Cap. 25 - Mayer

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Conseguimos assistir apenas um capítulo de Fresh Prince inteiro, enquanto roíamos Maltesers e bebíamos o gin com limão que Ed havia trazido. Bastou o episódio terminar para que ele me soltasse de seu abraço apertado, virou de frente para mim e suspirou, a imagem da tv pausada.

– Eu não tava brincando quando disse que queria saber tudo sobre você, hoje no restaurante.

Fui pega de surpresa, pois não sabia se queria ou mesmo devia falar sobre mim. Haviam tantas coisas em meu passado, coisas recentes que não mereciam serem lembradas.

– Parou Fresh Prince pra perguntar sobre mim? Isso tudo é interesse? Ai meu Deus! – Eu sorri meio sem graça e foi minha vez de suspirar, olhando para baixo enquanto segurava uma das mãos deles entre as minhas.

– Você me prende, Tami. Eu me sinto atado à você. Quero saber mais sobre tua história, porque isso nunca aconteceu comigo antes, ou bem, aconteceu, mas não dessa forma – Ele ergueu meu rosto segurando pelo meu queixo da mesma forma como Liam havia feito mais cedo, mas diferente de Payne, beijou meus lábios suavemente antes de terminar a frase – Confia em mim.

– Gente... – Eu ri de novo, agora sim, completamente sem graça – Vamos lá... Thamara, brasileira, formada em produção musical e de teatro, gosta muito de cozinhar, ama gatos e tá morrendo de saudade da sua pretinha chamada Luna que ficou lá no Brasil. É estranha demais para ter muitos amigos, então achou melhor largar de vez as tentativas frustradas de conhecer pessoas novas e simplesmente se aceitar assim, toda bizarra...

– E linda. – Ed completou – Não queria que você falasse de si mesma dessa forma, mas entendo, é pressão demais, desculpa – Ele percorreu toda a lateral do meu rosto com a ponta dos seus dedos, deixando um rastro de fogo por minha pele. Seu toque queimava, de tão bom – Mas acho que é isso que te torna tão, intrigante, tão, excitante(?) na melhor das colocações, juro! – Ele riu – Esse ser estranha que você disse, para mim, é uma das coisas mais atrativas que alguém pode ter.

Mal sabia ele que minha estranheza vinha de longa data mas havia se acentuado devido aos recentes acontecimentos antes de minha viagem.

– Esse provavelmente vai ser o pior elogio que você recebeu no mundo – Encostei minha cabeça no ombro dele, me aconchegando em seu peito – Mas você também é muito estranho e isso sempre me atraiu. Sempre.

– Jura? – Ele riu e eu senti algo se agitar em seu peito, quase como se sentisse o mesmo que acontecia dentro de mim – Achei que minha voz havia te seduzido!

– Não, Ariel, não foi teu canto! – Foi minha vez de rir – Bom, foi dessa maneira que te conheci e é claro que tem um peso enorme, mas a pessoa, Ed Sheeran, me conquistou bastante. Tua personalidade mesmo.

– Então eu já te conquistei? – Havia todo um tom de malícia na voz dele. Senti os seus braços me puxarem para mais perto, praticamente me colocando em seu colo, apenas minhas pernas haviam ficado sob o sofá.

– Ih! Eu não disse isso não! – Mordi o lábio inferior dele em tom de brincadeira – Vamos fingir que temos que trabalhar nesse quesito, ok? A conquista e tal.

Ed se levantou num supetão, me carregando em seu colo. Me beijou de forma mais urgente, me levando para o que então era o quarto de visitas. O que ele estava fazendo? Ai meu Deus, Thamara. Vai devagar, garota. Não pude evitar senão corresponder o beijo com a mesma urgência, ainda que algo em meu interior me mandasse parar. No entanto, assim que entramos no quarto, o ritmo do beijo foi diminuindo, até se transformar em selinhos longos, alterados com mordidas leves.

Ed me colocou de pé ao seu lado e apontou para um estojo grande e preto encostado na janela. Meu violão que Niall havia trazido mais cedo.

– Se é pra seduzir, vamos fazer do jeito certo! – Ele sorriu de canto – Vi ele mais cedo aí, posso pegar?

Ai meu Deus de novo, Thamara. Poder ele pode, mas... Ele vai ver a coisa de fã e tal. A tatuagem já não era suficiente? Respirei fundo.

– Pode, pode sim, só deixa eu... É... Afinar ele antes... – Passei na frente dele, pegando rapidamente o estojo pelas alças e correndo de volta para sala, sem antes é claro deixar de roubar um beijinho dele pelo caminho. Quanto tempo eu levaria para arrancar aquele adesivo sem que ele percebesse?

– Ed? Pega mais gelo pra gente, por favor? – Fiz sinal com a cabeça para os copos de gin que só não estavam vazios devido ao gelo que havia se transformado em água dentro deles.

– Claro! – Ele retirou os copos sem suspeitar de nada, ufa!

Abri rapidamente o estojo, tirando meu violão Tagima Dallas de dentro. Lindo, preto, brilhoso com acabamento de pintura de piano. Ele era meu orgulho. A patinha laranja que eu havia desenhado e transformado em adesivo para colar nele também, mas não aquela noite. Tentei aquecer as beiradas do desenho com a ponta dos dedos para a cola soltar, mas não havia jeito. Eu usei material de qualidade e aquilo não ia sair nunca.

Eis que Ed voltou, os copos cheios de gelo e novas fatias de limão. Me viu mexendo no adesivo e paralisou, tendo tempo apenas de colocar nossos copos sobre a mesinha.

– SAY WHAT?! – Ele pediu licença e pegou o violão de minhas mãos. Ai droga! – Ele é lindo! Ou... Ela? – Ed procurou qualquer vestígio de nome até encontrar a marcação, por ironia logo acima da estampa. – Mayer? Então é ele? Como o John?

– Sim. – Dei um sorriso amarelo querendo enfiar minha cabeça num buraco. De certa forma, eu estava orgulhosa, pois era como aquelas mães bobas quando falavam de meu violão, adorava receber elogios, mas naquele momento, eu ainda estava sem graça.

– Chega pra lá, babe. – Ele sentou no sofá ao meu lado e foi me empurrando com a bunda – Cara! Você realmente não tava brincando quando disse que é Sheerio!

– São coisas pequenas – Deixei escapar – O maior sinal tá aqui dentro. Todo esse sentimento que surge quando te escuto cantar. A forma como me sinto hipnotizada por tua voz e como consigo acompanhar cada acorde que você tira dos teus violões. – Suspirei. Eu havia falado demais?

Ed parecia confuso, não sabia se deixava o violão ali mesmo e pulava sob mim ou cantava uma música. Assim como eu, deve ter reunido forças do além, pois logo pude ouvir os primeiros acordes de Sofa:

– She’s reinventing loving me [...] on the sofa, where we lay, I wanna stay inside all day ♪ 

Ed sorriu enquanto cantava, pois viu que estava me agradando e sabia como fazer isso. Também pudera, havia escolhido uma de minhas músicas favoritas.

E assim começou nossa noite de amor diferente, regada à gin e músicas, vestindo onesies, comendo chocolate e contando segredos de vida. Sem medo de julgamentos. Sem medo de se entregar da forma mais profunda que existe, não através do sexo, mas através da alma.

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