*Capítulo 7*

9K 677 190
                                    

Júlia

Odeio segunda-feira. Meu ódio chega a ser inexplicável.

A alguns meses atrás, meus pais inventaram de me colocar em um curso aqui na pista. Eu até gostei e pá, mas se eu soubesse que eu teria que acordar tão cedo pra vir, eu tinha feito a cabeça deles pra eles mudarem de idéia.

O curso é até legal, me ajuda com algumas matérias e tudo mais. Mas isso não muda a minha raiva de ter que acordar cedo toda segunda-feira.

Isso significa que eu sou um pouco mimada? Claro que sim.

Nesse momento faltam cinco minutos pra aula acabar. Não prestei atenção em nada, dormi acordada na aula hoje.

Senti meu celular vibrando dentro da mochila e peguei, tomando cuidado pra professora dali não ver. Desbloqueei e vi a mensagem do Felipe. Não consegui segurar o sorrisinho besta que surgiu na minha cara.

Mensagens🤳

Felipe: Coé otária
- Tô aqui já
[08:57]

---

Fiquei contando os minutos pra aquela aula acabar, e assim que terminou só peguei minha mochila e sai andando mais rápido e indo até o lugar que eu e ele costumamos nos encontrar.

Eu conheci o Felipe aqui no curso. Quando eu comecei, ele me ajudava bastante com as coisas que eu tinha dúvida e nisso acabamos virando muito amigos.

Um tempo foi passando e ele foi mostrando interesse por mim, e eu também não fazia questão de esconder que tava afim dele. Foi aí que nós dois começamos a ficar sério e já estamos nessa a três meses.

Se fosse pelo Felipe, nós dois já estaríamos namorando. Mas eu preferi ir com calma e ver se nós dois vamos realmente valer a pena.

Fora que, ele fica sempre me perguntando várias coisas e eu nunca respondo. Eu sei quase tudo da vida dele e ele não sabe praticamente nada sobre mim, isso não dá tanta confiança pra ele. Mas eu não me importo muito com isso não.

Cheguei atrás do prédio e vi ele encostado no muro, mechendo no celular.

Fui pra perto dele, ele tirou a atenção do celular e guardou ele voltando a olhar pra mim.

Felipe: Coé nega. - Me abraçou pela cintura e me deu um selinho. - Como tu tá?

Júlia: Com sono. - Ele riu de leve.

Felipe: Sai dessa, tenho mó fofoca pra te contar. - Sorri na hora e me sentei ali no passeio mesmo.

Ele veio, se sentou do meu lado e começou a contar da briga que tinha rolado lá onde ele mora.

Ele me contou que, uma mina que era casada tava pegando o pai do marido dela. E o marido dela pegou os dois na cama no meio do ato.

O que rolou? Nada. O corno só ficou conformado com o chifre e depois voltou pra mulher e perdoou o pai. Mas ganhou fama de chifrudo na favela toda, por que todos sabem que o pai e a mina continuam se pegando pelas costas dele.

Júlia: Quando nós dois casar, vai ser assim. - Ele levantou a sobrancelha confuso. - Eu vou te trair, só que vai ser com a sua mãe, aquela gostosa. E tu vai ser o corno conformado.

Felipe: Tchau, Júlia. - Se levantou fingindo estar bravo e ameaçou ir embora. Segurei o braço dele rindo e puxei ele pra mim.

Júlia: Parei, juro.- Segurei o rosto dele e enchi ele de beijinhos enquanto escutava ele reclamando.

Aos poucos ele foi parando com o charme e começou a me beijar também. Eu amava ficar esse tempo com o Felipe. Ele conseguia me deixar sem estresse nenhum quando me beijava, ou me abraçava ou até mesmo quando me contava das fofocas que ele ficou sabendo.

Mas sei lá, sempre parecia que faltava alguma coisa. Não era aquela.coisa toda cheia de sentimentos, saca? Eu não sabia se isso era bom ou ruim. Só deixava rolar.

Felipe: Pô, te beijar quando tu tá usando esses batom aí é foda. - Limpou o canto da boca que tava com um pouco do meu batom. - Fico com a boca toda vermelha, pareço um palhaço.

Júlia: Ah então não beija, otário.- Cruzei os braços.

Felipe: Para de drama, garota. - Me puxou de volta, me abraçou por trás e começamos a falar de qualquer coisa aleatória de novo.

Ficamos assim até dar a hora de eu ir embora. O Felipe se ofereceu pra me levar mas eu recusei. Eu preferia nunca arriscar e dar muita liberdade, por mais que eu confie nele, eu não tenho tanta certeza de como seria a reação dele descobrindo o que meu pai é, e o que faz...

Ele esperou comigo enquanto meu Uber não chegava e nos despedimos com outro beijo.

Quase nunca eu conseguia chamar um Uber, por que na maioria das vezes, quando os motoristas viam que a parada era na favela eles cancelavam. Aí eu tinha que ficar até horas esperando um ônibus, mas dessa vez foi tranquilo. O motorista me deixou no pé do morro como eu já esperava, e eu fui subindo na força de todo o meu ódio.

Já tava na hora do almoço e eu senti minha boca salivar só de sentir o cheiro da coxinha que a tia vendia ali na lanchonete da esquina.

Procurei na minha mochila pra ver se eu ainda tinha algum dinheiro, mas não tinha nem um centavo. Liguei pra minha mãe, mas ela não atendeu. Liguei pro Victor e pro meu pai e novamente ninguém me atendeu.

Me amam nessa família em uma proporção absurda, acho incrível.

Como eu não sou besta nem nada, fui andando até a boca principal pois sabia que meu pai devia estar lá. Os cara que ficava ali no beco nem tentaram me barrar e eu só entrei aonde ele costumava ficar pra pedir o dinheiro e ir alimentar meu buchinho.

Júlia: Ô pai? - Falei alto o bastante pra ver se ele me escutava.

RK: Ele não tá. - Falou do nada e eu me virei vendo ele ali no outro canto da sala.

...



Por Nós [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora