Capítulo 3

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Magnólia estava na biblioteca. De inicio pensou em pegar o livro do rei Arthur, porém raciocinou que não seria uma boa ideia. Tudo o que ela queria era ocupar a mente e tirar o rapaz dos seus pensamentos e ler um livro onde incluía seu nome, não seria muito eficaz. Assim, ela deu uma boa olhada em todos os livros e não encontrou nada do seu agrado. Ate que sentiu falta de um livro.

- Evelina - Sussurrou ela intrigada - Onde esta meu livro favorito? Será que esqueci no orfanato? Não pode ser.

A coleção de livro de Fanny Burney estava quase completa na prateleira. Exceto pela falta de "Evelina". Magnólia fez uma busca incansável por toda a casa e por todos os lugares inimagináveis. Olhou ate mesmo dentro da dispensa. Pensou em procurar no estábulo. O que não faria sentido, visto que não tinha levado o livro para a cachoeira.

Cansada da sua busca voltou ao ponto inicial, a biblioteca. Passou os olhos sobre os livros que estavam na escrivaninha. "Rei Arthur e os Cavaleiros da tabua redonda." De uma forma simples o jovem Arthur voltou para sua mente. E junto com ele algumas perguntas inquietantes: "Quem ele era? Onde morava? Quem era sua família? A quanto tempo esta em Albuquerque? Será que ele é solteiro?" A ultima pergunta surpreendeu Magnólia tal pensamento inusitado a fez sorrir. E seus devaneios foram interrompidos pelo criado Jorge que anunciou a entrada da Srta. Alves

- Magnólia! - Disse a Srta. Alves abraçando a amiga - Eu fico tão feliz de saber que você não voltará para o colégio interno.

-É tão bom está em casa - Disse Magnólia convidando a amiga para sentar.

-Não precisamos mais escrever cartas, agora posso contar as novidade face a face. Primeiro estou noiva - A Srta Alves imaginava inocentemente que a noticia alegraria a melhor amiga, talvez a alegrasse se o cavalheiro em questão fosse digno do amor e da atenção da Srta Alves. Ele era o tipo de homem com quem Magnólia nunca se casaria - Casamento marcado para o mês de maio - Completou a amiga em euforia - finalmente o Sr Rodrigues tomou coragem.

O Sr Rodrigues era mais velho que Srta Alves. Era um homem sério, arrogante, critico e extremamente difícil de agradar. Magnólia sempre deixou claro para amiga o quanto desaprovava aquela união. Srta Alves não era provida de beleza, mas era provida de uma imensa fortuna.

-Fico feliz por vocês - Disse Magnólia com indiferença- Embora proscreva essa união. Mas espero que continue morando em Albuquerque, seria horrível agora que estamos morando tão perto nos separamos assim tão depressa.

- Se você não fosse contra casamentos, poderia se casar com o primo do meu noivo.

- Eu não sou contra casamento, embora a senhorita e todas as pessoas dessa cidade pense isso, eu só acho que não preciso me casar para ser feliz. E já mais me casaria com um Rodrigues. Uma família manipuladora, controladora e arrogante. Nunca farei parte de uma família que abusa da sua autoridade para demonstrar que é melhor ou mais importante do que os outros. Ainda mais eles que encaram o casamento como uma instituição para obter fortuna. E o Sr Rodrigues só vai se... - Antes que Magnólia pode-se concluir a frase a amiga completou.

- Só vai se casar comigo por dinheiro.

- E você ainda insiste nessa união? - Disse Magnólia indignada.

- Sim, porque o amo!

- Ele vai se aproveitar desse seu amor, jamais ira retribuir e você será infeliz. O amor deve ser retribuído, um pássaro não pode voar apenas com uma asa.

- Você esta enganada, ele me ama - Srta Alves fez uma breve pausa e continuou - Você não o conhece como eu o conheço. Sabe o que eu acho? - Magnólia sabia o que amiga ia dizer, então não se surpreendeu com suas palavras - Eu acho que você precisa ter alguém ao seu lado, para dividir as suas tristezas e multiplicar as suas alegrias.Quem sabe assim você me deixa em paz.

-Eu tenho ao meu lado meu pai, minha irmã, você e um circulo de amigos bem variados, onde posso dividir as tristezas, multiplicar as alegrias e subtrair a solidão. E se um dia eu me casar, vou continuar cuidado da sua vida, porque é pra isso que os amigos servem.

-Mas um marido não é a mesma coisa que um pai e vários amigos - Disse a Srta Alves olhando o quadro da família na parede sobre a lareira - Por mais que você insista em dizer isso, eu sempre vou te incentivar a se casar.

- Vitoria casamento não é uma necessidade para mim, nunca foi e nunca será.

-Você diz isso agora, mas um dia encontrará alguém que dominará todos os seus pensamentos e fará você suspirar por todos os cômodos da casa.

Essas palavras trouxeram Arthur a tona em suas lembranças. Embora ele tenha dominado seus pensamentos ele não a fez suspirar.

-Mas um motivo para mim não me apaixonar - Disse magnólia tentando afogar as lembranças de Arthur - O amor faz as pessoas agir como tolos. Alias eu não aceito a ideia de que a obrigação de uma mulher é apenas casar, ter filhos e cuidar do lar.

-E o que você quer Magnólia, Sair por ai com uma espingarda, Arcabuz, baioneta ou arco e flechas e caçar?

-Porque não?

-Isso não é trabalho para mulher! - Exclamou a amiga inconformada - Agora você vai me dizer que os homens devem ajudar nas tarefas do lar?

-Mas é claro ele mora na mesma casa, dorme na mesma cama, qual é o problema em ajudar? Isso não vai torna-lo menos homem.

-De onde você tira essas ideias absurdas? - Perguntou a Srta Alves com as mãos sobre a testa de Magnólia, tentando entender se a amiga estava doente, afinal ela nunca entendeu Magnólia,sempre achou a amiga anormal.

-Eu não sei Vitória - Riu Magnólia ao perceber que tirou a amiga do serio - Mas algo me diz que eu não serei a única mulher a pensar desse modo.

-Nada do que eu disser a fará mudar de ideia? Mas uma coisa pode fazer você mudar de ideia.

-O que? Perguntou Magnólia curiosa.

-O amor - As duas amigas começaram a rir.

- Magnólia - Disse a Srta Alves de uma forma carinhosa e amável - Um dia, pode não ser hoje, pode não ser amanha. Mas um dia você ira se apaixonar e todas essas ideias malucas iram sumir, ai você descobrira o quanto era boba por pensar tantas maluquices.

- Se um dia eu me apaixonar, ou me casar, meu marido tem que me amar do jeito que eu sou e aceitar meus pensamentos malucos e minhas ideias fora do padrão.

-Magnólia Santiago mudou de ideia sobre o casamento? - Perguntou uma voz familiar que entrou na sala sem ser anunciada. Por fazer parte da família não havia motivos para tantas formalidades.

- Narciso que saudades! - Disse Magnólia abraçando a irmã com tanta força -  Três anos sem nos vermos. Vejo que continua bela, o casamento deve está te fazendo muito bem.

-você tem que conhecer o meu marido, vai gostar muito dele.

-E onde ele está?

- Em Florência a negócios.

-E porque não foi junto?

-Marido não leva a esposa a viagens de negócios - Disse a Srta Alves.

-Isso é besteira Florência é uma cidade grande, minha irmã, poderia fazer compras, rever os nossos parentes, não atrapalharia o marido em nada.

- Eu não me importo em ficar em casa - Disse Narciso - Marcos me convidou para ir com ele. Eu que não quis. Prefiro ficar aqui duas ou três semanas, assim podemos matar a saudade e reviver os velhos tempos.

As três amigas passaram a manhã na biblioteca. Magnólia contava em detalhes como foi à viagem e as conversas com o pai, depois o rumo da conversa foi mudado para o noivado da Srta Alves e o casamento de Narciso, mas o assunto que predominou naquela tarde foi à chegada de um jovem cavalheiro a cidade.

Narciso ficou bem curiosa em conhecer o rapaz, Magnólia não se interessou pelo assunto. Ela tinha bem em mente que rapazes desse tipo eram todos galanteadores e destruidores de corações.

Foi combinado para o dia seguinte um passeio no centro da cidade. Narciso havia esquecido seu chapéu em casa e não suportava a ideia de andar pelo sol apenas de sombrinha, mas isso era apenas um pretexto inventado por Narciso e Vitória para ver o rapaz e apresenta-lo a Magnólia. Quem sabe a sua beleza o atraia.


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