Após cinco ou seis músicas, entre originais e covers, Ed me entregou o violão com um brilho diferente nos olhos.
– Tua vez, quero te ouvir cantar!
– Say what? – Eu realmente não estava esperando por isso, tanto é que me afoguei com o restinho do gin em meu copo – Não. Eu não canto.
– Deixa disso que eu já te ouvi cantar e tocar na casa do Harry. Por favor?
Como dizer não para aquela carinha? Já estávamos despidos de todo o orgulho ou vergonha. Não tinha porque me esconder, já não havia motivos para isso. Peguei o violão das mãos dele e toquei alguns acordes soltos, pensando se deveria mostrar algo novo.
– Tem essa música que eu comecei escrever um tempo atrás...
– Mas...?
– Mas deve ter algum motivo especial para não ter terminado ainda.
– Como você sabe que eu não terminei?
– Tá na tua cara – Ed sorriu.
– Ah. É. É que... Ela fala de sentimentos muito profundos, mas que de uma forma muito torta eu achava que não poderia viver nunca. Era tão distante, tão surreal, tão... – Suspirei, olhando para o violão – Sei lá, todo mundo falava que eu era louca e jamais ia conseguir sequer um sorriso dessa pessoa que... me inspirou.
– E você conseguiu provar pra elas que você tava certa? Conseguiu esse sorriso? Provou que vale a pena perseguir todos os sonhos, por mais estranhos que pareçam? – Ed estava curioso.
Eu criei coragem e olhei para ele, sorrindo.
– Eu estou olhando para ele. Para o motivo de muitas músicas que escrevo. Pro cara que sonhei receber um sorriso. O cara que passei noites em claro imaginando como seria beijá-lo, mesmo tudo parecendo devaneios de uma fã boba, e na verdade, eram mesmo. Até hoje.
Ed não esperava por isso, de modo que foi pego de surpresa, ficando em silêncio me observando por alguns segundos que pareceram uma eternidade, as bochechas ficando gradativamente mais vermelhas, contrastando demais com seus olhos. Então seus lábios se abriram no maior sorriso que eu havia visto. Tirou o violão de minhas mãos antes que eu pudesse reagir também e me puxou para perto dele, sua testa colada na minha, os lábios muito próximos porém sem se tocarem de verdade, os azuis e profundos encarando fixamente os meus, castanhos e rasos.
– Canta pra mim? – Ele pediu novamente, dessa vez num sussurro – Assim, sem violão, aqui, pra mim?
– Eu não terminei... – Comentei num suspiro, como se pedisse desculpas.
– Só um verso? Por favor, babe – Ed mordiscou meu lábio inferior, enquanto uma de suas mãos percorria lentamente minhas costas por cima do macacão.
– You are the avalanche, one world away – Comecei a cantar bem baixinho, quase em forma de poesia, porque não, eu não podia dizer não para ele – My make believing, while I'm wide awake...
Beijei lentamente os lábios de Ed, que correspondeu meu beijo com a mesma velocidade e intensidade. Era como se voltássemos horas atrás para o momento de nosso primeiro beijo, mas agora, havia mais intimidade, era como se a gente se conhecesse a muito, muito tempo.
Ele não me respondeu, apenas pude escutá-lo suspirar conforme nos beijávamos. Afastei nossos lábios e abri meus olhos, procurando os dele, que como sempre, já me olhavam com curiosidade.
– Just a trick of light to bring me back around again, those wild eyes a psychedelic silhouette… – Levei minhas mãos até o zíper do macacão de Ed e o abri uns dois palmos, exibindo a camiseta preta que ele estava usando mais cedo naquele dia. Deixei meus dedos percorrerem boa parte de seu peito por cima do tecido fino, subindo pelos seus ombros até alcançar seu pescoço, onde o beijei suavemente.
Senti Ed suspirar de forma mais profunda, quase que se debruçando sob mim logo em seguida. Era impossível não comparar seu toque ao de Harry conforme ele percorria a lateral de meu corpo, mesmo que por cima do onesie que vestíamos. A delicadeza que havia na ponta de seus dedos era muito diferente da urgência experimentada antes com Styles.
Como eu havia feito com ele, Ed abriu mais ou menos dois palmos de meu zíper. Por sorte (ou não) eu também estava com a camiseta de mais cedo, além do cordão longo que eu jamais deixava de usar. Ele percorreu todo o caminho de minha nuca até o pingente, primeiro com as mãos, seguido por beijos curtos, até que viu a medalha e a segurou. Meu pequeno coração turquesa que quase sempre vivia escondidinho por baixo da blusa.
– Vai soar estranho se eu disser que conheço isso aqui? – Ele riu, sem graça, meio rouco devido à todo gin que bebemos.
– Não? – Eu ri também – Porque você deve conhecer mesmo. É da loja da tua mãe. Comprei alguns meses antes de vir pra cá, pra nunca me esquecer de sonhar, nunca me esquecer de você: “I'll make you a heart pendant, with a pebble in my hand” sabe?
– And I'll carve it like a necklace, so the heart falls where your chest is… – Ed ainda segurava o pingente enquanto continuava a música – Sei – Ele sorriu.
– And now a piece of me is a piece of the beach… – Eu continuei cantando.
– And it falls just where it needs to be, and rests peacefully – Ed repousou o pingente bem no meio do meu peito, onde ele costumava ficar quando eu estava de pé, na altura do coração.
– You just need to breathe... – Eu suspirei.
– To feel my heart against yours now – Ed me surpreendeu, beijando o pingente e depois meus lábios, pressionando seu peito contra o meu, corações unidos como na música – Tudo bem se a gente for mais devagar?
– É tudo que eu quero. – Confessei num sussurro.
– É melhor. Quero te conhecer e quero que você me conheça também – Ele se encaixou ao meu lado no sofá, fazendo com que eu virasse para ele – Saber cada detalhe teu e te mostrar tudo o que existe em mim. Em todos os sentidos.
Eu estava hipnotizada, apenas concordei com a cabeça, fazendo um som que pareceu com um “uhum”. Ele piscou profundamente algumas vezes, parecia estar com sono. Eu também estava um pouco cansada. Apesar do desejo, havia uma paz tão grande entre a gente, uma cumplicidade incrível.
– Fresh Prince? – Ed sorriu, reprimindo um bocejo. Ele se levantou apenas o suficiente para pegar o cobertor que estava jogado sob o braço do sofá e o controle da tv, ao lado dele, deitando-se novamente junto à mim.
– Pelo menos mais dois episódios? – Eu sorri em resposta, roubando um selinho e virando para a televisão, esquentando nós dois com o cobertor que ele havia pego.
Senti Ed me puxar pela cintura, aproximando meu corpo do dele, numa conchinha gostosa. Sua perna sob a minha, bem presos um ao outro. Ele beijou minha cabeça e antes de apertar o play no controle remoto, não deixou de cantar mais um trecho do que aparentemente havia se convertido em nossa música:
– So maybe I'm just in love, when you wake me up ♪
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Evergreen
Fanfiction"Era uma vez uma cidade cheia de cor, um ano cheio de promessas e uma garota com uma mochila cheia de sonhos. A cidade? Londres. O ano? 2014. E a garota? Sou eu. Para mim, uma garota brasileira, viver no Reino Unido é como morar em um lugar onde as...