Capítulo 70

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  Os dedos de Maite afrouxaram o aperto e Anahi conseguiu libertar o braço.

  Avançou em passos largos pelo corredor que conhecia tão bem, logo avistou a mesa de Dana, ou ao menos a mesa na qual Dana deveria estar trabalhando. Logo a sua frente a grande e alta porta apareceu, não importava quanto tempo ele fosse demorar, ela esperaria e por fim colocaria os pingos nos “is”. Anahi sorriu e colocou a mão na maçaneta respirando fundo. A partir dali era tudo ou nada!

— Poncho! - A voz manhosa de Dana lhe chegou aos ouvidos - Por favor...

  Anahi empurrou a grande porta que se abriu sem o menor sinal de barulho ou ruído. E então o chão que até pouco tempo atrás estivera abaixo dos seus pés desapareceu, seu coração começou a bater freneticamente e sua respiração falhou... Agora entendia o motivo da insistência de Maite.

  Por Deus onde ela estava com a cabeça ao acreditar que podiam tentar ter um casamento de verdade? Ao acreditar em tudo o que Alfonso dissera? Céus como era idiota!

  As lágrimas queimaram seus olhos e a garganta se fechou implorando por um soluço. Ela engoliu seco. Não faria isso... Não iria chorar, não ali!

  Ela ficou ali enquanto via Dana, apenas de sutiã e com uma saia que não cobria quase nada, beijar seu futuro ex-marido. Alfonso tinha as mãos nos ombros dela e parecia tentar falar alguma coisa, enquanto a vadia continuava lhe beijando com volúpia.

— Dana... - Alfonso enfim conseguiu dizer e ela se afastou para encará-lo.

— Si... - Perdeu a fala e de pronto a expressão de seu rosto ficou petrificada de... assombro.

  Dali em diante tudo aconteceu rapidamente. Vendo o olhar apavorado que Dana lançava para a porta, Alfonso se virou para encontrar o par de olhos azuis que o olhava com indiferença.

— Anahi! - Ele sussurrou levantando da cadeira em um pulo.

  A camisa dele e o cinto estavam abertos, Anahi pôde perceber.

— Surpresa! - Ela disse com as mãos na cintura e a voz carregada de ironia - Eu vim lhe mostrar o meu novo visual Alfonso... - Mexeu nos cabelos - O que achou?

— Não é nada do que você está pensando. Calma, eu posso explicar! - Ele disse com a mão estendida em sua direção.

— Mas eu não falei nada - Deu de ombros sem esconder a ironia - Desculpe ter chegado assim sem avisar - Fez uma careta - Não queria ter atrapalhado vocês.

— Anahi... - Ele começo a falar, mas ela o interrompeu.

— Não se dê ao trabalho Alfonso - Estava com a voz firme - E tente recuperar um pouco a compostura... - Disse sinalizando a sua roupa - Prometo nunca mais interrompê-los. - Ela apertou a bolsa com força e girou os calcanhares caminhando depressa pelo corredor.

— Anahi espere! - Gritou apavorado enquanto tentava ficar apresentável para poder ir atrás dela.

  Ela não parou, muito pelo contrário, continuou andando ainda mais rápido e quando as portas do elevador se fecharam, logo atrás de si, ela respirou fundo. Não iria aguentar aquilo... nunca.

  Ao chegar no térreo, saiu do elevador e pegou a chave do carro na bolsa de Dulce.

— Anahi! - Alfonso gritou alguns metros atrás dela.

  Ela não parou, apenas ergueu o queixo e continuou andando depressa. Alfonso corria, e Anahi sabia que ele devia ter descido pelas escadas do prédio. Ela estava nervosa demais e demorou mais tempo do que pretendia com a chave, para destrancar a porta do carro. Quando sentou-se no banco trancou todas as portas e ligou o motor. A mão grande e pesada de Alfonso bateu no vidro com força.

— Vamos conversar, por favor! - Pediu quando chegou até a janela do carro ofegante.

— Não temos mais o que conversar. - Ela garantiu e viu pelo espelho retrovisor Christopher, Dulce e Maite também correndo na direção deles.

— Desça desse carro e vamos conversar por favor! A Dana está louca, ela...

— Deixe eu adivinhar: ela te agarrou, te beijou tirou a própria blusa e abriu o seu cinto.

— Isso! - Gritou com ênfase - Eu não pude fazer nada.

— Sim, claro, afinal você só é dez vezes maior e mais forte que ela! Agora saia de perto do carro, caso contrário não pensarei duas vezes antes de passar por cima do seu pé. - O alertou.

— Você vai para casa?

— Sim. Vou para minha casa.

— Ótimo... - Disse respirando fundo - Vou pegar o meu carro e nos encontramos lá.

— Acho que você não entendeu... Eu disse a minha casa, não a sua.

  Todo o corpo de Alfonso tremia de pavor:

— O que isso quer dizer?

— Não aguento mais Alfonso. Estou indo embora. - Disse sentindo as malditas lágrimas caírem de seus olhos e a voz ficar trêmula de repente.

— Não - Gritou dando outro tapa no vidro - Abra esse carro! Você não pode ir embora! Não pode me deixar!

— Não se preocupe - Pediu respirando fundo - Vou deixar que diga para a imprensa que foi você quem pediu o divórcio e quanto ao dinheiro, os quinhentos mil de adiantamento, eu prometo devolvê-lo assim que puder e...

— Que se dane! - Gritou batendo a mão no vidro novamente - Você não pode me deixar, eu te amo!

  As três palavras que Anahi tanto quis ter ouvido nos dois meses e meio que haviam se passado, agora a machucavam como facadas. Reunindo todo o resto de resistência que ela ainda tinha, falou:

— Isso foi um acordo entre nós, fez sua parte e agora o acordo acabou, então por favor saia de perto do carro!

— Anahi! Volte! - Gritou enquanto ela manobrava o carro e arrancava em direção a autoestrada.

— Alfonso? - Christopher gritou parando ao seu lado - O que houve?

— A vadia da Dana! - Gritou sentindo a voz falhada e vendo o carro de Anahi se afastar cada vez mais - Eu... fiz o que a Anahi pediu, eu a despedi e então ela riu e tirou a blusa, se jogou em cima de mim e começou a me beijar, abriu o meu cinto e alguns botões da minha camisa, quando eu consegui afastá-la Anahi estava parada na porta nos olhando - Ele disse passando as mãos nos cabelos e tendo a sensação que logo seu coração se partiria em dois - E agora ela foi embora! O que vou fazer Christopher? Meu Deus eu a amo, como não percebi antes?

  Já há alguns quarteirões dali, Anahi ultrapassava um sinal vermelho enquanto as lágrimas lhe nublavam a visão e os soluços lhe invadiam os ouvidos como uma melodia dramática e triste.

  Não queria mais ficar naquele lugar... naquela cidade. Queria voltar para casa. Para o mundo onde ela podia ter o controle das coisas, ou de quase todas as coisas. No mundo onde Alfonso jamais a acharia...

5/5

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