Capítulo 15

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  Alfonso estacionou o carro e desceu afrouxando a gravata. O dia tinha sido difícil, e desde o café da manhã não tinha comido nada.

  Os boatos e perguntas sobre o seu casamento não fez as coisas melhorarem, e sua paciência já tinha se esgotado.

  Pensou em ligar para saber como Anahi estava durante o dia, mas como ela mesmo havia dito, aquilo era um casamento de mentira, e esse tipo de coisa só era feita em casamentos de verdade.

  Abriu a porta e sentiu a casa perfumada, logo reconheceu que era o cheiro de Anahi.

  Virou-se para trancar a porta e só então percebeu um vaso de flor, um vaso que não estava ali antes, e que não era para estar ali. Flores lembravam enterro, e enterro lembrava seus pais.

  Ele bufou sem um pingo de paciência.

— Alf, é você? - A voz animada dela vinha da cozinha - Venha, preparei o jantar.

  Ele respirou fundo caminhando em direção a cozinha. Pela primeira vez, depois de muito tempo alguém lhe esperava para jantar.

  Anahi, com o cabelo preso em um coque, estava vindo em sua direção, com os seus grandes olhos azuis brilhando de alegria.

— Espero que goste de panqueca - Ela disse pegando sua mão e o puxando para a cozinha. - Queria agradecer por ontem, foi muito gentil - Ela disse sorrindo - Hoje, aproveitei o dia para me familiarizar com a casa e meio que tentei dar um pouco de vida a ela, estava tão escura e fria. Espero que não se importe.

O que ela queria dizer com dar vida? - Ele se perguntou.

— Onde prefere se sentar? - Ela perguntou quando chegaram a cozinha.

  Alfonso não respondeu, estava ocupado olhando para a “vida” de Anahi.

— O que significa isso? - Ele perguntou franzindo o cenho.

  A cozinha estava repleta de flores, uma na janela, outra em cima da geladeira, outra plantinha no chão…

— Isso o que?

— Esse mato todo na minha casa. - Ele disse sério sem alterar a voz.

  Anahi puxou a mão como se alguém tivesse lhe dado uma chibatada.

— A casa estava tão sem cor e eu não tinha nada para fazer. Espero que não se importe e…

— Eu me importo. - Ele a cortou.

— É que bom... eu as acho tão bonitas e delicadas, e pensei que... - Ele a cortou de novo.

— Eu não gosto delas, só servem para atrair bichos.

— Quanto a isso não se preocupe, eu posso cuidar para que isso não aconteça. Eu pensei que você… - Ele a cortou mais uma vez.

— O que você não pensou é que a casa é minha, e que antes de sair mudando as coisas tem que falar comigo. Não gosto de flores... - Ele declarou.

  Naquele momento ela teve certeza de que se lhe tivessem arrancado um dedo, não doeria tanto.

  Alguns segundos de silêncio se passaram até ela se pronunciar:

— Você tem razão - Ela disse olhando para todos os lados, menos para os olhos dele - Você está coberto de razão. Pode apostar que a partir de hoje, vou ficar no meu lugar - Ela disse ressentida - Amanhã mesmo retirarei todas as flores - Ela prometeu - O seu jantar está servido.

  Ela anunciou se retirando da cozinha.

— Escuta Any… - Alfonso disse parando na frente dela e a olhando nos olhos, arrependido.

— Aproveite seu jantar Alfonso. - Ela disse fazendo a volta nele e saindo quase correndo da cozinha.

  Alfonso soltou um palavrão baixinho.

  Agora os grandes olhos azuis de Anahi não brilhavam mais de alegria, nem se quer brilhavam.

  Ele respirou fundo e olhou para a mesa posta.

  Pratos, copos, talheres, tudo em seu devido lugar... tinha um vaso pequeno e delicado no centro da mesa com três rosas vermelhas dentro.

  Um nó na garganta quase lhe enforcou e ele precisou engolir seco.

  Ele realmente era um idiota.

💠

  Assim que Anahi fechou a porta atrás de si e passou a chave, se jogou na cama sentindo as lágrimas lhe queimarem o rosto.

  Sabia que estava se comportando igual a uma adolescente mimada, mas dane-se. Que fosse uma adolescente mimada então.

  Tudo o que ela tentou fazer foi ajudar, não pensou que por míseras flores ele faria tudo aquilo. Afinal eram apenas flores.

  Enterrou a cabeça no travesseiro fazendo assim com que os soluços saíssem abafados e baixos.

  Como ele havia conseguido mudar tanto de uma noite para outra?

  Na noite passada, era gentil, engraçado e alegre, porém hoje estava mais para idiota, idiota e idiota. Mas ela tinha entendido, a casa era dele, quem mandava era ele, e ela não deveria se meter nos assuntos dele.

  Era tudo culpa de Dulce. Como ela conviveria com ele durante seis meses se logo no primeiro dia já haviam brigado?

  Uma batida na porta foi ouvida, e ela rapidamente secou as lágrimas.

— Anahi, venha vamos jantar.

  Aquilo não era um pedido, e sim uma ordem.

— Eu já jantei Alfonso. Obrigada pela sua preocupação. - Ela disse irônica.

— Não minta, você não jantou.

— Jantei sim. - Ela rebateu orgulhosa.

— Escute, - Ele disse sem paciência - Se você não descer em dois minutos, não te esperarei para comer.

— Ótimo, não espere. - Ela disse brava.

  Ele pronunciou um palavrão alto.

— Tudo bem, deixe as flores. - Ele disse por fim com voz baixa.

— O que você disse? - Ela perguntou se sentando na cama.

— Disse para deixar a droga das flores.

— Sério? - Perguntou já de pé junto a porta.

— É, deixe as flores. A casa também é sua agora, só me de um tempo para me acostumar com isso - Ele suspirou - Eu vou tomar um banho. Assim você tem tempo para descer e jantar lá em baixo, depois eu como alguma coisa.

  Barulhos de passos no corredor foram ouvidos e finalmente o barulho de uma porta batendo soou.

  Anahi ainda estava atônica. Tinha ouvido mesmo aquilo?

  Deus, que homem bipolar!

  Ela se jogou na cama pensando. Por um lado ele tinha razão por ter ficado bravo, ela não havia pedido para ele, e se fosse alérgico? Era isso, claro, era alérgico. Como ela não tinha pensado nisso?

  Ela gemeu com a consciência pesada.

  Talvez se jantassem juntos o clima poderia ficar melhor... ou pior, tanto faz, pior do que estava não iria ficar mesmo.

  Era apenas o primeiro de muitos dias que teria que passar na companhia dele. Tinha que se acostumar com o maldito frio na barriga, afinal, era apenas Alfonso, só mais um homem rico qualquer...

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