Capítulo 4

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O centro da cidade era bem pequeno em comparação com o centro de Florência e de Cecília. Uma cidade que fica entre Florência e Albuquerque, onde mora a tia de Magnólia.

A carruagem parou em frente à loja de chapéus, Narciso e Vitória entraram, ao passo que Magnólia ficou em frete a carruagem, ela deu uma boa olhada em tudo a sua volta. Percebeu que durante esses três anos algumas coisas haviam mudado. O correio estava no final da rua perto do banco. A cidade tinha uma pequena livraria que ficava ao lado de duas novas lojas de roupa. "É incrível o que uma simples passagem de tempo pode alterar em uma cidade" Pensou ela admirando aquele pequeno centro "As pessoas são como as cidades" concluiu ela "Mudam rapidamente".

Enquanto Magnólia se perdia nos seus pensamentos, Narciso sentiu sua falta e saiu da loja em busca da Irmã. Magnólia expressou a sua comoção, não compreendia o quanto uma cidade poderia mudar em tão pouco tempo. Apenas três anos, esse pequeno tempo foi o suficiente para a metamorfose ocorrer. Essa não era mais a sua pequena Albuquerque, agora era a nova Albuquerque. Narciso riu do espanto desnecessário, era apenas uma cidade, não ocorreram tantas mudanças. Alguns comércios novos, famílias diferentes , nada justificava o espanto da irmã. Deste modo afirmou Magnólia sua teoria "As pessoas são como as cidades". Ela já não era a mesma e Albuquerque também não.

Narciso expunha a sua opinião sobre a cidade e Magnólia admirava a pequena livraria, do outro lado da rua.

-Eu vou dar uma olhada na livraria - Disse Magnólia se distanciando e deixando a irmã falando sozinha e tudo o que ela conseguiu ouvir foi algo sobre "não demore se não vai perder os melhores chapéus" - Prefiro perde um belo chapéu a perde um belo livro! -Gritou ela atravessando a rua.

A livraria era bem pequena, havia uma variedade de livros sobre poesia, o que era bem comum, pois naquela cidade a poesia vendia igual água.

"Será que tem Evelina? Acabei deixando o livro no colégio... e provavelmente deve estar com outra pessoa agora, e não estou a fim de viajar tanto só para pegar um livro."

Magnólia deu uma boa olhada nas prateleiras e finalmente encontrou os livros de Fanny Burney. "Camilla... Cecília... Ah Evelina. É Você mesmo que eu estava procurando".

Enquanto segurava o livro e sorria muito satisfeita, ela teve aquela sensação de que alguém a observava, ignorou a intuição e continuou folheando o livro.

-Fanny Burney? - Perguntou uma voz masculina em tom sarcástico.

Magnólia estava muito concentrada e levou um belo susto, quase derrubou o livro e irritada questionou, sem olhar para o rapaz: - Algum problema?

-Não - respondeu ele em um tom afetuoso - Burney descreve o estilo de vida da nobreza inglesa incluindo suas vontades e fraquezas de uma forma fascinante e expõe sua ideologia feminista de maneira cativante. Seus romances demonstram o quanto certas coisas são fúteis.

Ninguém nunca descreveu Burney de uma forma tão impecável e sublime. Magnólia precisou de alguns minutos para absorve cada frase. Era como se alguém tivesse entrado na sua mente, materializado seus sentimentos e transformado eles em palavras.

Magnólia era muito orgulhosa para deixar sua admiração exposta. Assim de uma forma natural sorriu disfarçando seu encanto e disse formalmente, sem olhar para o rapaz: - O senhor conhece os romances de Burney?

-A minha irmã mais nova, gosta de Burney e acabei lendo só para satisfazer a minha curiosidade. - Disse ele pegando um livro próximo de Magnólia, próximo o suficiente para ela ver o nome de um livro que estava em sua mão esquerda.

- Ivanhoé - Disse ela em voz alta, ao ler o nome do livro.

- Hoje eu vou levar Ivanhoé - Informou ele colocando um outro livro na prateleira - A Senhorita conhece esse livro?

- Luta entre saxões e normandos e intrigas de João sem terra para destronar Ricardo Coração de Leão? - Indagou ela um pouco soberba.

-Então você conhece Ivanhoé? - Questionou ele admirado.

-Sou amante da leitura e conheço de tudo um pouco - A curiosidade tomou conta de Magnólia, ela já não aguentava mais conter-se precisava olhar o rosto daquele que descreveu tão bem Burney. Assim ela e olhou para o rapaz - Você é... - A desordem foi tanta que o livro de Eveline cai, ela não conseguiu completar a frase. O jovem rapaz pegou o livro.

- O rapaz da cachoeira? Sim sou eu mesmo - Sorriu ele ao entregar o livro - Vim pedir perdão pelos trajes que vestia, não foi uma maneira formal e respeitosa de se conhecer uma dama.

-Não reparei nos seus trajes - Mentiu ela se recuperado do susto - Mas se o senhor não aparecesse, eu seria picada pela cobra e só Deus sabe o que seria de mim.

A conversa a seguir não durou nem dez minutos. Ela agradecia o ato heroico, ele recebia o agradecimento bem constrangido. Após o fim do assunto, o silencio tomou conta do ambiente. As apresentações foram feitas de acordo com a etiqueta, ela disse seu sobrenome e ele apenas pronunciou seu primeiro nome e insistiu que ela o chamasse assim. A calmaria voltou ao ambiente, Magnólia percebeu que essa era sua deixa, o rapaz queria conversar um pouco mais e nos segundos a frente teve uma ideia: - O que acha de... - antes que um convite fosse estendido Magnólia interrompe Artur.

-Preciso ir avisei a minha irmã que não demoraria e ajudaria ela a escolher um chapéu. Tenha um bom dia com licença.

Arthur não teve tempo de se despedir e tinha quase certeza que ela não ouviu o seu bom dia. Magnólia saiu da loja com um belo e afetuoso sorriso e um pouco corada. Ele não era apenas bonito e encantador, era inteligente e perspicaz . Tinha qualidade e conteúdo, o jovem Arthur era um rapaz distinto.

Ao chegar à loja as jovens damas reclamaram da demora, embora não tinha se passado nem se quer vinte minutos. Narciso mostrou com entusiasmo as fitas e os chapéus que tinha encontrado. Havia tantas cores e tantos modelos, toda aquela variedade a deixava confusa, indecisão era uma palavra que descrevia Narciso com perfeição.

-Então o que comprou? Perguntou ela a irmã enquanto se decidia entre três chapéus.

Magnólia estava com o pensamento um pouco longe, demorou um pouco para perceber a pergunta.

- Ah... Comprei um livro - Disse ela olhando para janela observando Arthur virar a esquina - Comprei Evelina.

-Ah não entendo o que tem de tão agradável nesses romances - Disse Vitória - Eu sinceramente prefiro um lindo poema bem dramático e melancólico.

-Poemas são lindos e dignos de admiração, mas nada se compara a uma bela história de amor... - Enquanto Magnólia falava era empurrada a um espelho e obrigada a experimentar diversos chapéus - Uma historia de amor escrita com grande personalidade de uma forma que possamos avaliar aspectos da nossa sociedade.

Tanto vitoria como Narciso ignoraram as declarações anteriores. A maior preocupação delas era encontrar um chapéu extraordinário. Aquela cena trouxe à tona a frase de Arthur "O quanto certas coisas são fúteis." Sem duvida a compra de tantos chapéus era uma coisa fútil.

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