Capítulo 86

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DIAS DEPOIS

As coisas iam bem na vida de todos. Se antes Valentina fazia de tudo para nunca ficar sozinha com José Miguel, ultimamente ela evitava mais ainda só para fugir de mais perguntas sobre o bebê. O que não ia muito bem era a gravidez de Valentina, mas ela não percebia, afinal o que sentia eram sintomas normais como enjoos, tonturas e pequenas cólicas que eram normais em início de gestação, assim como ela sentiu na de João Miguel. Um dia, ela estava no hospital, havia acabado seu horário de almoço e ela se sentia um pouco enjoada, por isso foi ao banheiro e colocou toda a comida para fora. Quando o mal estar melhorou, ela foi se levantar, mas sentiu uma cólica forte como nunca tinha sentido antes.

− Ai! – Valentina se curvou com as mãos na barriga e sentindo as lágrimas descerem do rosto involuntariamente.

Valentina sabia que aquela cólica não era normal e isso só se comprovou quando ela viu toda a sua calça branca ensopada de sangue. Então ela começou a chorar de verdade, sabendo que estava perdendo o seu filho. A mulher precisava de ajuda, mas não conseguia nem mesmo se mover do lugar, por isso ficou ali aos prantos enquanto acariciava a barriga, sentindo o seu bebê ir embora aos poucos. Por mais que ele estivesse vindo em um momento meio difícil pela situação da paternidade, uma coisa que não se questionava era que ele era seu e ela o amava de uma forma que só se igualava ao amor dela por João Miguel, mesmo que ele ainda não fosse nem um volume na sua barriga, ele já era o seu motivo de felicidade junto com o irmão e naquele momento uma parte importante do seu coração também ia embora com ele no meio de todo aquele sangue. Amanda, a mesma enfermeira que a ajudou a descobrir a gravidez, entrou no banheiro e se assustou ao ver o estado de Valentina.

− Valentina! – Amanda correu até Valentina para ajudá-la.

− Eu estou abortando, Amanda. – Valentina falou entre soluços.

− Calma. – Amanda colocou uma mão no ombro de Valentina e com a outra, ligou para o próprio hospital, explicando a situação rapidamente e pedindo para prepararem a sala de exames.

Poucos segundos depois, algumas enfermeiras adentraram no banheiro e ajudaram Valentina a se deitar na maca, saindo com ela dali e atraindo a atenção de todos que estavam pelos corredores do hospital, afinal a médica era a melhor de lá e era bastante conhecida. Na sala de exames, um obstetra já a aguardava para fazer uma ultrassonografia, comprovando que já não havia vida em sua barriga, mas não foi necessário o processo de curetagem, pois o feto ainda era tão pequeno que saiu naturalmente junto com aquele sangue no banheiro. Depois Valentina foi encaminhada para o quarto, onde ficaria em observação até o outro dia, e recebeu a visita de Cecília e Rogério que tentaram consolá-la um pouco, mas a deixaram sozinha com Alonso quando ele chegou depois de ter largado tudo no trabalho ao saber do que aconteceu.

− Amor, me perdoa. – Valentina falou chorando abraçada a Alonso que estava sentado na cama junto com ela.

Por mais que Alonso não fosse o pai biológico daquele bebê, ele não sabia disso e estava tão triste quanto Valentina por tê-lo perdido.

− Ei, amor, claro que não foi sua culpa. Poderia ter acontecido com qualquer casal. – Alonso beijou o rosto de Valentina sem soltá-la, já sem máscara, como o quarto era reservado.

− Mas não foi com qualquer casal que aconteceu, foi com a gente. – Valentina soltou Alonso para enxugar as lágrimas, mas não adiantou. – Por que raios eu não percebi que estava tendo um deslocamento de placenta? Que tipo de médica eu sou? – ela perguntou brava consigo mesma.

− Mas você mesma já me falou que nem sempre os médicos sentem o que está acontecendo com eles mesmos e você é pediatra, não obstetra, meu amor. Para de tentar achar um culpado porque não existe, o nosso bebê está nos olhando lá do céu e não vai gostar de nos ver desse jeito. – Alonso falou beijando as lágrimas de Valentina.

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