Passamos alguns bons minutos abraçados em silêncio, ouvindo a respiração cadenciada um do outro. Por mais que nenhum de nós dois dançasse, era como se nossos pés simulassem uma singela valsa, onde o ar que inspirávamos e expirávamos, se tornava música, junto com o som da chuva que caía do lado de fora.
Ed me beijou uma vez mais e então ouvimos estalos vindo dos andares inferiores. Aparentemente, a luz havia se reestabelecido, pois as luminárias do jardim voltaram a funcionar, assim como todas as pequenas luzinhas dos prédios próximos que até então não passavam de grandes vultos escuros e enevoados. Eu fiquei sem fôlego.
– Não é Paris, mas também poderia ser a cidade luz – Ed riu se divertindo com minha reação e me abraçando pelas costas e encostando a cabeça em meu ombro enquanto olhava pela grande janela de vidro assim como eu.
– Foda-se Paris – Balancei a cabeça, rindo da minha sinceridade – Essa é a cidade mais linda do mundo!
– Nah, Paris tem seu charme também – Ed fez careta – Mas olha lá – Ele apontou para uma torre mais à frente, fracamente iluminada por alguns prédios não muito altos ao seu redor – Union Chapel! É uma igreja do século dezenove. Provavelmente um dos lugares mais bonitos de toda a cidade.
– Londres deve ter várias igrejas bonitas... – comentei despretensiosamente, observando a torrezinha.
– Nah, nah, nah! Shhh! – Ed me interrompeu com um beijo na orelha – Ela não é uma simples igreja. Union Chapel hoje abriga o pessoal que não tem onde morar, sabe? Galera sem teto mesmo... E é a melhor casa de shows da cidade! – Ele então fez silêncio, me observando, aguardando minha reação.
– QUÊ? – Eu comecei a rir – Uma casa de shows dentro de uma igreja ativa?
– Não só uma casa de shows, mas a melhor de Londres, a poucas quadras da tua casa, sente o privilégio! – Ed me virou para ficar de frente para ele – Porque você acha que sugeri para Harry comprar esse apartamento?
– What? Foi você? – Eu já não sabia se estava mais chocada com a revelação da igreja ou o fato de Ed ter escolhido o apartamento para Harry.
– Ué, eu precisava de um lugar pra dormir depois de sair bêbado dos shows ali da Union Chapel, né? Além do mais, tem uns pubs ótimos por aqui e... – Ed começou a rir – Eu só não esperava que garantir um apê em tão boa localização ia me dar outras vantagens.
– Vantagens? – Ergui uma sobrancelha, desconfiada, enquanto brincava com o cabelo molhado de Ed – Como assim?
– Jamais imaginei que o apartamento que ajudei meu melhor amigo escolher ia se tornar casa de uma brasileira que por sua vez – Ed suspirou – ia se tornar tudo pra mim e... que eu pediria em namoro enquanto a gente comia pizza numa noite sem luz – Ele sorriu – Como você disse antes, mesmo eu sendo simples, mesmo a mídia me imaginando de uma forma bem diferente...
– Não vai se sentir culpado agora, vai? – Fiz carinho no nariz de Ed e me agarrei à ele num abraço como um pequeno coala, meus braços por baixo dos dele, firmemente presos em suas costas, a cabeça encostada em seu peito.
– Jamais – Ed riu – É que é tudo surreal – Ele apertou o corpo contra o meu, me abraçando forte e só então percebi como ele estava gelado e que tremia, ainda que bem de leve.
– Garoto, você tá congelando! – O encarei, assustada – Porque você não me disse que tava com frio? Meu Deus!
– É... Pra falar a verdade... – Ed coçou a nuca com uma das mãos, um tanto quanto sem graça – tô com um pouco de frio, mas não queria atrapalhar em nada nosso momento aqui.
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Evergreen
Fanfiction"Era uma vez uma cidade cheia de cor, um ano cheio de promessas e uma garota com uma mochila cheia de sonhos. A cidade? Londres. O ano? 2014. E a garota? Sou eu. Para mim, uma garota brasileira, viver no Reino Unido é como morar em um lugar onde as...