C A P Í T U L O 21

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Ao escutar aquela voz, meu coração acelerou  de medo. Olhei pra ele, o meu pai, que está sentado na beirada da minha cama de braços cruzados, com o olhar enraivado.

- Pa-pai? - Gaguejei, e minha mente começou a trabalhar rapidamente na procura de uma desculpa.

- Você deu pra fugir agora Cecília? Deu pra sair escondido?

- Pai, eu...

- Eu vou trancar a sua faculdade e tomar a sua moto.

- Quê? Não, eu juro que nunca fiz isso antes, só foi ontem porque teve um aniversário e...

- NÃO MINTA PRA MIM! - Ele se alterou e levantou, apontando o dedo pra minha direção.

- Eu não estou mentindo.

- Já vi que você é igual a sua mãe, uma grande mentirosa!

- Se eu saí escondido é porque sabia que você não iria deixar, se me deixasse viver eu não fugiria. - Disse com raiva.

- A partir de hoje você não terá mais mesada e eu não irei pagar a sua faculdade, você não quer se dominar? Então pague as suas próprias contas.

Ele saiu pisando os pés do quarto e eu fechei a porta com força de tanta raiva. Comecei a chorar, pensando em como eu iria me manter e pagar a faculdade, que merda! Precisava urgentemente achar um emprego.

JUSTIN

Admito que o sexo que tive com a Cecília me deixou com um humor ótimo. Estava gostando de ficar com ela e sabia que isso não era o certo a se fazer, já que o pai dela é policial e poderia me dar problemas. Mas o que eu posso fazer? Não consigo resistir. Vamos ver até quando isso vai durar.

- Mano, tu não acha perigoso demais ficar se envolvendo com essa mina? O pai dela é policial e você é simplesmente o dono do morro. - Ryan perguntou, jogando uma maçã pra mim e sentando ao meu lado no sofá.

- Realmente, sei que tô fazendo merda - suspirei e dei uma mordida na maçã - mas tô curtindo ficar com ela, o que posso fazer?

- Tu tá gostando mesmo dela?

- Eu não sei, sei que tô gostando de me envolver com ela.

- Isso vai acabar dando merda.

- Eu gosto de uma adrenalina. - Dei risada e Ryan negou com a cabeça.

- Você é um grande maluco, isso sim.

Quando Ryan foi embora, chamei o Zac pra termos uma conversa e quando ele chegou fomos pro escritório.

- Fala patrão. - Ele diz ao se sentar no sofá de dois lugares. Me encostei em frente a minha mesa e cruzei os braços.

- Como já deve tá sabendo, um carro me seguiu ontem e trocou tiro com a gente. Tão querendo realmente a minha cabeça e eu preciso saber o porquê.

- Eu tô tentando descobrir como isso tá acontecendo do nada, primeiro invadiram a favela e agora isso. Tá parecendo que tem alguém querendo armar pra você.

- Eu tenho certeza que é isso, só preciso saber quem é - suspirei - isso está me estressando demais, eu preciso da minha segurança e da segurança em minha favela de volta.

- Já falei com alguns policiais da gente - ele se referiu aos que a gente paga pra nos ajudar - e eles também não sabem o porquê, parece que tem alguém grande comandando tudo isso.

- Eu tenho que descobrir quem é - passei a mão nos cabelos - preciso que continue tentando saber o porque disso está acontecendo urgentemente.

- Pode deixar, estou fazendo de tudo ao meu alcance, só peço que evite o máximo a sair da favela.

- Você tem razão, não posso mais sair da favela, eles querem minha cabeça de qualquer jeito. Outra coisa, precisamos de novos homens, muita gente morreu e precisamos de caras competentes.

- Também estou resolvendo isso, já contratei alguns que eram da outra boca. - Ele levantou - Mais alguma coisa patrão?

- Tem uma pequena coisa sim.

- Pode falar.

- Quero que deixe claro pra todo mundo na favela que a Cecília tem passo livre pra andar por aqui e que não quero que ninguém mexa com ela, ela é minha, caso veja alguém mexendo pode matar.

- Pode deixar chefe.

- Pode se retirar. - Disse e por fim ele saiu. Fiquei parado pensando em tudo que estava acontecendo. Eu não via a hora de pôr a mão no filho da puta que estava tentando me prejudicar. Lembrei que chamei a Cecília pra sair hoje a noite e terei de cancelar, pois percebi que não posso ficar vacilando, a minha vida está mais em risco do que antes.

Retiro o celular do bolso da minha bermuda e procuro pelo número da Cecília, quando encontro, ligo e espero ela atender.

- Alô?

- Oi meu bem, liguei pra avisar que não vai dar pra gente sair hoje, percebi que não posso tá saindo da favela por enquanto.

- Ah, tudo bem então.

Franzi o cenho, percebendo que a voz dela estava estranha, como se estivesse chorando.

- Você tá chorando? O que aconteceu?

- Nada não, coisa minha. - Fungou o nariz.

- Você tem certeza?

- Você pode me buscar? Ou mandar alguém me buscar? Não quero ficar em casa. - Ela diz soluçando e eu fiquei preocupado.

- Vou mandar alguém te buscar, fica calma.

- Tá bom, tô esperando.

Desliguei a ligação e peguei o rádio em cima da mesa, mandei que buscassem a Cecília no endereço que falei e deixei o rádio onde estava. Fiquei pensando no porquê que ela estava chorando e me perguntando o porquê que eu estava me preocupando.

Gringo, o meu traficante.Onde histórias criam vida. Descubra agora