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RAYSSA 🫀

Nós estávamos nessa pousada já tinha 2 semanas cara, 2 semanas sem notícia nenhuma deles. Era angustiante passar por isso, foi exatamente por essa razão que eu tinha metido o pé do Rj, porque eu não aguentava toda invasão isso, é foda demais cara.

Consegui falar pouquíssimo com a minha tia, ela disse que o Vinicius mandou ela pra casa de uns parentes no interior naquele mesmo domingo e que depois não deu mais notícia.

E eu só me pergunto o por que do Vinicius ter ido atrás de vingança sabendo que ia causar tudo isso cara, entendo que era amigo dele e tals, mas mesmo assim pô, agora quem tá correndo risco de morrer é ele, era só questão de tempo pro sistema reagirem e virem pra cima de vez.

Lorena estava aflita também, só que a diferença é que o R3 ainda ligou pra ela algumas vezes, não muitas, mas ligou pra avisar que estava vivo e o que mais fode a minha cabeça é que ele não fala nada do Vinicius cara, por causa de que??

Eu só peço pra Deus proteger muito meu primo, que ele saía vivo dessa confusão toda.

Rayssa: Beto, tem notícia dele? —o mesmo continuou com o olhar firme pra frente e balançou a cabeça negativamente— tenta entrar em contato porra, eu tenho certeza que se a gente ainda está aqui é a mando de alguém, alguém que você tá tendo contato.

Beto: papo reto Rayssa —me olhou com aquela cara seria dele— o bagulho não é brincadeira não, o negócio tá feio. Se eu não tô falando nada, é porque não tenho ordem pra isso. Quando for a hora vocês vão saber porra.

Rayssa: saber o que? —ele continuou calado— Beto? Pelo amor de Deus cara, saber do que?

Ele ficou calado enquanto eu praticamente implorava pra ele me dar uma notícia, que seja.

Entrei puta no meu quarto e me joguei na cama, estava sozinha. As grávidas estavam lá embaixo se alimentando e eu sem fome fiquei por aqui mesmo.

Liguei a tv e de imediato tava passando sobre as invasões que estavam ocorrendo simultaneamente na Nh e no Cpx Alemão.

Rayssa: por favor, pai. Proteja todos que estão no meio dessa guerra. Ajude os meus saírem vivos disso, eu sei dos pecados deles, mas mesmo assim eles não merecem a morte, senhor! —clamei baixinho e peguei o controle pra aumentar o volume.

Xx: A Maré e o Complexo do Alemão está em guerra total com o sistema, isso porque os responsáveis pela morte do policial Fábio Soares Machados, se escondem dentro dessas duas comunidades. O conflito atualmente ocorre como uma maneira dos traficantes mostrarem resistência por causa da morte de um dos líderes do tráfico de droga da comunidade Nova Holanda, Vinicius Moraes, um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro. A morte ocorreu há três dias atrás e mesmo assim os bandidos não desistiram de confrontar os policiais que estão ali prestando seu serviço. É realmente lamentável!

Na mesma hora não acreditei naquilo que ouvi, meu coração disparou e meus olhos encheram de lágrimas. Isso só podia ser mentira.

Rayssa: BETO. —gritei e ele entrou rápido me olhando assustada— diz por favor pra mim, diz que é mentira cara. Fala que meu primo tá vivo e que isso que eles falaram era uma mentira ou um erro. —apontei pra Tv.

Ele me olhou e abaixou o olhar, na hora entendi e comecei a chorar. Eu não podia estar acreditando nisso, não mesmo!

Ele tinha acabado de descobrir que ia ser pai, estava mega feliz, estava com um brilho incrível. Ele tinha encontrado a mulher que ama, tava começando a construir sua família, não pode ser cara!

Até ontem eu estava rindo e conversando com ele, na maior gastação, então não consigo simplesmente acreditar que ele morreu assim, não mesmo!!

Beto: calma aí Rayssa —se aproximou e me abraçou— respira cara, tu tá ficando vermelha. Senta na cama e respira.

Rayssa: meu primo, meu irmão, meu sangue morreu Beto. Você quer que eu respire como? Isso não era pra tá acontecendo cara. A mulher dele, minha tia, meu tio, meu Deus, como eu conto pra eles? Não da!!

Ele fez toda a força do mundo e me levantou do chão e me levou até a cama. Pegou um copo de água e foi dando na minha boca aos poucos.

Beto: não era pra você ficar sabendo assim.

Rayssa: ele morreu tem três dias cara, como que vocês escondem isso da gente? —falei ofegante em meio de monte de soluços— isso não é coisa que se faça.

Beto: tive ordens pra não falar nada, não queria assim, mas teve que ser desse jeito. Você não pode abrir a boca pra patroa agora, por isso tu tem que se acalmar.

Rayssa: ela é mulher dele, merece saber.

Beto: e vai ficar sabendo, mas na hora certa. Tu acha que ela grávida vai conseguir lidar com essa notícia aqui? Longe da família dela? Lógico que não!

Ele tinha razão por esse lado, mas eu não ia conseguir esconder isso dela e muito menos esconder o que tô sentindo. Na hora que a porta abriu ele desligou a tv e eu limpei meus olhos e respirei fundo.

Lorena: tá tudo bem?

Rayssa: tô, só tive uma crise de ansiedade —disse engolindo todo o choro e uma dor no meu peito surgir— Beto já me ajudou.

Beto: licença então, qualquer coisa tô aqui fora. —disse me olhando e eu concordei.

Bia: quer cara de choro é essa? —entrou no quarto também.

Rayssa: já foi, só uma crise.

Ela insistiu, mas eu mudei de assunto rápido, porque eu não ia aguentar segurar por muito tempo.

Rayssa: e essa sacola aí?

Bia: comprei a primeira roupinha do baby. —abriu a sacola e tirou um body pequenininho branco escrito "filho em perigo" e uma camisa masculina grande escrita "pai de primeira viagem" —bem clichê mesmo, mas tô doida pra ver a cara do Vinicius dentro dessa blusa —riu— vai ficar a coisa mais engraçada do mundo ele vestido assim e o neném no body. —disse toda animada sorrindo boba.

Rayssa: é. —foi a única coisa que eu disse e me levantei— já volto.

Ver ela falando aquilo tão feliz, com os olhos brilhando e um sorriso no rosto acabou comigo.

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