Paul foi muito atencioso comigo quando voltamos para o carro. Infelizmente, não posso dizer que tratou Niall da mesma maneira. Aparentemente, era comum ao loirinho enrolar o segurança e tentar permanecer o maior tempo possível aprontando longe da vista dele.
Zayn, já bem acordado, nos ajudou colocar todas as compras em um dos bancos enquanto Louis e Liam me puxavam para dentro do carro, fazendo sinal para sentar entre eles.
– Então! – Louis parecia exultante – Tortillas caseiras? Quem diabos ainda faz isso? Niall! Ela não é uma daquelas estranhas que tentam nos dopar e levar pra cama? Porque é estranho, uma fã aparecer assim, cheia de qualidades e...
– Cara, ela brigou comigo por um scone. Acho que se ela quisesse outra coisa, teria me deixado ficar com o doce. Né? – Horan fez careta para mim pelo retrovisor, rindo em seguida.
– Não liga pra eles não. São desconfiados demais. Mas você pode falar comigo, eu, ah, eu sou de confiança. – Liam deu um tapinha no meu ombro, tentando segurar o riso sem muito sucesso.
– Okay, lads. – Zayn tentava falar enquanto ria, o sotaque mais carregado do que nunca. – Cuidado para não assustar a menina. Já temos um histórico de fazer adolescentes desmaiarem, eu não quero que mais uma passe mal dentro desse carro!
– Mais uma? – Perguntei chocada. – Então quer dizer que é comum trazerem menininhas para dentro da van e... – Chacoalhei a cabeça, sem acreditar no que havia escutado – Vocês não tem vergonha, não?
– Não! De novo isso, não! – Niall passou a mão no rosto, cansado. – Foi modo de falar. Elas desmaiam nos shows por qualquer coisa. Não devem comer, ou, sei lá... Por falar em comer, Zayn, passa uma dessas sacolas pra cá? Quero chips.
Zayn vasculhava as sacolas, distraído enquanto Liam voltava a chamar minha atenção, dessa vez encostando a cabeça em meu ombro, como um filhotinho.
– Liga não. Desculpa por isso. Foi realmente modo de falar. Apesar de a mídia dizer o contrário, a gente não é tão puto quanto parece. E o fato de você ter essa preocupação, só nos mostra que é diferente da maioria que só quer conhecer One Direction pela fama ou pela beleza. Isso é uma droga!
– Droga? Ah Liam, fala direito, vai. Isso é uma merda. Com um M bem grande. – Louis, como sempre, mostrava uma sinceridade tão ácida que me fascinava. Sorri para ele enquanto fazia cafuné nos cabelos de Liam.
– No Brasil a gente chama isso de “falar na lata” sabe? Quando alguém é super sincero que chega a assustar outras pessoas. É uma das coisas que mais admiro em você, Louis. – Sorri de forma sincera. Sim, eu realmente admirava isso em Louis.
– Pode me chamar de Lou. – Ele piscou – E é bom saber que pelo menos algumas pessoas gostam disso. Às vezes tudo é muito cansativo. Eleanor vive me policiando, pede para eu ser mais educado. Eu não sei como ela tem tanta paciência, já que geralmente é a maior vítima dos insultos...
– OPA! QUEM PEGOU WHISKEY? – Zayn, ainda mexendo nas sacolas, levantou uma das garrafas, tão feliz quanto eu quando estava escolhendo – Porque Niall não bebe isso não.
– Ops! – Abaixei a cabeça como se estivesse envergonhada, brincando. – Lembram da história de dopar os cinco e... hm. Então!
Todos caíram no riso.
– Bacana, Thamara. Eu aqui te defendendo e olha o que você traz para o carro? Não tem vergonha não? – Liam me encarava, fazendo cara de bravo, tão convincente quanto minha tentativa de parecer envergonhada.
– Sinceramente? Acho que deixei a vergonha lá no Brasil e não quero voltar pra pegar! – Ri enquanto pegava uma das sacolas que estavam com Zayn e tirava um pacote de Haribo de morango. – Não, pra falar a verdade, sou muito tímida, mas as muitas aulas de teatro no Brasil e outras experiências, algumas não muito positivas, me fizeram disfarçar essa timidez com piadas, pelo menos um pouco, sabe? É complexo, não vamos falar disso não.
Peguei uma balinha e passei o pacote adiante, observando cada rosto, a forma com que cada um escolhia o doce, quantos pegavam, a forma que comiam... Até que percebi que não era apenas eu que estava observando ali. Todos, todos os quatro me olhavam. Louis parecia intrigado, Liam fascinado, Zayn divertido e Niall... Niall parecia com fome. Mas eu já estava me adaptando a isso. Via de regra é que ele sempre está com essa cara. Sempre.
O mal estar por estar sendo observada logo passou. Apesar de serem celebridades, havia algo no olhar desses garotos, que era diferente de tudo que eu havia visto até hoje. Pareciam simples, sinceros, verdadeiros como nunca conheci ninguém antes. Aparentemente, a confiança que Niall me dera mais cedo estava se estendendo aos outros membros da banda.
Paul dirigia cada vez mais e mais longe. Os garotos mencionaram que Harry vivia afastado da cidade, mais ao norte, eu só não imaginava que o trajeto levaria quase quarenta minutos.
– Ai! Câimbra, câimbra, câimbra! – Estávamos a tanto tempo dentro do carro que assim que Paul estacionou no portão de Harry, Zayn saltou para fora, esfregando a lateral da perna direita.
– Eu falei para você comer mais bananas! – Liam ajudou o amigo se apoiar no muro e esticar a perna para alongar – Come uma assim que entrar. Aproveita que isso não falta por aqui. Harry parece um macaco!
– Oh Rapunzel, jogue suas tranças pela janela, Rapunzel! – Louis entonava após tocar o interfone, enquanto Niall tirava algumas das sacolas dos bancos e as dividia entre um Liam sempre muito educado e um Zayn que agora mancava levemente.
– Rapunzel? – Eu ri enquanto tentava pegar uma sacola de um Niall relutante – Ahhh! Me deixa levar! Pode parar com isso de menininha não carrega peso? Thanks. Mas enfim, Rapunzel? Eu acho que ele tá mais pra cachinhos dourados.
– Não, você já vai entender. – Louis bateu palmas e se afastou do portão preto cercado por muros de pedra.
– Vamos, Rapunzel! Não temos a noite toda.
Nisso, Harry colocou a cabeça para fora de uma das janelas do terceiro andar. Meu coração? Posso dizer que derreteu um pouquinho.
– Já vou, Romeu! – ele gritou da janela – Tava brincando com o Graham!
Ai meu cu. Louis gritava, mas eu já nem escutava a conversa dos garotos direito...
– Romeu? Seu idiota! Tô te chamando de Rapunzel que fica na torre e não Julieta!
Ai meu cu. Eu estava paralisada. Meu cérebro estava a mil. Se houvessem engrenagens ali, provavelmente estariam fazendo barulho e soltando fumaça.
– Eba, abriu! Vem, Thamara! – Niall me deu um empurrãozinho de leve com o ombro.
Ai meu cu (eu já disse isso?) Se Harry estava brincando com Graham, o dono do Graham deveria estar ali também. E o dono do Graham era... Ai meu cu. Eu havia congelado no lugar.
– Thamara? Oi? Tá tudo bem? Liam deixou as sacolas no chão e segurou minha mão que estava livre entre as dele, trazendo-a em direção ao meu peito. Zayn ao seu lado me observava preocupado. – Thamara?
– Ah, oi! – Eu demorei um pouco para sair do transe. – Eu acho que sim. Eu só... Deve ser jetlag. – Sacudi a cabeça, torcendo para que eles acreditassem. Eu tinha que me controlar. Não podia dar tão na cara assim quanto à minha fascinação pelo garoto que estava ali dentro. Eles com certeza iriam interpretar errado. Mesmo apesar do papo cabeça que tivemos no carro. Ninguém entenderia. Respirei fundo e rumei para dentro dos portões cheios de pompa. A casa branca e enorme nos saudando logo à frente.
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Evergreen
Hayran Kurgu"Era uma vez uma cidade cheia de cor, um ano cheio de promessas e uma garota com uma mochila cheia de sonhos. A cidade? Londres. O ano? 2014. E a garota? Sou eu. Para mim, uma garota brasileira, viver no Reino Unido é como morar em um lugar onde as...