*Capítulo 58*

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pt. 3

MT

Saí de casa e entrei no carro, de precaução acionei três vapor pra guiar comigo até a casa que a Júlia tava. Quando eu trouxer ela de volta pra casa e o Victor aparecer, eu vou dar um esporro do caralho nos dois.

Tão achando que isso aqui é brincadeira e que podem levar tudo de boa, sem avisar aonde estão e sumirem sendo que tá todo mundo em risco. Nem consigo ter noção da minha preocupação agora. Só não deixo isso transparecer tanto pra não apavorar a Mirella ainda mais.

Apontei com a cabeça em direção a casa e os três vapor me acompanhou, bati uma vez no portão e ninguém abriu. Bati a segunda vez e nada. Bati a terceira e nada. Na quarta vez, já mandei arrombar.

Eu sabia que meu mal pressentimento não era atoa quando assim que o portão daquela casa caiu, eu vi o Barão apontando a arma pra cabeça da minha filha.

Em um segundo que eu desviei minha atenção pra Júlia, só consegui ouvir o barulho de vários tiros seguidos e depois o corpo dos três vapor que vieram comigo caindo no chão e o sangue se espalhando por todo canto. Pisquei pra tentar raciocinar o que tinha acontecido e vi que atrás de mim, estavam vários dos caras que trabalhavam pra mim, que deveriam ser leais a mim, caras que eu ajudei quando precisaram, todos apontando a arma diretamente pra minha cabeça.

Barão: Tu demorou MT, quase tomei a decisão por você. - Apertou o pescoço da Júlia e colocou ela na frente dele, pressionando mais a arma na cabeça dela.

Assim que vi isso, automaticamente coloquei a mão na minha arma mas parei quando ouvi ele destravando a pistola.

Barão: Se tu encostar nessa arma tua filha morre.

MT: Solta ela Barão, tu só vai tá piorando as coisas pro teu lado. - Ele riu.

Barão: Piorando as coisas pro meu lado? Tu tá no menor número aqui, teus filhos tão na minha mão. Tua favela tá na minha mão. Quem manda aqui agora sou eu, tu só obedece.

Só de ouvir ele falando que meus filhos tavam na mão dele, já saquei que alguma coisa também tinha acontecido com o Victor e meu desespero aumentou. Não deixei nada disso transparecer, eu tava começando a soar frio, minhas mãos tremeram e me faltou ar.

Porra, eu já enfrentei guerra pra caralho, mas essa é a primeira que a minha família tá tão rendida assim.

Eu não sei o que fazer e nem como fazer.

Eu tô desestabilizado, pela primeira vez na minha vida.

MT: O que tu quer pra deixar minha família?

Barão: Tu sabe o que eu quero. - Deu uma risadinha. - Eu quero o teu morro.

MT: É seu. - Falei sem pensar duas vezes.

Barão: E eu quero a cabeça do RK. - Respirei fundo.

Henrique também era minha família, todos são. Eu não vou deixar nada acontecer com ninguém. Eu dou minha vida por isso.

MT: RK fugiu. Não sei aonde ele tá.

Barão: Pergunta tua filha. - Empurrou a Júlia pra frente e depois puxou ela de volta pelos cabelos com força.

Eu soube que criei minha filha bem quando eu vi que nem nessa situação ela abaixava a guarda e demonstrava sentir dor ou preocupação. Ela sabe que fazer isso só vai favorecer mais o Barão.

Mirella sempre esteve certa quando dizia que Júlia e Victor são uma versão mais nova de mim. Por que são.

Barão: Ele veio aqui a noite e aproveitou bastante com ela. Ela deve saber aonde ele tá, mas não quer me falar. Talvez ela te fale.

Eu não disse nada e a Júlia também não.

MT: Mesmo se ele estivesse aqui ontem, ele não tá mais. Tá procurando no lugar errado.

Barão; Tu ainda não pegou a visão né, MT? Ou tu me entrega o RK agora, ou eu mato tudo porra. - Gritou. - Já comecei pelo teu filho, que agora deve tá no inferno. Depois, vou pra sua filha, pra sua mulher e no final vai ser você.

Me desesperou, mas não me assustou o suficiente. Meu filho não tá morto, e ninguém da minha família vai morrer.

Eu ainda tava paralisado com a mão na minha arma na cintura, mas eu tinha que esperar o momento certo. Eu não posso tirar a arma enquanto a dele tá apontada pra cabeça da minha filha.

Ele vai ter que apontar a arma pra mim.

Comecei a andar devagar em direção a ele.

MT: Eu já te disse. Não sei aonde o RK tá, ele não tá no meu morro. Não mais. Tu quer a favela? Eu te dou, mas solta ela.

Barão: Eu só saio daqui com aquele moleque morto, porra! - Gritou de novo. - Se não for do meu jeito MT, eu vou matar todos.

MT: Tu quer que eu faça o que? O RK não tem celular, não tem como eu me comunicar com ele. Eu não faço idéia de onde ele tá. - Ele percebeu que eu tava andando e finalmente apontou a arma pra mim.

Barão: Tu fica parado aí porra!

Agora.

Tirei a minha arma de uma vez e mirei rápido no pescoço dele disparando tanto tiro que não consegui contar. A Júlia caiu no chão com o impacto que ele soltou ela e pelo canto do olho percebi ela se agachando e saindo de perto.

Eu tava cego. Tava atirando naquele cara tantas vezes que o barulho dos tiros começou a me incomodar, mas não parei. Não parei porque eu ainda via que ele tava vivo.

Minha mão nunca tremeu tanto, eu nunca fiquei com tanta dificuldade pra respirar. Eu sabia que tinha acertado os tiros, mas não sabia se ia ser suficiente pra matar ele.

Pelo canto de olho, vi novamente a Júlia ali afastada e me olhando. Minha filha se tornou a mulher que eu sempre sonhei que fosse. Ela não me olhava com medo, ela não tava com medo em hora nenhuma. O olhar dela era de afirmação, de admiração e porra, isso aliviou tudo naquela hora. É a mesma forma de olhar que o Victor me olharia, que a Mirella me olharia.

Saber que meus filhos me admiram mesmo nessa vida errada, me deixa feliz. Saber que a minha mulher me ama apesar de todos os meus erros no passado, me deixa feliz.

Nada vai acontecer com a minha família. Eu sou forte por eles, e todos são fortes uns pelos outros. Toda a minha família, porque todos os meus amigos também são ela.

A dor mais forte e mais passageira que eu senti na vida foi naquele momento, quando percebi que o barulho de tiros não tava vindo mais da minha arma e sim, dos meus soldados que me trairam e estavam ali. Atirando em toda a parte do meu corpo.

Eu caí, mas não senti dor. Não tinha como sentir mais nada naquele momento. A única dor que eu me concentrei foi na que tava sendo transmitida pelo olhar da minha filha. Minha garota finalmente demonstrou alguma coisa naquela situação e foi a única coisa que eu não queria que ela sentisse. Porque sei que isso tudo vai doer mais nela do que em qualquer pessoa.

Eu queria poder tirar essa dor dela e transmitir ela pra mim, eu não quero nunca mais ver minha menina chorando da forma que ela está chorando agora. Eu não quero que a minha esposa passe por isso, nem meu filho. Nem meus amigos.

Mas eu não posso tirar a dor deles e pegar ela toda pra mim pra não ver eles sofrendo mais, porque no momento que a minha dor física passou tudo apagou.

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acreditem, tô chorando mais do que vocês.
dois meses foram simplesmente para que eu tomasse coragem de escrever isso.

Por Nós [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora