Intocável

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BEATRIZ 🌪

O morro tá basicamente em guerra tem 3 dias, todos esses dias está tendo invasão, é um saco. Estou até na casa do Luan, já que quebraram tudo da minha casa.... os comércios tudo fechado, o clima é dos piores. Todo dia ainda tem fake falando que fulano e ciclano morreu, alarmando a família a toa.

Fiquei puta de verdade, porque tudo que tinha ali quem comprou tinha sido eu! Com excessão da casa, mas de resto foi eu quem soei pra pagar cada centavinho. Mal de todo mundo é achar que sou sustentada pelo Luan.

Só que tenho certeza que Deus vai me recompensar. Única coisa que me incomoda de estar aqui é a falta da minha privacidade, eu tava acostumada a morar sozinha, fora que a Miriam tá chatíssima. Gravidez deixa as pessoas assim.

Vi meu a tela do meu celular brilhando, olhei e tinha 2 pessoas me mandando mensagem, Vk e Escobar.

Escobar: vc tá tranquila?
Escobar: bagulho aí tá feio, fiquei sabendo do bagulho da sua casa

Bia: to bem, como vc soube?

Escobar: teu irmão já falou contigo?

Bia: sobre?

Escobar: isso responde minha pergunta, daqui a pouco tu vai saber
Escobar: mas aí, se cuida, não sai de casa não. —sorri.

Bia: pode deixar
Bia: mas sobre o que meu irmão falaria comigo?

Escobar: papo de vocês, vou sair do ar

Bia: tá bom

Escobar: te cuida

Bia: vc tb

________

Vk: Bia?

Bia: diga

Vk: desculpa por ter sido grosso com vc

Bia: de boa, só vc precisa entender que nós somos só amigos

Vk: já entendi isso agora, tô em outra

Bia: ok

WHATSAPP OFF

Miriam: tô te chamando Bia, tá ouvindo? — me cutucou.

Bia: oi. —desliguei o celular— tá tudo bem?

Miriam: tá sim, vamos jantar, seu irmão quer falar contigo.

Era um milagre ele estar aqui em casa hoje, até porque de manhã teve trocadão de tiro e nesses dias tudo ele se manteve mais na rua do que em casa.

Calcei minha sandália e desci vendo Luan e Maurício sentados na mesa comendo já. O outro entrou de vez nessa vida, minha mãe que surtou. Sentei junto e coloquei minha comida.

Bia: vai comer não? —olhei pra minha cunhada.

Miriam: seu sobrinho não deixa... se eu como vomito, tô passando muito mal o dia todo.

Deus me livre engravidar cara, Miriam tá sofrida aí, só vive vomitando. Tenho muito medo mesmo.

Ogro: Você e a Miriam vai tem que sair da favela, não sei quanto tempo vai durar e tu Beatriz, tá na mira da polícia, melhor se afastar do morro por um tempo. — Falou rápido.

Luan nunca deixou explícito que nós éramos irmãos, pra não ter perigo de um dia me acusarem de associação ao tráfico. Mas se eles caçar um pouquinho, acham. Até porque temos o mesmo sobrenome e andamos juntos direto.

Bia: como assim? Pra onde a gente vai?

Ogro: pra uma favela aliada, arruma as coisas de vocês, vão sair de madrugada.

Bia: não é assim as coisas, você não pode me mandar pra outra favela só porque você quer. Eu tenho uma vida aqui...

Maurício: para de ser infantil porra, vê a situação. Tu não pensa em ninguém, só em você. Já imaginou se tu morre aqui? Como a mãe vai ficar? A gente, hm? Ou se tu vai presa? —disse ignorante e eu ri.

Bia: você tá falando que eu sou egoísta? —ele assentiu— logo você dizendo isso? Quando nosso pai morreu, que a nossa mãe entrou em depressão, aonde você tava? Você fugiu, pensando somente em você, seu egoísta de merda. — gritei mesmo — Luan é muito otario de dar um cargo bom pra você, já que você julgava tanto ele por estar nessa vida. —desabafei e subi pro quarto aonde eu estava dormindo esses dias.

Ele não tinha o direito de me julgar, não mesmo!

Ogro: tá mais calma? —entrou no quarto, fechou a porta e sentou no pé da cama e eu assenti — eu dei uma oportunidade pra ele, porque ele é nosso sangue Beatriz. Independente do vacilo que ele deu. E tu também é meu sangue e sabe que faria de tudo por você, posso ser bem possessivo as vezes, mas é pra te proteger, tu é minha irmãzinha. Tô mandando tu pra outro lugar só o tempo da favela se acalmar e a polícia te tirar da mira, eu vou resolver isso e vocês voltam pra cá. Tu acha que eu queria a minha mulher grávida longe de mim? Lógico que não pô.

Bia: e aonde eu vou ficar? —disse mais calma.

Ogro: na maré, já arrumei uma casa pra tu e pra Miriam. Arruma tuas coisas, só o necessário e de madrugada a gente sai. —ele levantou— depois fala com Maurício.

Bia: eu não, não vou pedir desculpas a ninguém, não disse nenhuma mentira. —ele balançou a cabeça negando.

Levantei suspirando e peguei 3 malas bem grandes, eu tinha que levar tudo que preciso, comecei a arrumar as coisas. Quando acabei eu me sentei e fiquei conversado com a minha mãe, ela estava bem preocupada com nós quatro, mas eu acalmei ela e expliquei toda situação.

Provavelmente eu não poderia ficar na casa da minha mãe se não acabaria levando ela pra mira da polícia também, e na pista de jeito nenhum eu estaria segura. Pelo contrário, mais vulnerável ainda.

Quando deu 03h da manhã a gente saiu daqui do morro, estava tudo vazio, era estranho ver aqui assim no fim da semana, já que sempre estava cheio de gente.