C A P Í T U L O 31

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Finalmente estava na hora de ir embora, não aguentava mais encarar o teto branco do quarto de hospital. Mil pensamentos rondavam a minha mente, ou melhor, Justin rondava a minha mente. Sabia também que teria que enfrentar os sermões de meu pai quando fôssemos pra casa e não estava com cabeça pra isso.

Assim que meu pai assinou os papéis, sairmos do quarto e começamos a caminhar pelo corredor. Eu sabia que ele estava puto da vida pelo o que aconteceu e eu tentava encontrar alguma desculpa na minha cabeça. Claire já não estava mais aqui, pedi pra que ela fosse pra casa descansar. Meu ombro doía e eu sabia que teria dificuldade para dormir.

Assim que passamos pela grande portão da saída do hospital, meus olhos quase saem para fora ao ver o Justin saindo de seu carro. Ele tira o óculos preto, o deixando em cima do cabelo. Engulo em seco, sentindo meu coração acelerar. Sua feição parecia de preocupação, e quando ele me nota, o mesmo abre um sorriso, e que sorriso, céus. Acabo sorrindo também e vejo ele andando em minha direção.

- Eu não acredito que esse filho da puta ainda voltou. - Meu pai diz com raiva e coloca a mão na arma que está em sua cintura, olho pra ele e nego com a cabeça, assustada.

- Pai pelo amor de Deus não faça isso.

- Vaza daqui seu vagabundo de merda. - Diz assim que o Justin para em minha frente.

- Eu só vim ver como ela está. - Ele diz firme sem tirar os olhos de mim. Eu devia está puta com ele, mas não estou, o que está acontecendo comigo?

- Não está melhor que você né seu desgraçado, você que deveria tomar esse tiro e morrer de uma vez por todas.

- Por que esse ódio todo por mim? Parece ser pessoal. - Justin pergunta desconfiado e olha pra ele, o encarando.

- Parem com isso agora! - Me alterei. - Pai, por favor vai pro carro, eu já vou indo, prometo que iremos resolver isso.

Ele continuou olhando o Justin com raiva e depois saiu andando. Suspirei fundo.

- Não sabe o quanto fiquei preocupado. - Ele diz e funga o nariz. O mesmo estava um pouco vermelho, assim como seus olhos e o que veio na minha cabeça é que ele podia ter se drogado.

- Eu estou bem, escapei de uma.

- Eu já acabei com o desgraçado que fez isso, esse tiro era pra mim, eu tô te devendo essa.

- Você não me deve nada Justin, na verdade a gente nem vai se ver mais.

Ele franziu o cenho. Era visível as olheiras ao redor de seus olhos, parecia cansado.

- Como assim Cecília, tá maluca?

- Justin eu levei um tiro, eu não quero morrer.

- Eu não vou deixar você morrer, isso nunca mais vai acontecer.

- Você não é Deus.

- Não importa Cecília, eu não quero ficar longe de você, isso está fora de cogitação. - Ele alisou o polegar esquerdo em minha bochecha, me deixando tímida.

- Isso sou eu que decido, e sei que será melhor pra mim.

- Por favor, isso não, eu nunca mais vou deixar nada acontecer contigo, ninguém vai tocar um dedo em você, eu prometo.

Olho pra baixo, encarando meus pés, mas logo ele levanta cuidadosamente meu queixo com os dedos, fazendo-me encara-lo.

- Eu não sei Justin, estou confusa demais, nunca passei por algo parecido, desde que te conheci a minha vida está virando um verdadeiro filme de ação.

- Filmes de ação são bons. - Ele sorriu, alisando meu rosto.

- O problema desses filmes é que o final nem sempre é feliz. - Suspirei fundo e ele tirou a mão do meu rosto, colocando-a no bolso de sua calça jeans preta.

- Não quero mesmo ficar longe de você, entendo que esteja confusa mas eu sei que está gostando de ficar comigo, da mesma forma que estou de ficar com você, na verdade nem sei porque estou me importando tanto, não costumo ser assim com absolutamente ninguém, enfim, não posso te obrigar a nada, mas peço que você pense direito sobre isso.

Assenti, colocando a franja solta atrás da orelha.

- Se precisar de qualquer coisa por favor não hesite em me falar.

- Tudo bem, eu já vou indo.

Ele assentiu, e quando ia passando por ele, o mesmo puxou meu braço que não está ferido com gentileza e invadiu a minha boca, me beijando. Foi impossível não retribuir, eu simplesmente amo o nosso beijo, amo a forma que ele se encaixa perfeitamente.

Paramos o beijo e eu dei uma última olhada nele antes de voltar a andar em direção ao carro do meu pai. Sentia um friozinho na barriga, o Justin causava esse efeito em mim. Assim que cheguei em frente ao carro eu abri a porta da frente e entrei, sentando-me no banco. Estava com medo do que iria por vim.

JAXON

- MAS que caralho!

Gritei, derrubando todos os papéis que estavam em cima da minha mesa do escritório. Eu estava puto da vida, mas muito puto mesmo. O Justin simplesmente não morria, esse desgraçado era difícil de matar, todos os meus planos em tira-lo do mundo de uma vez por todas não davam certo.

Tenho alguns informantes na favela dele e soube do que aconteceu, o tiro pegou na vagabunda que ele está pegando, não nele, o que me fez surtar de ódio. Só estava esperando a ligação de que ele estava morto pra eu poder ir pro Brasil e comandar a favela.

Vou até a adega e tiro de lá uma garrafa de uísque, abro a tampa e começo a beber, sentindo minha garganta arder e meu estômago queimar.

Tiro o paletó cinza e o jogo no chão, ficando apenas com a camisa social branca e a gravata listrada. Sento-me no sofá, encarando o teto enquanto dou alguns goles do uísque.

Eu simplesmente odeio o meu irmão, o odeio porque ele sempre consegue o que quer, tudo que ele tem hoje deveria ser meu.

Justin é um ano mais velho que eu. Lembro da época que ele entrou no tráfico porque a nossa mãe descobriu um câncer e não tínhamos dinheiro pra pagar. Meu pai trabalhava vendendo sorvete e ganhava uma mixaria, eu e Justin trabalhávamos em tudo que via pela frente, mas o que ganhávamos só dava pra suprir necessidades básicas. Assim que descobri que Justin entrou no tráfico e começou a ganhar dinheiro, eu não pensei duas vezes e entrei também. Ficamos trabalhando juntos para o Ruan, que era o chefe, até que mataram ele. Assim que o mataram, eu jurava que seria o escolhido pra tomar conta de tudo, pois era bem próximo do Ruan, mas para não ter confusão, todos resolveram se reunir e votar em quem deveria comandar, e todos escolheram o desgraçado do Justin. Ele sempre foi na dele, sempre foi frio e calculista e conseguiu tomar o lugar que ele sabia que eu muito ansiava. Depois que ele começou a comandar, o mesmo só sabia mandar e mandar e foda-se o irmão aqui, pra ele eu era um lixo. Tomei ódio de Justin e foda-se que ele é do meu sangue. Agora o mesmo comanda uma boa parte do tráfico aqui de Seattle e eu com muito trabalho consegui comandar o resto, porém não estou nada satisfeito com isso, eu quero tomar tudo dele e eu irei.

Gringo, o meu traficante.Onde histórias criam vida. Descubra agora