca esquecê-lo. Depois que começaram a falar sobre o filho, a conversa ficou mais leve e eles até conseguiram rir juntos das histórias engraçadas que Valentina contava do menino. Assim que José Miguel achou que o conhecia o suficiente, Valentina se levantou, pronta para chamar o filho.

− Eu vou buscá-lo. Você espera aqui. – Valentina respirou fundo.

José Miguel assentiu nervoso. Mesmo tendo o primeiro contato com João Miguel sem estar sóbrio, ele viu que o menino ficou feliz em vê-lo, mas não sabia se ele iria continuar assim quando o visse melhor, pois tinha consciência de que ele iria embora com Valentina e Alonso, a família que era dele e que como um passe de mágica, ele deixou ir. Também não pôde deixar de notar o carinho que ele e Alonso tinham um pelo outro, o que o deixou bastante enciumado, pois era o outro a quem ele conhecia desde que foi crescendo, inclusive até chegou a pensar que seu pai era Alonso, mas não, o sangue tinha que ser mais forte e ele sim seria o homem que João Miguel mais amava na vida, o seu pai.

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Valentina e José Miguel conversando normalmente...

O encontro entre pai e filho vem aí <3

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