Capítulo 6

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Depois do jantar com a família Araujo, os deveres com a sociedade estava apenas começado. A família Santiago recebeu diversos convites. Em cada refeição, piquenique ou qualquer outro tipo de lazer, Magnólia descobria algo novo sobre o misterioso Arthur.

Durante um piquenique nas propriedades do Goês. Houve rumores de que Arthur também tinha sido convidado, porém para a surpresa de Magnólia e decepção de Narciso que desejava tanto conhecê-lo. Ele não estava presente.

– Ontem eu descobrir uma coisa sobre o Sr Arthur – Disse a Sr Motta – Ele tem uma irmã mais nova.

Embora estivesse a dois anos e meio na cidade. Sr Arthur despertou a admiração de todos, por sua inteligência, elegância e simpatia. Assim ao descobrirem que ele tinha uma irmã. As damas ficaram imaginando que a moça deveria ser bem dotada. A Srta Motta disse que ela deveria cantar como um anjo, a Srta Alves imaginava que ela pintava com perfeição e Magnólia não deu nenhuma opinião.

A Família Gomes convidou alguns amigos para uma recreação com direito a diversos jogos pra os rapazes e um delicioso chá para as damas, junto é claro com a promessa da presença de Arthur. E novamente a presença dele passou de uma simples promessa.

- Fui ao correio esse dia – Disse a Sr Gaudêncio– Descobrir que o Sr Arthur era noivo – Bebericou o chá e continuou em um tom mais baixo – Era um noivado arranjado, ele se recusou a se casar e foi deserdado.

Aquela noticia espantou a todos, aguçou a curiosidade de alguns e incitou algumas perguntas:

-Quem era sua noiva? – Questionou a Sr Araujo.

- Não se sabe bem ao certo – Respondeu Sr Motta com ar de mistério – Morava em Florência e era muito rica...

Esse foi o assunto daquela tarde. Quem ela era? Onde morava? Porque recusou o noivado? Se ele não tem fortuna, de onde vem o seu dinheiro? Como conseguiu a sua propriedade? Como paga os criados? E ninguém soube responder essas perguntas.

No recital das filhas de lady Scarlett, a Srta Alves ficou sabendo que Arthur ganhou uma pequena fortuna da sua mãe. Com esse dinheiro ele comprou a propriedade que está morando, criou uma pequena editora de livros e abriu sua própria livraria em Albuquerque. Essa era a razão de ele não ter comparecido a nenhum dos lazeres que havia sido convidado. Ele estava em Florência a negocio, cuidando dos interesses da editora.

Todas essas historias a respeito de Arthur, suas atitudes para como casamento, sua independência financeira, seu amor e cuidado pela irmã mais nova, despertaram em Magnólia admiração e respeito, de uma proporção que ela nunca sentiu por ninguém. Ela não estava apaixonada, mas percebeu o quanto eles eram parecidos e por isso estimou a sua amizade. Narciso só lamentava o fato de não ter conhecido o rapaz, e agora só tinha mais uma semana em Albuquerque e provavelmente perderia a oportunidade de conhecê-lo. Srta Alves mencionou o baile que teriam no fim de semana, talvez ate lá Arthur estaria na cidade.

Já era tarde da noite e Narciso estava na sala lendo a ultima carta que seu esposo havia enviado. Ele descrevia o quanto sentia sua falta e o quanto a amava. Pelas contas de Magnólia ela já tinha lido a carta por no mínimo umas oito vezes. Sem contar nas vezes que ela leu em voz alta, para o pai, para a Irma, para cada criado e para as paredes. Magnólia tentava ler "Robson Crusoé." Mas cada suspiro da irmã tirava sua concentração. Assim largou o livro sobre uma mesinha, sentou ao lado de Narciso e perguntou:

- Senti falta dele?

- Quando estamos longe é como se faltasse um pedaço de mim.

- Essa é a nova carta, que ele enviou?

-Estou esperando a décima. Que alias, já deveria ter chegado.

-Deve esta no correio. Amanha podemos pedir para Miguel pegar as nossas correspondências.

- É uma excelente ideia – Disse Narciso sorrindo – O que será que ele escreveu na décima carta?

- Sem duvida que te ama e que sente saudades – Riu Magnólia – Contou a ele do Baile?

- Sim contei, mas ele não chegará a tempo – Narciso dobrou a carta e suspirou – O que vai vestir para o baile?

- Não sei ainda. Tenho alguns vestidos que usei em Florência que são ideais para essa ocasião.

- Acha que Arthur estará presente?

- Recebemos muitos convites esses dias e em cada um deles havia a promessa da sua presença. Acho que no baile não sera diferente.

- Quero muito conhecê-lo - Narciso esperou alguma palavra de Magnólia, mas ela ficou em silêncio.

Magnólia nunca falou sobre rapazes com a irmã, e não seria agora que ela começaria a falar sobre eles, pelo menos era o que ela pensava. Sua vontade era contar sobre como conheceu Arthur, sobre os seus dois encontros, sobre a forma inteligente que ele descreveu Burney. Entretanto não existiam palavras para aquela conversa.

- A cidade fala tão bem dele, deve ser um verdadeiro gentleman. A Sr Motta sempre tem uma historia sobre ele. Esses dias ela disse que Arthur socorreu uma criança de um cavalo desgovernado. Já ouviu a história que ele salvou o Sr Nascimento que se engasgou durante uma ceia? A minha história favorita é aquele que ele protegeu uma dama de ser picada por uma cobra – Magnólia não ficou apenas branca com esse relato, ela mudou de cor por diversas vezes, gaguejou, disse algo que nem ela mesma conseguiu compreender e deu um sorriso amarelo – Esta tudo bem? – Perguntou a Irmã preocupada e ao mesmo tempo desconfiada. – Você acha que essas histórias são falsas?

Quanto tempo mais iria guardar esse segredo? O que ela estava esperando para poder contar? Magnólia nunca escondeu nada de sua irmã. Não havia motivos para temer a reação dela. Compreensão era uma palavra que a descrevia com perfeição. Assim embora temerosa, ela disse:

- O Sr Nascimento tem um apetite voraz e esta sempre se engasgando, e todos na cidade salvou ele da quase possível morte. Sobre a criança ele deve ter salvado, entretanto duvido que tenha sido de uma forma tão exagerada. Sobre a dama em perigo, essa história eu tenho certeza que é verdadeira. – Disse ela fazendo uma breve pausa e olhando para a lareira- Eu sou a dama em perigo, a primeira coisa que fiz assim que cheguei a Albuquerque foi visitar a cachoeira cristalina.

Narciso ficou pasma, surpresa e confusa. Elas estavam juntas por quase dois meses e meio. Magnólia não sabia como explicar para a irmã a razão de não ter contado. Talvez por falta de oportunidade ou porque não era algo importante. Mas agora ela foi obrigada a contar detalhes por detalhes sobre o salvamento. Não havia muito o que contar, por isso teve que contar duas vezes.

Narciso era uma romântica incorrigível. De modo que ficou encantada com o ato heroico. Para ela essas histórias só aconteciam nos livros. Ficou ainda mais fascinada pelo encontro na livraria, esse segundo encontro comprovou que o rapaz, era tudo o que a cidade falava. Ninguém em todos os seus vinte e três anos de idade descreveu Fanny Burney de forma espetacular. E se antes Arthur já havia ganhado a sua admiração, agora mais do que nunca ele tinha conquistado também a sua afeição.

***

E agora eu te pergunto: "Será que ele vai ao baile?"

MagnóliaOnde histórias criam vida. Descubra agora