Capítulo 48

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O tique taque do relógio soava na enorme sala de jantar dos Rodrigues em quanto o silencio pairava sobre o ar. O envelope descansava nas mãos de Sr. Arthur, sua cor era de um amarelo velho, indicando a idade da correspondência. Dentro dele haviam duas cartas, duas cartas que mudaram para sempre a vida de Sr. Arthur e Magnólia. Sófia observava cada movimento do irmão, que retirava as cartas com muito cuidado. Elas estavam tão amarelas quanto o envelope, a primeira era um pouco mais velha que a segunda. 

Sr. Arthur não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Nunca imaginou que a sua noiva era aquela que ele tanto amava. Ao desdobrar as cartas desejava que nada daquilo fosse verdade, desejava que tudo aquilo fosse uma simples brincadeira, mas era a mais dura realidade. A irmã impaciente queria ser os olhos do irmão, queria tanto quanto ele saber o que as cartas diziam, por isso solicitou que ele as lesse em voz alta. Sr. Arthur atendeu o pedido da irmã e iniciou a leitura que dizia assim:

Caro amigo.

Meu estado de saúde vem piorando com o passar dos dias. Já não sou o mesmo homem e temo pelo futuro das minhas filhas. Ontem mesmo imaginei que seria o meu fim, quase no meu último suspiro minha filha mais nova deitou em meus braços e implorou aos céus por mais tempo comigo.

Meu velho amigo, eu sou tudo o que ela tem e não sei o que será dela sem mim. Minha vida está chegando ao fim e só um milagre pode me salvar da morte. Assim, venho por meio desta carta te implorar em nome da nossa amizade e suplicar pelos seus sentimentos de pai. Que aceite a minha Magnólia como noiva do seu filho Arthur.

Sei que o seu filho é um bom rapaz, conheço a sua boa reputação e seu excelente caráter. Embora muito jovem vejo que será um homem de boa índole e um bom marido. Um casamento arranjado não é algo que almejo para minhas filhas, mas é o melhor que eu posso fazer no estado deplorável que estou.

Minha filha mais velha, já está noiva. A família do meu futuro genro, recusou o dote dela por questões pessoais. Por essa razão ofereço ao seu filho a minha preciosa Magnólia com o dote dela e o dote da irmã, que lhe proporcionara uma fortuna imensurável.

Não conheço ninguém neste mundo, que seja mais digno da minha doce Lia do que o seu Arthur. Venha me visitar o quanto antes, não me restam muitos dias.

Atenciosamente, Luiz Santiago.

Sófia ouviu a leitura da carta com o coração na mão, absorveu cada palavra e assimilou todo os sentimentos que ela transmitia. Sentiu o desespero do pai que temia o futuro incerto da filha, viveu a melancolia de suas palavras imaginando a dor da certeza da morte e compreendeu o grande amor de Sr. Santiago pelas filhas.

Sr. Arthur não era tão sensível quanto a irmã. A leitura da carta apenas lhe transmitiu a ganância do seu próprio pai. Ficou evidente que a frase "Fortuna imensurável" o havia motivado aceitar o acordo. A oportunidade de um dinheiro fácil instigou Sr. Rodrigues e nada tinha haver com sentimentos ternos de pai ou sentimentos afetuosos pelo amigo. Assim, para o filho não havia desculpas que amenizasse a atitude do pai.

Sófia curiosa como sempre, perguntou ao pai qual foi a doença penosa que causou tantos sofrimentos ao Sr. Santiago.

– Não me recordo bem, mas acredito que ele pegou Varicela. –  Respondeu o pai um tanto confuso.

– Não meu querido, ele pegou Varíola – Corrigiu a esposa.

– O senhor viajou ate Albuquerque para se encontrar com um homem muito doente, não teve medo de pegar Varíola?

– Só se pega uma doença, quando se tem medo dela. – Mentiu Sr. Rodrigues.

Quando ele visitou o amigo conversou de longe, assinou o contrato com o tinteiro e a pena que trouxe de casa, se recusou a levar o contrato embora com medo do papel estar infectado. Ao sair de Albuquerque tacou fogo nas próprias roupas e ficou de quarentena na cidade de Cecília jurando que estava doente, quando na verdade havia pegado um simples resfriado.

MagnóliaOnde histórias criam vida. Descubra agora