Dez minutos dentro do vagão do metrô aconchegada nos braços de Ed pareceram voar. Estação após estação, ele contava um pouco da história da cidade e também sobre sua história quando chegou em Londres. Até que meu celular apitou, avisando que havia uma nova mensagem. Ignorei, imaginando se tratar de alguma promoção da operadora, mas outras duas mensagens chegaram logo em seguida e Ed disse que talvez fosse melhor eu checar. Era Jennifer, preocupada com o que havia dito.
Vinhado, acho que eu fiz merda, né? ― Ela digitou em português.
Tami? Cara, me desculpa. Onde você tá? ― Outra em português.
I’m sorry. I’m so sorry. ― E finalmente, a última, em inglês.
Ed, com a cabeça encostada em meu ombro, via eu checar as mensagens e entendeu apenas as últimas palavras.
― Impressão minha ou ela tá se desculpando por...? ― Ele fez uma careta.
― Uhum ― Confirmei com um aceno breve, enquanto digitava “relaxa” em resposta. Eu não queria que ela se sentisse culpada, afinal de contas, se havia alguma culpa ali, era minha, não dela.
― O que você disse? ― Ed tomou o iphone de minha mão, automaticamente abrindo a câmera.
― Disse pra ela relax... O que você tá fazendo, garoto?
― Sorria! ― Ed exclamou antes de dar um beijo em minha bochecha e disparar o botão da câmera, registrando a foto.
Antes que eu pudesse continuar reclamando, ele enviou a foto para Jennifer, tirando outra em seguida, dessa vez segurando o chaveiro de minha amiga que ainda estava em seu bolso.
― Ai porra! ― Levei as mãos à cabeça, ciente de todo o barraco que iria acontecer à seguir.
― O que foi? ― Ed bloqueou meu aparelho e guardou em meu bolso antes de me abraçar novamente, dando outro beijo estalado em minha bochecha, os lábios muito gelados devido ao frio que fazia em Londres.
― Ela vai te matar! ― Franzi o cenho, puxando as mãos dele para junto das minhas, as quatro também muito geladas.
― Não se eu disser que foi você que me deu! ― Ele estalou a língua e piscou para mim ― Presente de boa sorte.
― Tá ciente que essa chave não vai abrir Erebor, né? Vai abrir a porta do inferno! ― Segurei o riso, lembrando das vezes que Jenny surtou quando ainda morávamos no Brasil ― Se ela não surtar com você, vai ME matar! ― Soltei das mãos dele e cruzei os braços, olhando pra frente ― E o que você vai fazer sem mim? Nada!
― Say what? Desde quando você é tão convencida assim? ― Ed riu e encostou os lábios em meu pescoço.
― Não sou convencida! ― Mexi os ombros, sentindo cosquinhas com a respiração de Ed em minha pele ― Só digo a verdade... Sei até qual música você vai gravar se eu sumir!
― Aé? ― Ed se ajeitou no banco ― Qual?
Pigarreei, lembrando da letra de uma das muitas músicas latinas que eu amo. A vergonha já havia desaparecido junto com a segunda dose de álcool que havia bebido na casa de Harry. Ainda assim, olhei para os lados, me certificando de que a única pessoa dentro do vagão além de nós, um garoto de vinte e poucos anos, estava entretido com seus fones de ouvido, lendo um livro no banco mais ao fundo, antes de começar a cantar.
― Porque nada valgo, porque nada tengo si no tengo lo mejor; Tu amor y compañía en mi corazón ♪
Sorri, acreditando que Ed não conhecia a música e me aninhei novamente em seus braços, até que ele suspirou.
― Juanes! ― Ed exclamou ― Nananana ♪ ― Ele repetiu o ritmo da música, sem cantar a letra ― Não entendo muito espanhol, mas isso é Juanes sim!
― What? ― Me engasguei, surpresa por ele reconhecer não a música mas o cantor, algo muito mais difícil para um britânico ― Como assim você conhece Juanes? ― Me endireitei no banco e o encarei, ciente de que meus olhos estavam arregalados e a boca provavelmente escancarada.
― Ele me twittou umas... Duas vezes, acho. Disse que é meu fã, vi que ele era bem famoso, latino, mas fazia sucesso nos Estados Unidos. Joguei no Google, procurei no Spotify... O cara manda bem, só não entendo muito as letras, mas as músicas parecem bonitas.
― São lindas ― Suspirei, lembrando de todas as vezes que encontrei em músicas de Juanes respostas para meus sentimentos, muito antes de conhecer o cenário musical britânico, quando apenas escutava músicas em espanhol.
― Porque... ― Ed repetiu o trechinho que eu havia cantado, a voz carregada de sotaque ― Porque is... why? ― Ele perguntou ― Porque nada... ― Ed riu, me puxando num abraço ― Traduz, amor?
― Quase isso ― Sorri, tombando a cabeça no ombro de Ed ― Porque nesse caso é “because” ― Enfiei minha mão no bolso da jaqueta de Ed para me esquentar ― Acho que fica... Porque não valho nada, porque não tenho nada, se não tenho o melhor ― Cantarolei em inglês, traduzindo o trecho que havia cantado antes para ele, fazendo uma pausa para me certificar que a letra estava certa ― Teu amor e companhia no meu coração.
― Huuuum ― Ed resmungou, fazendo bico e escondendo um sorriso.
― Que foi? Não gostou? ― Ergui o rosto para observá-lo, os olhos cemi-cerrados.
― Gostei, é linda ― Ele riu rapidamente e tentou ficar sério, mas não conseguiu ― É que acheo que você tava cantando sobre o que eu faria sem você e não sobre os teus sentimentos!
― E não dá no mesmo? ― Sorri, convencida.
― ÉÉÉ... Talvez ― Ed, tão convencido quanto eu, sorriu de canto ― Pode se dizer que sim! ― Ele me puxou contra seu corpo, me abraçando forte antes de murmurar em meu ouvido ― Qual o nome da música, afinal?
― Nada Valgo Sin Tu Amor ― Respondi numa pronúncia perfeita, orgulhosa de meu espanhol ― “I’m Worthless Without Your Love” repeti, em inglês.
Ed então tirou o seu celular do bolso que eu não estava usando para aquecer minha mão, tal qual foi minha surpresa quando percebi que ele usava uma foto de nós dois na tela de bloqueio, foto que tiramos quando estávamos assistindo Fresh Prince na primeira noite juntos em meu apartamento. Ele percebeu que eu havia visto a tela e ficou um pouco desconcertado, procurando rapidamente o Spotify.
― Nada... Valgo... Sin... Tu... Amor ― Ele repetiu com o sotaque mais fofo do mundo enquanto digitava no campo de busca, tirando o fone de ouvido do mesmo bolso logo em seguida e plugando no aparelho, antes de me entregar um dos foninhos ― Pronto!
Ed sorriu e olhou para a janela por um tempo considerável antes de colocar o outro fone em seu ouvido. Ele parecia calcular alguma coisa enquanto passávamos pelos túneis escuros e ao meu ver, impossíveis de se identificar, do metrô.
― Pelos meus cálculos, a viagem ainda vai demorar um pouco, então, melhor montar uma playlist ― Ele riu, adicionando a música de Juanes em uma nova lista de reprodução que ele renomeou “#TamEd”, o nome de nosso ship dado pelos garotos da 1D.
― Pra onde vamos afinal? ― Perguntei, curiosa com todo aquele mistério.
― Shhh! ― Ed estalou os lábios três vezes em reprovação ― Sem perguntas, corazón.
E então ele deu play na primeira e até o momento única música da nova playlist, a versão estúdio de Nada Valgo Sin Tu Amor, do álbum “Mi Sangre” de 2004, aparentemente nossa nova canção.
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Alright... O cap. de hoje foi mais curtinho pra manter as atualizações diárias; eu ia postar só amanhã! :x Mas os próximos vão ser mais longos como de costume! Prometo!
Ah! Habemus playlist no Spotify sim! Ed me mandou o link! Mentira vai, quase isso... haha
Tá aqui junto no capítulo, só não sei onde o Wattpad vai colocar. Do lado direito no topo? Enfim... Se não encontrarem aqui, é só me procurar lá no aplicativo (afiretami) OU digitar #TAMED na busca, até mesmo com "fanfic evergreen" acredito que o Spotify vai localizar! Espero que gostem da música :) xx
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Evergreen
Fanfiction"Era uma vez uma cidade cheia de cor, um ano cheio de promessas e uma garota com uma mochila cheia de sonhos. A cidade? Londres. O ano? 2014. E a garota? Sou eu. Para mim, uma garota brasileira, viver no Reino Unido é como morar em um lugar onde as...