Capítulo 48

1.3K 93 2
                                    

  Quando Anahi acordou teve a certeza de que nunca na vida havia acordado tão... esgotada. A luz que refletia na janela não era do sol, e sim da lua, indicando que ainda não havia amanhecido. Ela se virou na cama tentando achar alguma posição confortável e foi a mais pura perda de tempo.

  Como uma última tentativa ela espichou todo o corpo se espreguiçando, e foi quando sentiu uma fisgada na perna, e logo outra... e outra.. até ter certeza que aquilo era uma câimbra. Mordeu o lábio inferior. Não iria gritar! Se recusava a gritar. Ainda se lembrava muito bem da última vez que fora vencida pelas cãibras e gritara pedindo ajuda a Alfonso. Porém não agora... não com eles brigados. Era orgulhosa demais para isso. Gemendo de dor, ela começou a massagear a própria perna até que o músculo parasse de se contrair.

  A dor era insuportável! Ela e o seu maldito problema com o potássio!

  Assim que as dores diminuíram, ela desceu as escadas e foi até a cozinha. Tomou água, comeu algumas bananas e teve a certeza de que o sono não voltaria. Pegando o controle da televisão e se deitando no sofá, em meio a casa completamente escura, ela a ligou e abaixou o volume até que somente ela pudesse ouvir. Procurou por alguma coisa interessante começou a prestar atenção em uma novela que passava, até um certo momento em suas pálpebras pareceram pesar uma tonelada, e ela jogou a cabeça para trás respirando fundo e fechando um pouco os olhos... só um pouquinho.

  Porém foi somente isso que precisou para que ela dormisse profundamente, ali, com a televisão ainda ligada. Ela estava com a cabeça jogada pra trás, com a boca aberta e numa postura nada confortável, e foi exatamente assim que Alfonso a encontrou pela manhã, quando desceu as escadas atrasado para ir a empresa.

— Anahi? - Ele disse para se certificar que ela dormia. Ela nem se mexeu e ele foi obrigado a rir.

  Como alguém conseguia dormir naquela posição?

  Ele olhou o relógio.. já devia ter saído de casa... mas como sairia e a deixaria ali? Tão... mal acomodada?

  Ele se aproximou e chamou duas, três, quatro vezes e nada.

— Anahi, acorde! - Lhe cutucou o braço, lutando com o desejo primitivo de lhe beijar a boca - Anahi acorde! - Ele ficou repetindo até que ela fechou a boca, engoliu a saliva e abriu os olhos.

  Ela piscou duas vezes e conseguiu distinguir o teto da sala de estar... Ela havia dormido no sofá.

— Acordou? - A voz de Alfonso lhe inundou os ouvidos. Apressada ela tentou olhá-lo, mas soltou um grito quando tentou mexer o pescoço - O que foi? - Ele quis saber já com os olhos arregalados.

— Meu pescoço - Disse com calma - Acho que tive torcicolo. - Ela começou a massagear o próprio pescoço.

— Não me admira. Veja a posição que dormiu. - A repreendeu.

— Eu só fechei os olhos por alguns instantes. - Se defendeu.

— Você sempre fala a mesma coisa. “Eu só fui descansar os olhos”, “Eu só fechei por um momento os olhos” - Imitou sua voz.

  Não querendo outra discussão entre eles, Anahi revirou os olhos e se levantou do sofá continuando a olhar para cima, para que o pescoço não doe-se:

— O que vai fazer? - Ele quis saber.

— Eu vou subir até o meu quarto e pegar uma pomada que está em cima da penteadeira, para ajudar com a dor. - Disse ainda andando e olhando para cima.

— Nada disso... - A agarrou pela cintura e a fez sentar novamente no sofá - Eu mesmo subo e pego a tal pomada.

  Ela pensou em discutir, realmente pensou, mas ele já estava subindo as escadas de dois em dois degraus, apressado, dizendo a si mesmo que não tinha nada de mais ajudá-la mesmo estando atrasado. Afinal qualquer um faria isso...

  Ele entrou no quarto e sentiu o cheiro dela queimando suas vias nasais. A cama estava desarrumada e um roupão também estava jogado ao chão.

  Ignorando a primeira gaveta aberta, onde podia avistar as calcinhas e sutiãs, ele foi até a penteadeira e encontrou a tal pomada que tinha no rótulo o enunciado “dores musculares alívio imediato”.

  Ele voltou a descer as escadas, surpreso por ela continuar sentada no sofá.

— Aqui está. - Anunciou lhe entregando o remédio.

— Obrigada. - Pegou a pomada, espalhou um pouco nas mãos e iniciando uma massagem pelo próprio pescoço.

  A substância tinha um cheiro terrível, mas Alfonso nem percebeu, estava ocupado demais vendo-a se massagear. Como estava com vontade de beijá-la... Sentiu um comichão na virilha e logo tratou de mudar de assunto:

— Por que você dormiu no sofá? - Fez a primeira pergunta que veio em mente.

— De madrugada eu tive cãibras, desci para tomar água e acabei deitando no sofá para ver televisão - Deu de ombros - Acabei dormindo.

— Você teve cãibras? - Perguntou parecendo surpreso.

— Sim.

— E por que diabos não me chamou? Ou gritou como da última vez? - O tom de sua voz era bravo.

— Não achei que fosse preciso - Mentiu - As dores não foram tão fortes assim. - Disse já podendo mexer melhor o pescoço.

— Ok - Disse irônico - agora conta a verdade. Quantas vezes vou ter que te falar que você não sabe mentir?

— Mas essa é a verdad... - Ela se interrompeu suspirando, quando por fim conseguiu mirá-lo nos olhos. Não tinha como mentir - Eu não quis te chamar porque você está bravo comigo... E que não quer falar comigo.

  Ele suspirou pesadamente, esfregando as mãos no próprio rosto.

— Eu estou atrasado agora - Anunciou mudando completamente de assunto. Ele não havia ouvido o que ela acabará de dizer? - Você ficará bem se eu for, ou quer que eu fique e lhe ajude com o torcicolo?

  “Idiota, idiota, idiota desde aquela maldita vaga no estacionamento!”

— Não, eu ficarei bem. - A voz dela saiu mais estrangulada do que ela gostaria.

— Tudo bem - Disse parecendo dividido entre ficar e partir - Tenha um bom dia.

  Alfonso pegou a sua maleta e saiu pela porta, a deixando ali, sozinha...

  Ela prometeu a si mesma que não iria chorar, mas quebrou sua promessa assim que os olhos já não puderam segurar tantas lágrimas e o peito pareceu sufocar implorando por um soluço de choro sentido.

Um amor por contrato Onde histórias criam vida. Descubra agora